Críticas

Zema diz que sindicatos em MG estavam acostumados com 'tipo de rachadinha'

O governador disparou uma série de críticas às entidades que são contrárias à reforma da Previdência e as acusou de serem beneficiadas na gestão do ex-governador Fernando Pimentel (PT)

Por Sávio Gabriel
Publicado em 20 de julho de 2020 | 14:02
 
 
 
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Durante live realizada nesta segunda-feira (20) para debater a reforma da Previdência em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) disparou uma série de críticas a entidades sindicais que estão contra a proposta. Sem citar nomes, o mandatário chegou a afirmar que elas estavam acostumadas a ter privilégios na gestão do ex-governador Fernando Pimentel (PT) e comparou esses supostos benefícios à prática da rachadinha. “Esse pessoal, que estava acostumado com esse tipo de rachadinha, de não sei mais o quê, é que agora fica dando do contra”, disse.

A rachadinha é uma prática criminosa na qual servidores públicos são obrigados a repassar parte de seus salários para políticos ou assessores parlamentares. É por suspeita desse crime que ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, está sendo investigado e chegou, inclusive, a ser preso. A suspeita é de que ele coordenasse um esquema de devolução de parte dos salários no gabinete do senador na época em que Flávio era deputado estadual do Rio de Janeiro.

Durante a live, o governador alertou ao funcionalismo que muitas entidades só querem visibilidade. “Sejam críticos. Tem muitos sindicalistas querendo só visibilidade, querendo só polêmica, e só fala ‘você está sendo prejudicado’. É mentira”, rebateu Zema, disparando contra as entidades e afirmando que elas estavam acostumadas a benesses na gestão de Pimentel.

“No último governo, quando o funcionário público estava sendo prejudicado, esses sindicalistas não levantavam a mão porque podiam dar um punhado de emprego para um punhado de gente da turminha deles”, disparou, em um tom mais elevado e fazendo o comparativo com sua gestão. “Eu não trouxe ninguém da minha família, nenhum amigo para trabalhar comigo. O secretário Otto Levy e Igor Eto, que estão aqui, conheci depois vim ser governador do Estado”, disse, referindo aos titulares das secretarias de Planejamento e Gestão e de Governo, respectivamente, que também participaram da live.

O governador também não poupou críticas à administração de Pimentel e disse que os sindicatos foram omissos. “Escute com reservas quando a crítica partir desse tipo de público, porque quando o Estado estava saqueando as prefeituras, estava mandando o nome de 240 mil funcionários públicos para o SPC, esse pessoal ficou calado porque o último governo dava um punhado de privilégios para eles”, disse, referindo-se ao fato de a gestão anterior não ter repassado recursos referentes aos empréstimos consignados feitos por servidores.

Reação

Representantes dos sindicatos em Minas Gerais condenaram as declarações de Zema e afirmaram que o governador está tentando desviar o foco sobre o debate da reforma previdenciária. Também cobraram que o gestor apresente provas do que falou. “É uma situação que ele fala, mas acredito que não tem como provar isso. Se houve essas situações, ele deveria apontar, porque há sindicatos e sindicatos”, disse Geraldo Henrique, diretor político do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Minas (Sindpúblicos).

O sindicalista também ressaltou que Zema é empresário e que “naturalmente” não tem apreço pelas entidades de representação de classe. “O governador, como grande empresário que é, jamais vai gostar de sindicatos e sindicalistas, que são defensores dos trabalhadores. Ele deve ser ligado à Fiemg (Federação das Indústrias de Minas), porque é o que representa ele”, disse, ironizando a fala do governador. “Acho que ele está correto quando faz as críticas, porque, afinal de contas, ele é um grande empresário, então ele não deve gostar mesmo de sindicato, até porque não damos vida boa a ele”.

Coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Denise Romano disse que o papel da entidade não é o de discutir com o governo. “Nosso papel não é bater boca com o governador a respeito de ilações. O governador não respondeu a diversas perguntas que foram feitas em relação à reforma da Previdência”, disse a sindicalista, referindo-se aos pontos criticados pela entidade, como a taxação para inativos e o fato de o governo, no entendimento do sindicato, estar punindo os servidores.

“Existe uma tentativa de nos descaracterizar como população do Estado. Também somos população e nós é que atendemos a sociedade na ponta. É fácil olhar de longe, sem conhecer a realidade numa sala de aula na rede estadual e fazer esse tipo de consideração”, disse, destacando que os servidores públicos também “usam o transporte coletivo e que às vezes trabalham de carona para economizar no dinheiro do deslocamento”.

Em nota conjunta, as polícias Civil, Penal e os agentes socioeducativos também criticaram as falas do governador. "Causa assombro e preocupação uma afirmação com a gravidade deste teor, sem a precedência de apuração e, principalmente, o esclarecimento dos fatos suscitados, tal como se preconiza o dever do Estado", diz o documento, classificando a fala de Zema como "raciocínio leviano".

Os agentes da segurança também consideraram a postura do governador como irresponsável. "É no mínimo inquietante testemunhar a irresponsabilidade de um chefe de Estado que ignora seu papel histórico e desconheça o real valor do que profere publicamente", diz a categoria, pedindo que as autoridades apurem os fatos elencados pelo governador.

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