A cantora Preta Gil, filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, morreu neste domingo (20) aos 50 anos devido a complicações de um câncer colorretal. Ela estava nos Estados Unidos desde maio realizando tratamentos experimentais contra a doença, diagnosticada em janeiro de 2023. A artista deixa um filho, Francisco Gil, e uma neta, Sol de Maria.
Preta lutou por mais de dois anos contra um adenocarcinoma, tumor maligno que se desenvolve em pólipos no intestino. Em agosto de 2024, ela revelou que o câncer havia se espalhado para quatro pontos diferentes em seu corpo. O tratamento experimental nos EUA tinha previsão de continuar até agosto de 2025, mas foi interrompido pelo agravamento do quadro de saúde.
A doença que vitimou a cantora foi identificada após exames que detectaram um tumor adenocarcinoma na região final do intestino. Este tipo de câncer se desenvolve a partir de pólipos que podem evoluir ao longo dos anos e tornar-se malignos se não forem identificados e tratados cedo.
O câncer colorretal também afetou outras personalidades conhecidas no Brasil, como a cantora Simony e os ex-jogadores Pelé e Roberto Dinamite. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), esta é a segunda neoplasia mais frequente no aparelho digestivo e a terceira com maior índice de mortalidade no país.
No Brasil, são registrados anualmente mais de 40 mil novos casos de câncer colorretal. A doença geralmente afeta pessoas a partir dos 45 anos, com maior incidência na faixa etária entre 60 e 70 anos, podendo acometer ambos os sexos.
"É fundamental a realização de colonoscopia a partir dos 45 anos em pessoas sem sintomas - ou (a partir dos) 35 anos, caso haja histórico de câncer na família. Esse exame pode evitar a doença, porque, por meio dele, é possível retirar pólipos, que são lesões presas na parede do intestino que poderiam evoluir para câncer", explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, Héber Salvador, em entrevista à BBC.
Renata D'Alpino, oncologista e co-líder da especialidade de tumores gastrointestinais do Grupo Oncoclínicas, destaca: "O primeiro passo do diagnóstico do câncer colorretal é traçar o histórico médico do paciente para a identificação de possíveis fatores de risco. O exame físico pode incluir palpação do abdômen em busca de anormalidades, como massas ou órgãos aumentados".
O câncer colorretal está associado a diversos fatores de risco, incluindo alimentação inadequada, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e histórico familiar de determinados tipos de câncer.
O médico Ricardo Viebig, diretor técnico do núcleo de motilidade digestiva de neurogastroenterologia do Hospital IGESP, ressalta que a colonoscopia transformou o tratamento da doença: "O exame passou a ser mais acessível, e as pessoas começaram a entender a importância de realizá-lo a partir dos 45 anos de idade. A detecção e a retirada das lesões pré-cancerosas (adenomas) e de lesões tumorais de tamanho reduzido ampliaram o índice de cura e têm evitado cirurgias muito agressivas ou tratamentos debilitantes".
Especialistas do Instituto de Gastroenterologia de São Paulo (IGESP) e outros centros especializados no Brasil recomendam atenção aos sintomas e realização de exames preventivos. Além da colonoscopia, outros exames como dosagem de anticorpos específicos (marcadores), tomografia, ressonância magnética e Pet Scan auxiliam no diagnóstico e tratamento.
"Muitas vezes, o tumor só é descoberto tardiamente, diante de sintomas mais severos, como anemia; constipação ou diarreia sem causas aparentes; fraqueza; gases e cólicas abdominais; e emagrecimento. Apesar do sangue nas fezes ser um indício inicial de que algo não vai bem na saúde, muitas pessoas costumam creditar essa ocorrência a outras causas convencionais, como hemorróidas, e acabam postergando a busca por aconselhamento médico e a realização de exames específicos."
"Esses tumores costumam ser agressivos e, se não tratados, disseminam-se não somente no local, mas também pelo sistema linfático e circulatório. Nessa etapa, eles geram lesões à distância, principalmente no fígado e no cérebro, além de no peritônio, o que reduz a expectativa de vida do paciente", explica a especialista D'Alpino.
O tratamento geralmente inicia com cirurgia oncológica, podendo ser complementado com radioterapia e quimioterapia. A abordagem varia conforme cada caso e o estágio de detecção, reforçando a importância do diagnóstico precoce para aumentar as chances de cura.
*Com informações, BBC News Brasil