Falta confiança. Esse é o discurso unânime do Atlético na fase ruim que a equipe masculina vive na temporada. Após uma campanha praticamente perfeita em 2021, o time viu todo planejamento ir por água abaixo sem as vitórias dentro de campo. O resultado é praticamente um ciclo vicioso: o desempenho é ruim, as vitórias não acontecem, a confiança cai e tudo se repete.
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A reportagem de O Tempo Sports conversou com um especialista em psicologia do esporte para tentar entender os efeitos da falta de confiança do elenco e, principalmente, o que fazer para mudar esse cenário. Varley Costa, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em Psicologia do Esporte Aplicada ao Futebol, comentou o assunto.
O técnico Cuca, jogadores e diretoria alvinegra já citaram a falta de confiança como o principal obstáculo do Galo em 2022. Varley Costa explicou que a insegurança impede que o atleta se entregue 100% em campo e opte pelo mais fácil. Sem a firmeza de antes, os jogadores podem errar passes, terem medo de finalizar e até bobear defensivamente.
Sem conseguir alcançar os objetivos do ano por conta dos resultados que não aparecem, a percepção do que a psicologia chama de autoeficácia, diminui. Dessa forma, a confiança do jogador fica abalada e ele não se sente capaz de desempenhar o que já fez antes, o que já sabe fazer.
"Como não estou dentro do processo do clube, não seria ético da minha parte dizer o que aconteceu, mas o que percebemos acompanhando as informações e principalmente assistindo aos jogos é que a equipe carece de uma maior estabilidade emocional. Isso fica nítido no empate com o Palmeiras por 2 a 2 dentro do Mineirão. A equipe não teve força mental para buscar a vitória novamente", explicou.
O elenco profissional do Atlético não possui um psicólogo responsável pelos jogadores. Apenas as categorias de base do clube contam com esse serviço. Diferente do que acontece no Palmeiras, comandado por Abel Ferreira. A equipe conta desde 2020 com o trabalho da psicóloga Gisele Silva que acompanha de perto a parte mental dos atletas.
Para Varley Costa, ter um profissional cuidando disso é fundamental para evitar que o psicológico abale o desempenho da equipe. Só que o mais importante é que esse trabalho seja feito durante toda temporada, não apenas nos momentos de crise. Exercitar a segurança dos atletas é um trabalho a longo prazo.
“Você quer ir à praia em janeiro. Você não começa a malhar no dia 31 de dezembro. Todos nós sabemos que ao longo de uma temporada esportiva você vai ter momentos de dificuldade, de eliminação, mas a pergunta que fica é: o clube se preparou para passar por estes problemas? Você se preparou desde o início? Montou um programa de treinamento psicológico para fortalecer mentalmente seus atletas e ajudá-los a passar pelas turbulências?” questionou o professor.
Com foco voltado apenas ao Brasileirão, o Atlético quer garantir uma vaga direta na fase de grupos da Libertadores do ano que vem. Para isso, precisa voltar a vencer na competição nacional e subir na tabela. Uma boa sequência de vitórias, por mais óbvio que pareça ser, ajuda - e muito - na retomada da confiança.
“O grupo precisa estar fechado, porque só ele pode sair dessa situação. É importante buscar ajuda especializada, montar um trabalho principalmente com aqueles atletas do grupo com menor nível de confiança ou mais pressionados e cobrados pela torcida. Dar suporte para a comissão técnica trabalhar e teoricamente começar a vencer. Porque a partir desse momento as críticas diminuem. Se o Atlético emplacar uma sequência de três vitórias, por exemplo, isso vira pauta passada”, disse.