Você sabe para que serve a melatonina e por que ela é usada para dormir? Ao contrário do que muitos acreditam, ela não é um remédio, e sim um hormônio. O neurologista e médico do sono Welser Machado de Oliveira afirma: “A melatonina não é um remédio, ela é um hormônio produzido pelo nosso próprio organismo”. O médico também explica que ela está relacionada ao ciclo circadiano, que é o controle do corpo em relação ao dia e à noite, como um relógio interno.
É a melatonina que auxilia o organismo a regular e adaptar esse ciclo de claro-escuro. Desde outubro de 2021, é autorizado o uso da melatonina como um suplemento alimentar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há ressalvas do consumo por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requeiram atenção constante. A Anvisa comenta também que benefícios relacionados ao uso do hormônio como suplemento alimentar ainda não foram comprovados.
Segundo o endocrinologista e nutrólogo Getúlio dos Santos, a indicação da melatonina como um suplemento alimentar deve ser realizada somente por prescrição médica e quando é entendido que o paciente possui algum distúrbio relacionado ao ciclo circadiano. O médico também explica que muitas pessoas têm usado a melatonina como um indutor do sono e que isso é um erro, pois ela não intervém diretamente na qualidade do sono, somente na regulação desse ciclo. Como exemplo, pessoas que se mudam para um fuso horário diferente e precisam se adaptar a uma nova rotina.
A empresária Roberta Souza, 35, faz uso da melatonina há seis anos. Ela explica que tem dificuldades para dormir e que o uso como suplemento estimula o sono. “Quando não tomo, demoro muito para dormir. Ela não melhora a qualidade, apenas induz o sono”, afirma. Roberta dorme rapidamente, mas ainda acorda várias vezes ao longo da noite. A empresária salienta que compra apenas uma marca importada dos EUA, pois confia na agência reguladora responsável pela fiscalização e autorização de suplementos alimentares de lá. “Tomo a melatonina, desligo o celular e em menos de dez minutos já durmo”, explica Roberta.
Insônia e qualidade do sono
Estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas a insônia. Welser Machado de Oliveira afirma que a insônia é apenas um sintoma da privação do sono, que o ideal é primeiro procurar entender qual é o motivo para encontrar a melhor forma de tratamento: “Insônia não é doença, ela é um sintoma. Ansiedade, depressão, angústia e o próprio isolamento social são causadores do distúrbio do sono, e em casos como esses não adianta fazer o uso da melatonina”, explica.
Questionado sobre a eficácia da melatonina na qualidade do sono, o médico explica que ainda não existem comprovações científicas e que o assunto é debatido em congressos no exterior. Ele pontua que há defensores e opositores do tema: “Para alguns pacientes, o uso da melatonina é eficaz, para outros não funciona, por isso é tão questionado o uso da melatonina exógena, principalmente para a insônia crônica”.
A privação de sono pode provocar doenças. O neurologista também alerta que algumas das doenças podem impactar fatores sociais do indivíduo, como a sonolência durante o dia, falta de foco e diminuição colaborativa. Ele também indicou o nervosismo e a irritabilidade como consequências da falta de sono. Além dos fatores sociais, Welser listou condições que podem advir da insônia crônica: hipertensão arterial, arritmia cardíaca, aumento do risco de infarto, diabetes tipo 2.
O ideal para a população adulta, segundo o médico, é entre seis e sete horas de sono. A quantidade de horas varia de acordo com o organismo de cada indivíduo, e alguns podem dormir até menos e se sentir igualmente dispostos.
Uso para crianças deve ser cauteloso
A Anvisa, em nota publicada na última semana, proibiu a comercialização e fabricação do suplemento infantil Soninho Perfeito. No comunicado, o órgão explica que não há comprovações sobre a eficácia do produto: A medida foi adotada porque a melatonina não é autorizada para uso em suplementos alimentares destinados a crianças e adolescentes, e não há segurança de uso comprovada junto à Anvisa para essas faixas etárias.
Como há poucos estudos relacionados quanto à suplementação para crianças, o endocrinologista e nutrólogo Getúlio dos Santos explica que deve ser feito com muita cautela, principalmente pelo organismo ainda estar em formação. Já Welser Machado de Oliveira afirma que não existe uma regra. Assim como os adultos, cada criança possui sua singularidade, e devem ser avaliados os fatores genéticos e o ambiente familiar. Ele também afirma que as crianças precisam ter um ambiente tranquilo para repouso, para que sua melatonina seja produzida naturalmente.
Na mesma nota, o órgão informa que não há autorização de uso de melatonina para gestantes e lactantes, que o suplemento somente pode ser usado por adultos acima de 19 anos, na concentração de 0,21 mg por dia, e sem alegações de uso.
A situação não é a mesma para países norte-americanos e da Europa, em que o suplemento é vendido também para o uso de crianças, sem a necessidade de prescrição médica. Na Espanha é comum crianças usarem a partir dos 6 meses, afirma a empresária Edvane Santos, 55, que mora no país há 33 anos. A empresária também faz o uso do hormônio como suplemento alimentar há dois anos: “Ele não causa aquela ressaca de sono no dia seguinte, tomo 15 minutos antes de deitar e durmo cerca de seis horas por noite”.
Higiene do sono
Algumas dicas para melhorar a qualidade do sono
Rotina de sono: Ter horários definidos para dormir e acordar.
Atividade física: Praticar exercícios físicos regularmente.
Alimentação: Ter uma alimentação balanceada e evitar refeições pesadas próximo ao horário de dormir.
Ambiente: Manter o quarto escuro, silencioso e tranquilo, se possível também em temperatura amena.
Roupas: Usar pijamas mais confortáveis.
Eletrônicos: Evitar o uso de telas antes de dormir, como celulares, tablets e TVs.
Fonte: Senado Federal
* Sob supervisão de Fabiano Fonseca