Dentro do Poder Executivo atualmente, parece haver dois governos que parecem não jogar o mesmo jogo e isso ficou muito claro na virada da última semana em Brasília. Enquanto o “governo econômico” prometia acelerar o envio e aprovação das reformas no Congresso Nacional, o “governo ideológico” sabotava as pontes com o Parlamento praticamente ao mesmo tempo.

Aconteceu entre quinta-feira e sábado. De um lado, Paulo Guedes até deixou a viagem aos Estados Unidos de lado para dar atenção ao texto da reforma tributária. Prometeu fazê-lo após ser cobrado pelo empresariado, assustado com o baixo crescimento da economia e a disparada do dólar. Nem sabia ainda que, nesta segunda-feira, os mercados iam derreter de vez com a crise de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Sim, como dissemos aqui nesse espaço que aconteceria, a instabilidade do cenário econômico fez o governo acordar para a necessidade de acelerar as reformas. Não apenas a tributária, mas também a administrativa.

Mas enquanto Guedes dava retoques no texto das mudanças tributárias, tema já discutido no Congresso por meio de propostas paralelas da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro dinamitou o trabalho conjunto ao convocar, mais uma vez, e dessa vez diretamente, manifestações contra o Congresso Nacional e o STF. A cúpula dos demais Poderes irritou-se profundamente. Principalmente após ouvir recados do presidente de que esse tempo de confronto já passou. O resultado: uma semana que tinha tudo para ser positiva após o acordo em torno do Orçamento, que marcaria a reação da área econômica do governo, começará mais uma vez tensionada, principalmente considerando que as manifestações convocadas pelo presidente acontecem já no próximo domingo.

Meu palpite, mais uma vez, é que o Congresso cozinhará mais essa crise em banho-maria, esperando passar essa semana e, com ela, as manifestações. Por isso, já há ministros aconselhando Bolsonaro a deixar as manifestações de lado. A partir da próxima, as reações no Parlamento começarão a vir. E não vai ser bom para ninguém.