Em 111 edições do Campeonato Mineiro, o América conseguiu vencer o Atlético por 5 a 0 apenas uma vez, no longínquo 11 de maio de 1919. O placar obtido à época é justamente a diferença de gols que o Coelho precisa impor ao Galo no sábado (15), às 16h30, no Mineirão, para ser campeão estadual. Em caso de triunfo americano por até quatro gols, a taça será decidida nos pênaltis.

Após a goleada de 4 a 0 no primeiro confronto, o presidente alviverde, Alencar da Silveira Júnior, jogou a toalha. Embora mandante, decidiu tirar o duelo do Independência e levá-lo ao Gigante da Pampulha. “Devido ao que aconteceu no último jogo, será complicado para o América. Por isso, não vou deixar ninguém fazer festa dentro da minha casa”, justifica o dirigente.

No jogo de ida, o Galo atropelou o Coelho e fez 4 a 0

Por tudo que envolve o confronto e a condição das equipes, uma reviravolta é algo praticamente impossível. Mas, para aqueles que creem no sobrenatural, a batalha ainda não está perdida, mesmo tratando o eventual “milagre” com ceticismo profano. “Se a gente conseguir reverter, a minha fé em Deus vai ser maior ainda do que já é hoje”, profetiza o lateral-esquerdo Marlon.

No lado atleticano, a situação favorável é irrefutável. Contudo, o técnico Cuca faz questão de reiterar o compromisso de sua equipe. “É uma grande vantagem, inegável. Mas precisamos fazer o jogo final com a mesma seriedade para sair campeão”, alerta o treinador.

Situação complicada

Alguns personagens que já estiveram dentro das quatro linhas têm opinião semelhante quanto à possibilidade de o América reverter a situação, e o Atlético deixar escapar o hexacampeonato. 

“Está liquidado! Não tem como a América fazer 4 a 0 ou 5 a 0 no Galo. O Atlético vai jogar em casa, diante de sua torcida, contra um time, teoricamente, da Série B. Infelizmente, o América entregou o título no primeiro jogo, com a falha do goleiro e a expulsão. Ali, matou o time”, analisa o ex-lateral Paulo Roberto Prestes, de 60 anos.

Paulo Roberto Prestes, ex-jogador do Atlético

Entre outros clubes, Paulo Roberto defendeu o Atlético em 504 partidas, entre as décadas de 1980 e 1990. Durante a carreira, não se recorda de ter conseguido alcançar o placar que o América precisa fazer no domingo. 

“Reverter dois gols já aconteceu, mas, de quatro, é difícil. Tanto que o América escolheu o Mineirão para o segundo jogo, porque sabe que, teoricamente, é muito difícil a virada”, aponta.

O ex-zagueiro do América Wellington Paulo, de 52 anos, jogou profissionalmente por cerca de duas décadas. Experiência suficiente para não apostar na virada do Coelho. 

“No futebol não existe impossível, mas é muito difícil o América virar. Qualquer time que faz 4 a 0, ainda mais em uma decisão, tem uma vantagem muito grande. Primeiramente, o América tem de entrar concentrado em vencer a partida. Depois, tentar fazer os gols. Mas é muito difícil”, sentencia. 

O ex-meia Tucho teve a oportunidade de jogar no América e no Atlético. A exemplo dos ex-colegas de profissão, não confia na reviravolta. Contudo, argumenta que o futebol costuma pregar peças. 

“O Atlético está com uma mão e meia na taça. A situação ficou muito difícil para o América, e o clube até abriu mão de jogar no Independência, pois está pensando mais na renda. É muito difícil para qualquer time que está disputando um título, depois de perder o primeiro jogo de 4 a 0, reverter. Mas, no futebol, já vimos de tudo. É muito difícil, mas não é impossível”, pondera o ex-atleta, de 45 anos. 

Decisão por pênaltis

Se o América vencer o Atlético por quatro gols de diferença, o título do Mineiro será definido nos pênaltis. A possibilidade, porém, não torna a missão do Coelho menos árdua. Em duelos pelo Estadual, resultado assim só ocorreu duas vezes.

Em 11 de junho de 1922, vitória por 6 a 2, gols de Gérson (3), Satyro (2) e Bolívar. O outro triunfo foi em 6 de junho de 1993, quando Euller (2), Hamilton e Flávio garantiram o 4 a 0 sobre o Galo

Em 2001, Coelho abriu vantagem e foi campeão

2001, América e Atlético decidiram o título do Campeonato Mineiro, e o Galo chegou à decisão podendo jogar por dois empates ou vitória e derrota pelo mesmo saldo de gols. No jogo de ida, o Coelho venceu por 4 a 1. No duelo de volta, o Alvinegro abriu 3 a 0, resultado que lhe daria a taça, mas Alessandro diminuiu para 3 a 1, aos 32 minutos do segundo tempo.

“Quando se chega à segunda partida com um placar dilatado, a preocupação é não relaxar de maneira nenhuma”, adverte o ex-zagueiro Wellington Paulo, capitão do Coelho na conquista de 2001. 

Wellington Paulo era o capitão do América no título mineiro de 2001

O ex-defensor conta que, em função do placar no jogo de ida daquele ano, não havia a expectativa de grande presença da torcida alvinegra, mas ocorreu o inverso. 

“O estádio estava lotado, e a torcida do Atlético fez a diferença. Tomamos um gol no início, tivemos um jogador expulso, mas conseguimos fazer o gol e levar o título”, lembra-se Wellington Paulo. 

Reviravolta na Argentina

Em 1995, o Atlético colocou uma mão na taça da Copa Conmebol, ao vencer o Rosário Central, no Mineirão (4 a 0). Na Argentina, perdeu de 4 a 0 no tempo normal e de 4 a 3 nos pênaltis.

“A situação daquela época foi muito diferente. Não teve exame antidoping e fomos nitidamente roubados. Bateram na gente, não teve policiamento. Várias coisas aconteceram em volta do hotel, buzinaço a noite toda, com a polícia ajudando. Foram coisas absurdas, uma loucura total. Muito diferente do que existe hoje em dia”, avalia o ex-lateral Paulo Roberto Prestes. (Com Anderson Gonçalves)