A análise da primeira pesquisa DataTempo/Quaest para a Prefeitura de Belo Horizonte mostra que o prefeito Alexandre Kalil conseguiu suplantar a polarização hoje existente no Brasil e larga com uma folga que dificilmente será tirada pelos seus adversários. A vantagem é tanta que, para não ser eleito no primeiro turno, o prefeito teria que perder cerca de um terço de seus apoiadores em 40 dias. Isso, tendo aprovação recorde, o que torna a tarefa dos rivais ainda mais complicada.
Quanto à vantagem, embora os números mostrem 53% de intenções de voto, quando olhamos só as posições que citam os candidatos, ou seja, fazendo uma projeção dos votos válidos, Kalil tem mais de 73% de apoio. E por isso digo que precisaria perder um terço desses votos para que a eleição não termine já no dia 15 de novembro.
Claro que não é impossível que uma reviravolta como essa aconteça, até pelo fato de que os candidatos ainda vão se tornar conhecidos. Porém, quando vemos que o bom resultado da pesquisa vem principalmente da aprovação que a administração atual acumulou, fica mais difícil crer que haverá essa virada em prol dos outros candidatos. Com 75% de aprovação e 63% de avaliação positiva, Kalil tem uma situação confortável, ainda que seus adversários cresçam um pouco com o início da propaganda eleitoral.
Pesa a favor de Kalil os bons resultados junto ao eleitorado feminino, onde atinge 56% das intenções de voto, e entre os mais velhos (60 anos ou mais). São 59% os que apontam voto no prefeito dentro dessa fatia do eleitorado, o que pode indicar um reflexo das decisões no combate à pandemia. Nesse contingente estão os eleitores em grupo de risco e que tendem a aprovar mais o isolamento proposto pela Prefeitura de BH.
Também chama a atenção o fato de Kalil estar muito forte na esquerda hoje. Ele registra 61% das intenções, contra 8% de Áurea Carolina (PSOL) e 3% de Nilmário Miranda (PT). Se esses dois crescerem muito, podem tirar uma fatia do apoio do prefeito, mas que ainda assim é forte na direita (48%) e no centro (49%). Além do mais, caso o candidato de um dos polos cresça, a tendência é haver um voto útil do outro polo em Kalil.
A rejeição do prefeito, apesar de todo o desgaste de ocupar a prefeitura e de ser a maior entre os candidatos, também é baixa (16%), o que ajuda a limitar eventual perda de apoio. Mas onde estão os eleitores que mais rejeitam Kalil? A resposta é: entre os bolsonaristas e entre os que possuem renda de mais de 10 salários mínimos. Mas mesmo nesses dois grupos a rejeição só chega a 25%. Pouco para causar estragos.
A situação confortável de Kalil contrasta com o cenário conflagrado e polarizado da maior parte das capitais do Brasil, o que indica que a construção da imagem do prefeito ao longo desses quatro anos foi bem feita. Os adversários têm 40 dias para colocá-la em xeque. A tarefa é inglória.