As revelações do empresário Paulo Marinho, de que ouviu de Flávio Bolsonaro que este foi informado antecipadamente sobre investigações a respeito de funcionários de seu gabinete, levou a crise da suspeita de interferência do presidente da República na Polícia Federal a outro patamar. Por esta versão, a família do hoje chefe do Executivo, ainda durante a campanha de segundo turno das eleições presidenciais, teve acesso privilegiado a informações sigilosas da PF e ainda foi beneficiada com o adiamento da operação para não ser prejudicado nas urnas.

Antes de qualquer conclusão, é importante pontuar que é preciso ter cautela com o que diz Paulo Marinho. Por vários motivos. O primeiro é que, como suplente de Flávio Bolsonaro no Senado, ele é o principal interessado em um infortúnio do antigo aliado. Além disso, Paulo Marinho hoje é ligado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário ferrenho de Jair Bolsonaro e provável concorrente ao Planalto em 2022. É também um candidato a prefeito do Rio de Janeiro ávido por ganhar notoriedade e divulgação. E fala de assunto antigo que, por razões que ninguém sabe, não revelou antes.

Por outro lado, Paulo Marinho foi fiel aliado de Bolsonaro na campanha. Boa parte do que se discutiu naquele período foi dentro de sua casa, onde eram gravados inclusive os programas eleitorais do então candidato do PSL. Seu relato tem riqueza de detalhes. Datas, locais, pesssoas. Tudo muito fácil de ser provado com algum empenho. Como ele próprio diz que tem provas, é possível até mesmo que possua imagens de tal encontro que teve com Flavio. A PF também teria facilidade de checar, na data, quem entrou ou saiu do prédio de sua superintendência no Rio. Além disso, outras pessoas participaram da reunião e podem comprovar ou desmentir o que disse o empresário. Um advogado, citado por ele como tendo sido procurado para defender Fabrício Queiroz, já confirmou a parte que lhe cabe. De modo que não seria nada inteligente que Paulo Marinho mentisse a essa altura, correndo o risco até de responder por denunciação caluniosa.

O fato é que as revelações de Paulo Marinho tornam o caso da interferência na PF ainda mais perigoso, não apenas para Jair Bolsonaro, mas também para toda a chapa presidencial, já que teria havido um benefício para desequilibrar o pleito de 2018. E, ainda que não haja conclusões na esfera criminal, ou que a Procuradoria Geral da República (PGR) opte por não denunciar o presidente, o estrago político é enorme. Há uma evidente perda de apoio e a quantidade de manifestantes que vão ao Palácio do Planalto a cada fim de semana prestar solidariedade ao governo está só diminuindo. Bolsonaro vive seu pior momento no governo, sem qualquer dúvida.