Dia quente

Vitória de Gabriel na CMBH teve bate-boca, tumulto e acusação de compra de votos

Gabriel Azevedo venceu Claudiney Dulim por apenas um voto e acusou governistas de usarem ‘mala de dinheiro’

Por Franco Malheiro, Gabriel Ronan e Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 12 de dezembro de 2022 | 20:53
 
 
 
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Bate-boca, troca de acusações, muito empurra empurra, e vereador cercado na chegada à Câmara de Belo Horizonte. Foi nesse cenário que o Legislativo municipal escolheu nesta segunda-feira (12) o presidente da Casa para o próximo biênio. Em uma eleição de 21 votos para Gabriel Azevedo (sem partido) contra 20 de Claudiney Dulim (Avante), o dia começou com vereadores do grupo derrotado tentando invadir uma sala onde parlamentares do grupo conhecido como “Família Aro” estavam reunidos, sob acusação de estarem coagindo um vereador que poderia definir a eleição: o vereador Ramon Bibiano da Casa de Apoio (PSD).

Apesar de ser do mesmo partido do prefeito Fuad Noman, ele fechou com a oposição e definiu a vitória de Gabriel, que acabou se alinhando à Família Aro, grupo comandado pelo deputado federal Marcelo Aro (PP). Minutos antes da sessão, vereadores como Léo Burguês (União Brasil), Claudiney Dulin (Avante), Wanderley Porto (Patriotas) saíram aos berros pelos corredores da Câmara dizendo que Bibiano estava preso na sala de presidência sendo coagido pelo grupo ao qual também pertence a presidente Nely Aquino. Léo Burguês, o mais inflamado, chegou a tentar arrombar a porta da sala onde eles estavam.

Sem trégua

Já em plenário, a confusão continuou, com parlamentares do grupo que defendia a candidatura de Claudiney Dulim tentando falar com o vereador Bibiano e sendo impedidos pelos parlamentares do grupo que defendia a candidatura de Gabriel Azevedo. Um empurra empurra teve início quando Ramon Bibiano foi impedido de olhar o celular. 

“Ele foi coagido pela presidente da Casa e outros vereadores, apesar de ele querer sair de lá. Todos os vereadores o cercaram e impediram que ele pudesse fazer livremente seu voto, o coagiram e sabe lá se o que foi tratado ali dentro daquela sala”, disse Léo Burguês. 

De acordo com parlamentares aliados de Nely e de Gabriel, não houve coação e Bibiano não foi trancado em uma sala. Eles afirmaram que, na verdade, o grupo estava reunido para uma oração antes da votação. Bibiano votou cercado por diversos colegas. Nely Aquino chegou a pedir aos seguranças para protegê-lo.

Compra de votos

“Teatro. A gente pela manhã estava na sala da presidência, em um momento de oração. Os vereadores foram lá, começaram a esmurrar. Deixa eu deixar aqui sem brincadeiras, o outro candidato (Dulim) tem escrito na testa Wellington Magalhães. No cafezinho, para onde os vereadores queriam levar o Ramon, tinha uma mala de dinheiro. Houve tentativa de interferência clara do poder Executivo e de outras personalidades”, afirmou Gabriel, o presidente eleito, sem apresentar nenhuma evidência da existência da suposta mala com dinheiro na sala onde os vereadores se reúnem ao lado do plenário da Câmara.

Deputado federal eleito, Nikolas Ferreira (PL) reforçou o coro da tentativa de compra de votos. “Houve vereadores, que estavam até pouco tempo aqui (no plenário), que receberam propostas de dinheiro, de carro, de regionais, de secretarias (...) Não posso me corromper. A corrupção ainda está vigente”, declarou Nikolas. 

Voto decisivo

Apesar da surpresa dos vereadores do grupo de Fuad diante do voto de Bibiano em Gabriel, Nely Aquino afirmou que o vereador nunca esteve do outro lado e sempre garantiu que votaria com o grupo de oposição. 

“Tentaram vender que o Ramon votaria com eles, mas ele sempre esteve conosco, participando de reuniões, já tinha dado a palavra, essa que ele manteve, mesmo com inúmeras tentativas de compra deste voto”, afirmou a atual presidente.

Governistas negam mala de dinheiro

Vereadores ligados à Prefeitura de Belo Horizonte negaram tentativa de compra de votos em troca de apoio na eleição à presidência da Câmara. “Claro que não”, disse o líder de governo, Bruno Miranda (PDT). “Foi uma eleição acirrada, uma disputa voto a voto. Teve, sim, polêmica com a situação do vereador Ramon Bibiano, que parte achava que ele precisava ter liberdade de conversar com os pares no plenário e outra parte achou que ele estava sendo pressionado a ficar com o lado da chapa vitoriosa. Mas, enfim, não teve nada disso. Muita gente falou muita besteira porque os ânimos estavam acalorados”, completou.

O vereador Léo Burguês (União Brasil) disse que não houve mala. “Houve promessa, sim, de espaços políticos”.

Mudanças de candidatos 

Até domingo, Juliano Lopes (Agir) seria o candidato da chamada “Família Aro”, e Gabriel Azevedo mantinha sua candidatura avulsa. No mês que antecedeu a eleição, Gabriel chegou a se reunir com o prefeito e com vereadores da base emulando um apoio, porém, nas horas que antecederam a votação, Lopes desistiu da candidatura, e Gabriel se tornou o candidato.

“Quero entender por que, quando o prefeito convidou o deputado Marcelo Aro para fazer um acordo para acabar com a disputa e foi proposto pelo Aro que todo mundo compusesse comigo, o prefeito informou que aceitaria qualquer um, menos o meu nome”, afirmou Gabriel. 

Do outro lado, a candidatura apoiada pelo prefeito tinha como favorito o nome do líder do governo, Bruno Miranda (PDT), mas, em um consenso entre a base, os blocos do Avante e o de esquerda, o nome de Claudiney Dulim (Avante) foi escolhido como o candidato.

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