A Polícia Federal (PF) encaminhou nesta quarta-feira (14) à Justiça Federal uma prévia do segundo inquérito que investiga a facada contra o presidente Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, durante sua campanha eleitoral em 2018. No entanto, o inquérito ainda não foi concluído. Para a apuração ser finalizada, os investigadores aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar quem financiou o pagamento dos advogados de Adélio Bispo.

Segundo o delegado Rodrigo Morais, responsável pelas investigações, esse relatório parcial conclui que Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada contra Bolsonaro, agiu sozinho. "Até o momento, a gente não consegue afirmar que houve participação de terceiros. Então, todas as hipóteses de participação de terceiros foi afastada". 

Conforme Morais, resta pendente a questão do financiamento da defesa de Adélio Bispo. Mas, essa parte da investigação foi paralisada porque a legalidade das buscas realizadas pela PF no escritório do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior foram questionadas na Justiça.

“A única diligência pendente é a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em relação à possibilidade da Polícia Federal analisar ou não o material apreendido com o advogado do Adélio, além da quebra de sigilo bancário do advogado para conseguirmos identificar quem foi que financiou a defesa, se é que existe essa pessoa e, se existir, qual é a finalidade”, explica.

O caso foi judicializado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Minas Gerais, que entrou com mandado de segurança junto Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) para que o advogado não fosse obrigado a informar quem pagou seus honorários. O pedido foi acatado e as investigações suspensas sob o argumento de que violariam o sigilo profissional do advogado.

Já em março deste ano, atendendo a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), o TRF-1 remeteu o processo ao Supremo, onde o caso está pendente de julgamento.

Procurado, o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior disse que sobre as conclusões já obtidas pela Polícia Federal até agora não trazem qualquer surpresa. "Ainda não tive acesso ao relatório final, mas soube que o inquérito concluiu que ele agiu sozinho, o que ja era esperado".

Já sobre a investigação sobre a defesa de Adélio, Oliveira Júnior informou que a PF apreendeu imagens dos circuitos interno e externo de segurança de seu escritório e fez o “espelhamento” do conteúdo de seu celular. “Acredito que a perícia no celular já foi feita”. Ele também afirma que prestou dois depoimentos antes das investigações serem interrompidas. 

Ele afirma que a pessoa que o procurou para contratá-lo para defender Adélio Bispo pagou apenas uma das cinco parcelas de R$ 5 mil. Outros R$ 20 mil não foram pagos. “Eu continuo falando que a pessoa que me pagou, só me deu a entrada, e não teve mais contato conosco. E, caso seja do desejo dela quebrar o anonimato, é só entrar em contato”.

Obsessão por mandante

Mesmo com a conclusão do primeiro inquérito, o presidente Jair Bolsonaro já insistia na possibilidade de que há um mandante por trás da tentativa de homicídio sofrida por ele. Inclusive, esse teria sido um dos motivos de suas críticas à Polícia Federal, e que acabaram culminando no pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que o acusa de tentativa de interferência nas investigações da corporação.

O caso Adélio, inclusive, foi citado por Bolsonaro na coletiva que concedeu após a saída de Moro. Alguns dias depois, ele voltou ao assunto em entrevista a jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada. Na ocasião, ele voltou a defender que a PF, agora sob novo comando, reabra a investigação da tentativa de assassinato contra ele. "Eu não tenho provas, tenho sentimento. O que for possível a Polícia Federal fazer, dentro da legalidade, para apurar quem pagou o Adélio para me matar, vai fazer", afirmou. 

Adélio Bispo está preso em um presídio federal em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. No ano passado, a Justiça Federal o considerou inimputável por transtorno mental, e a defesa do presidente da República não chegou a recorrer da decisão. Ele foi diagnosticado com transtorno delirante persistente.

Em março deste ano, Bispo teve sua transferência autorizada para um "local adequado" em Minas Gerais para o cumprimento da medida de segurança aplicada contra ele. No entanto, segundo o advogado Zanone Oliveira, a transferência não ocorreu por causa da pandemia de coronavírus.