Repercussão

Zema deve pensar na governabilidade, diz Bilac Pinto após deixar o governo

Menos de 24 horas depois de anunciar a saída da Secretaria de Governo, o parlamentar conversou com a reportagem de O TEMPO

Por Fransciny Alves
Publicado em 12 de março de 2020 | 13:17
 
 
 
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Menos de 24 horas depois de anunciar a saída da Secretaria de Governo de Minas Gerais, Bilac Pinto (DEM) conversou com a reportagem de O TEMPO e declarou que somente deixou o cargo porque o governador Romeu Zema (Novo) tirou as condições de ele falar em nome do Estado ao não cumprir acordo que ele havia fechado na Assembleia Legislativa. Ele sugeriu que o chefe do Execuitvo largue "o programa partidário nesse momento" e preste "atenção na governabilidade".

Ele contou ainda que em última reunião com o chefe do Executivo disse que o Estado somente vai sair da crise econômica se a administração estadual dialogar com os agentes políticos. O então secretário retorna, na próxima semana, às atividades na Câmara dos Deputados. A oficialização da exoneração deve sair até sábado (14).

“Vão ter projetos importantes no Parlamento, como a reforma Previdenciária, o Regime de Recuperação Fiscal, a venda da Codemig. Como que eu posso fazer uma negociação desse nível com o Parlamento se na última que eu fiz ele tomou uma decisão que não foi aquela acertada? Então, ele tirou essa minha condição. Mas eu entendo isso. Ele tem razões para fazer o veto da maneira que fez”, afirmou Bilac. 

Nessa quarta-feira (11), Zema anunciou que vai sancionar parcialmente o reajuste dos servidores da segurança pública e recompor o salário apenas para este ano, estimado em 13%. O acordo costurado por Bilac previa aumentos para 2021 e 2022. 

Nos bastidores, o pedido de demissão de Bilac envolve outras vertentes, como a briga interna que há entre o Partido Novo e a ala ligada ao vice-governador, Paulo Brant, que deixou a legenda de Zema na última quarta-feira (12). Diferentemente do entendimento político de Bilac, o grupo partidário entende que não é preciso fazer negociações e conversar com o Legislativo para conseguir êxito na aprovação de reformas. 

Nessa queda de braço, o governador decidiu apoiar o Novo. Questionado se sentiu traído pelo chefe do Executivo, o político negou. Ele sustenta que a última conversa com Zema foi muito boa: “A gente tem que ter grandeza nessas coisas. O processo político é assim mesmo. Ele está fazendo opções que tem o dever de fazer, eu entendo isso e não é por ter saído da secretaria que vou jogar contra eles”.  

Esta é a segunda baixa em menos de um ano na secretaria responsável pelas articulações políticas do governo Zema. O deputado assumiu o cargo em agosto, após o então secretário Custódio Mattos (PSDB) ter deixado a gestão. Para Bilac, o caminho para o Estado aprovar textos polêmicos na Assembleia, como a reforma da Previdência, é pelo diálogo. 

Indagado se o Novo tem atrapalhado o governador nisso, ele foi sucinto: “Ele precisa chamar o Partido Novo e demonstrar para o partido que o governo tem uma guia, que é governabilidade, buscar aprovar reformas, largar o programa partidário nesse momento, que é um programa elogiável, mas prestar atenção na governabilidade”. 

O parlamentar também negou que a saída tenha ligação com a fala dada no início da semana, na Assembleia de Minas, de que a discussão sobre reajuste tomou proporções maiores por conta da imprensa e da emenda aprovada pelos deputados, que estendeu a medida para os servidores de outras categorias do Estado.

Leia a entrevista na íntegra:

Como o senhor chegou nessa decisão de pedir para deixar o cargo de secretário de governo de Minas?

Eu tomo essa decisão com muita tranquilidade. Como secretário de governo, negociei em nome do governo um reajuste das forças policiais e de segurança pública, e o governador tem a opção de fazer o veto, e até entendo, sabe? Nós tivemos fatos que sobrepuseram efetivamente quando nós fizemos o acordo, mas ele me tira a condição de falar em nome do governo. Nós vamos ter projetos importantes no Parlamento, como a reforma Previdenciária, o Regime de Recuperação Fiscal, a venda da Codemig. Como que eu posso fazer uma negociação dessa com o Parlamento se a última que fiz ele tomou uma decisão que não foi aquela acertada? Então, ele tirou essa minha condição. Mas eu entendo isso. Ele tem razões para fazer o veto da maneira que fez. Estou muito tranquilo com relação a isso, vou ajuda-lo, vou estar do lado dele no que puder, vou ajudar Minas. 

Se sentiu traído pelo governador?

De maneira alguma. Nunca me senti traído pelo governador. A minha conversa com ele foi muito boa, inclusive disse que eu estou lá para ajudar. Ontem (quarta) eu conversei com Sargento Rodrigues e pedi para ele ter prudência, olhar o exemplo do Ceará e não fazer isso com a sociedade mineira. Estou como ex-secretário, um homem que de certa forma que têm responsabilidade com o Estado e dando minha parcela de contribuição ainda que não esteja na Secretaria de Governo. A gente tem que ter grandeza nessas coisas. O processo político é assim mesmo. Ele está fazendo opções que tem o dever de fazer. Entendo isso e não é por ter saído da secretaria que vou jogar contra eles lá. 

Como o governador recebeu a decisão de pedir a exoneração?Eu não pedi uma exoneração. Foi uma conversa nossa. Nós chegamos à conclusão que a minha permanência ia ficar difícil. Conversa muito madura. O governador é uma pessoa muito sensata, elegante. 

O senhor acredita que daqui pra frente o governador precisa mudar de alguma forma essa relação com a Assembleia ou reformas importantes, como o Regime de Recuperação Fiscal, não vão passar? O senhor foi o segundo secretário de governo em menos de um ano e meio...

Acho que ele precisa buscar por meio da política, do entendimento, da negociação e do convencimento a saída para os graves problemas de Minas. É minha opinião. 

O Partido Novo tem atrapalhado ele nisso? 

Ele precisa chamar o Partido Novo e demonstrar para o partido que o governo tem uma guia, que é governabilidade, buscar aprovar reformas, largar o programa partidário nesse momento, que é um programa elogiável, mas prestar atenção na governabilidade. 

Qual balanço que faz à frente da pasta?

No ano passado, aprovamos todos os projetos que estavam na Assembleia por ampla maioria – tivemos 62% de aprovação nas votações. E como isso foi feito? Por meio do diálogo, da política e da construção. Espero que ele continue na mesma linha. Só que os projetos desse ano são mais complexos. Sentimento de dever cumprido dentro do governo e como deputado federal em Brasília vou ajudá-lo em assuntos ligados a Minas Gerais.

E como o senhor deixa a conversa com o governo federal? 

Sempre foi muito boa. A União está preocupada e queria entender as manchetes de jornais de que Minas está dando aumento na folha de R$ 29 bilhões. Nós explicamos que não é isso. Na Assembleia, inclusive, quando eu estive na Comissão de Segurança Pública se teve uma interpretação equivocada de que eu estou indo contra a imprensa, e não é isso. Expliquei que o que nos levou ao chamamento do Ministério da Economia foram as manchetes que os jornais de circulação nacional deram. Nós explicamos que não era da maneira que estava lá. Não é julgar culpa na imprensa. 

Inclusive, aquela fala do senhor causou um furor na Assembleia das emendas que os deputados aprovaram deram proporções maiores ao problema. Isso te prejudicou?

Não. De maneira alguma. A minha saída foi em função da definição do veto, não foi por causa da audiência pública e nem do que os jornais deram 

Se o senhor pudesse dar uma dica para o governador daqui pra frente na relação política. Qual seria? 

A saída de Minas dessa crise vai ser por meio da política.

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