Doença que afeta principalmente crianças de até 5 anos, a síndrome mão-pé-boca (SMPB) voltou a ser pauta após a cantora Tays Reis revelar que a filha Pietra, de apenas 2 anos, foi diagnosticada com a enfermidade. Mas, afinal, o que é o mal? 

A síndrome mão-pé-boca é uma doença infectocontagiosa transmitida de pessoa para pessoa e causada pelo vírus Coxsackie, da família dos enterovírus que habitam normalmente o sistema digestivo e também podem provocar estomatites (espécie de afta que afeta a mucosa da boca). 

As crianças são as mais afetadas, conforme o Ministério da Saúde, porque têm o hábito de levar as mãos e objetos infectados até a boca. Geralmente, a doença não é grave, mas, por ser muito contagiosa, espalha-se rapidamente em escolas e creches. 

Além disso, é mais comum que ocorram surtos em estações quentes e úmidas, como a primavera e o verão no Brasil, embora possa ocorrer durante todo o ano. A doença recebeu esse nome porque as lesões aparecem usualmente nas mãos, pés e boca. 

Sintomas

Os principais sintomas da SMPB são: febre; dor de garganta; redução de apetite; prostração; aftas na boca; manchas vermelhas que pode evoluir para vesículas, principalmente nas palmas das mãos e planta dos pés, mas também podem surgir nas nádegas, joelhos e cotovelos.

Transmissão

Infectologista e epidemiologista, Carlos Starling explica que a transmissão da síndrome mão-pé-boca ocorre pelo contato entre uma pessoa infectada e outra suscetível, por meio de secreções contaminadas. “As mãos contaminadas são uma importante forma de contaminação. Com frequência a doença acontece em forma de surtos em creches, escolas e ambientes com grande proximidade entre uma pessoa e outra com higiene precária”, esclareceu.

O médico ressalta que pessoas infectadas devem ser acompanhadas por um especialista da área da saúde e orientadas quanto aos cuidados para evitar a transmissão para terceiros. Além disso, é necessário ficar atento quanto aos sinais de complicações, principalmente infecções bacterianas e desidratação.

Tratamento

Ainda de acordo com Carlos Starling, que também é vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e Consultor Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, a doença é autolimitada, ou seja, se resolve sozinha em cerca de 7 a 10 dias. Por isso, o tratamento é basicamente com pessoas que apresentam sintomas. As principais medidas incluem:

  • Hidratação: é fundamental manter uma boa ingestão de líquidos para evitar a desidratação, especialmente se houver dor na boca que dificulte a ingestão de alimentos e bebidas;

  • Alívio da dor e febre: analgésicos e antitérmicos que podem ser usados para aliviar a dor e reduzir a febre. Não se deve usar aspirina em crianças.

  • Cuidados com as feridas na boca: enxaguantes bucais ou sprays podem ajudar a aliviar a dor das feridas orais. Alimentos frios e moles, como sorvete ou iogurte, podem ser mais confortáveis para comer;

  • Repouso: é importante que a criança descanse bastante enquanto o corpo combate a infecção.

O médico esclarece que por ser uma doença viral, antibióticos não são eficazes. “Em casos raros, complicações podem ocorrer. Portanto, é importante monitorar os sintomas e procurar assistência médica se houver piora ou sinais de desidratação”, ressalta.

Cuidados

Não há vacina para proteger contra a doença, no entanto, pode-se reduzir o risco de infecção, veja alguns cuidados:

  • Lavagem de mãos frequentemente com água e sabão, especialmente após trocar fraldas;

  • Evitar tocar os olhos, nariz e boca sem lavar as mãos;

  • Cobrir boca e nariz ao espirrar ou tossir;

  • Evitar contato próximo como beijos, abraços e evitar compartilhar copos e talheres com pessoas que estão com a doença;

  • Desinfectar frequentemente superfícies e objetos, como brinquedos e maçanetas, especialmente se houver doente.

Diferença entre SMPB e febre aftosa

Carlos Starling conta ainda que a síndrome mão-pé-boca e a febre aftosa são frequentemente confundidas por terem alguns sintomas semelhantes, mas são doenças distintas que afetam diferentes espécies.

Síndrome mão-pé-boca

Causa: Viral, causada por enterovírus, principalmente o coxsackievirus.

Afeta: Principalmente crianças pequenas, mas pode ocorrer em adultos.

Sintomas: Febre, erupções nas mãos, pés e boca, além de úlceras dolorosas.

Transmissão: Contato direto com secreções de pessoas infectadas.

Tratamento: Geralmente autolimitada, com alívio dos sintomas em 1 semana.

Febre Aftosa

Causa: Viral, causada por um vírus da família Picornaviridae.

Afeta: Animais de casco fendido, como bovinos, suínos, ovinos e caprinos.

Sintomas: Febre, vesículas e úlceras na boca e nas patas dos animais.

Transmissão: Contato entre animais infectados, através de secreções e objetos contaminados.

Tratamento: Não há tratamento específico; medidas de controle e prevenção são essenciais.

Registros da doença em Minas

Entre 2023 e 2025, Minas Gerais registrou 5.693 casos de SMPB, sem óbito confirmado em decorrência da doença. Em Belo Horizonte, a prefeitura aponta que, por não ser uma doença de notificação compulsória, não há dados de casos da enfermidade no período, somente surtos. Neste ano, até o momento, foram 60 surtos da doença no município, 20 em 2024 e 35 em 2023. 

Em caso de suspeita da síndrome, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) orienta que os responsáveis procurem atendimento médico nas seguintes situações: dor intensa, desidratação, febre persistente por mais de 48 horas (ou acima de 39°C), vômitos recorrentes, irritabilidade excessiva, cansaço, espasmos rápidos e repentinos em um músculo ou grupo de músculos (mioclonia), fraqueza nas extremidades, perda de equilíbrio ou dificuldade respiratória.

* Estagiária sob supervisão do portal O TEMPO