A aliança entre PT e PSD em Minas Gerais, que no início do ano parecia próxima de ser fechada, ficou mais distante de se tornar realidade. Os dois partidos já têm pré-candidatos ao Senado – Reginaldo Lopes e Alexandre Silveira, respectivamente – e indicaram não abrir mão da vaga nas negociações. A passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Estado na semana passada não resolveu a falta de consenso entre as siglas, e o presidente do PSD em Minas, senador Alexandre Silveira, avalia se tornar líder do governo Jair Bolsonaro (PL) no Senado.
A falta de acordo afeta diretamente a campanha ao governo de Minas do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), que tem enfrentado cada vez mais turbulências internas na sua legenda.
Apesar de petistas e aliados próximos de Kalil afirmarem que a aliança interessa tanto ao ex-presidente Lula quanto ao ex-prefeito da capital mineira, as duas siglas fazem cálculos para avaliar até onde podem ceder nas negociações.
No PT, as lideranças afirmam que não têm intenção de abrir mão da vaga ao Senado para uma chapa “puro-sangue” do PSD. Os petistas mineiros já avaliam também outras opções para formar um palanque para Lula em Minas, como o lançamento da candidatura do ex-deputado Saraiva Felipe (PSB).
Pelo lado do PSD, além de enfrentar a dificuldade em conciliar as duas candidaturas ao Senado, Kalil enfrenta também divergências internas e até mesmo rejeição por parte de alguns parlamentares, que já demonstraram não gostar do ex-prefeito. Em entrevista ao programa Café com Política, da rádio Super 91,7 FM, Kalil afirmou que não quer ter os deputados federais do PSD em sua campanha: “É um favor que eles fazem ficar do outro lado. Muito ajuda quem não atrapalha. Não farão falta nenhuma”.
No final de semana, após participar de evento ao lado do governador Romeu Zema (Novo), o senador Alexandre Silveira usou suas redes sociais para dizer que estará junto com Kalil na chapa do PSD. Ele, no entanto, não comentou sobre a possibilidade de se tornar líder do governo Bolsonaro no Senado.
Levantamento.
Pesquisa DATATEMPO feita entre 30 de abril e 5 de maio, divulgada no último dia 10, constatou que o apoio de Lula a Kalil dividiria os eleitores mineiros, mas garante um peso maior para a candidatura do ex-prefeito em várias regiões do Estado.
Para 32,6% dos entrevistados, se Kalil recebesse apoio de Lula as chances de votar no ex-prefeito aumentariam. Já para 30%, o apoio do petista diminuiria as chances do voto em Kalil. Outros 34,8% afirmaram que o apoio não faria diferença na opção de voto para governador do Estado.
“O apoio de Lula a Kalil pode ser visto em primeira análise como ambíguo, retirando do candidato quase o mesmo percentual do que traz. Nesse cenário, a associação ao Lula pode ser pouco significativa, mas há de se dar peso à sua candidatura em regiões em que o petista tem grande vantagem”, avalia Bruna Assis, analista do DATATEMPO.
'Partidos não querem abrir mão da vaga'
Na avaliação do cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo, a falta de acordo se estabeleceu porque nem Lula, nem Kalil querem “atropelar seus partidos”.
“A briga não é entre Lula e Kalil, é entre as posições do PT mineiro e do PSD mineiro. Ambos os partidos fixaram uma estratégia e não querem abrir mão dela. Por enquanto, nem Lula, nem Kalil estão se sentindo em condições de atropelar os partidos. O Kalil não controla o PSD. O Lula pode até atropelar o PT e forçar o PT em Minas a retirar a candidatura de Reginaldo Lopes, mas está tentando não fazer isso”, avalia Ranulfo.
Segundo ele, a aliança para a disputa de outubro é mais importante para Kalil, uma vez que no interior ele não conseguiu se tornar um nome conhecido e com votos suficientes para vencer a eleição. “Para Kalil, é questão de vida ou morte. Sem Lula, Kalil não tem a menor chance, Zema está muito na frente. Kalil está tomando uma surra no interior. E Lula ganha nas regiões onde Kalil é fraco, (como) no Norte”, diz.