Política em Análise

Dos males, o menor

Presença dos militares é positiva ao esvaziar poder dos olavistas

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 15 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Nem todo mundo no Congresso gostou de ver militares assumindo todas as funções relevantes no Palácio do Planalto. Muita gente avalia que essa entrega direta do Poder às Forças Armadas não combina com um país moderno e que ainda se ressente do trauma da ditadura militar. De fato, o ideal seria que esse poder não ficasse tão concentrado. E chega a ser engraçado imaginar que um militar comanda um órgão chamado Casa Civil. Mas, no caso específico do atual governo, a forte presença militar é dos males o menor.

O fortalecimento do grupo de pessoas oriundas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica significa, necessariamente, a perda de força de uma ala que causa muito mais problemas e constrangimentos para o governo e para o país. É a dos ministros “olavistas”, como são chamados os seguidores do autodeclarado filósofo Olavo de Carvalho, uma figura que emergiu dos bastidores, circulou do jornalismo à astrologia, passando pelo terraplanismo, e que comanda uma política odiosa contra qualquer um que cruze seu caminho na ânsia de poder.

À exceção do general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que tem deixado parte de sua biografia arranhada por declarações exageradas e por ajudar a promover a lamentável divisão do país, é fato que os ministros militares são, hoje, os que menos procuram polêmicas sob os holofotes e trabalham mais focados e disciplinados naquilo para o que foram escalados.

Assim se dá com Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, que já citei algumas vezes aqui, neste espaço. Quando aparece na mídia, é para anunciar alguma obra, acompanhar algum trabalho ou dar previsão de algum investimento no país. Raramente se vê o ministro criticando gestões anteriores ou outras figuras públicas.

Assim se dá também com Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, que parece menos preocupado em aparecer e mais focado nas articulações que tentam salvar a péssima reputação do grupo de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional. Ele sucedeu Carlos Alberto dos Santos Cruz, que, da mesma forma, deixou o governo sem que tenha criado efetivos constrangimentos ao governo e ao país.

Mesmo o general Hamilton Mourão, na função de vice-presidente, deixou de lado as polêmicas e impropérios que dizia ainda nos tempos da campanha, mostrando que sabe que, em um cargo público, homens precisam medir suas palavras e agir com o mínimo de decoro.

Os olavistas, por sua vez, só têm seus nomes alçados à relevância quando se metem em polêmicas. Casos de Abraham Weintraub, que faz suas trapalhadas no Ministério da Educação; Ernesto Araújo, que causa transtornos permanentes à imagem do país no comando das Relações Exteriores; e Felipe Martins, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República e figura por trás da estratégia de isolamento do país no cenário internacional. Se é para esvaziar o poder dessa ala de governo, militares, sem dúvida alguma, mais ajudam que atrapalham.

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