Em apoio ao ‘Setembro Amarelo’, mês dedicado à conscientização sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, o Cruzeiro lançou uma campanha com Matheus Pereira e Byanca Brasil, junto com a psicóloga do time, Marina Vidual. O vídeo tem como objetivo destacar a importância de se falar abertamente sobre o equilíbrio emocional. 

A capitã e camisa 10 do time feminino, Byanca Brasil, compartilhou suas experiências pessoais relembrando momentos difíceis que enfrentou enquanto estava longe da Toca da Raposa, que resultaram em um acompanhamento psicológico.

“Na minha carreira passei por momentos difíceis, passei por momentos bons, mas sempre com muito apoio da minha família, da minha esposa, dos meus amigos próximos. Teve um momento muito difícil para mim, que foi quando eu estava jogando no Santos, eu tive uma decepção com o membro da minha família. Me senti muito mal, fiquei muito mal e perdi aquele brilho e vontade de jogar futebol. Foi nesse momento que eu vi que precisava de ajuda”, revela a meia do Cruzeiro.  "As pessoas têm tabu grande com isso, acham que quem faz terapia está maluco, mas maluco é quem não vai”, completou.

Matheus Pereira, grande destaque da equipe cruzeirense também falou abertamente sobre os desafios enfrentados ao longo de sua carreira, ressaltando o valor de buscar apoio profissional nos momentos mais difíceis.

“Às vezes as pessoas criam um bloqueio, sim, porque estão passando por alguma dificuldade interior e não querem reconhecer. Elas acham que vão se sentir fracas e na realidade não é assim. Quando você reconhece que está numa situação difícil emocionalmente, psicologicamente é importante reconhecer. Você precisa entender que o profissional está ali para te ajudar, em momento nenhum ele vai te atrapalhar ou não vai te ajudar”, comentou o jogador. Não é sinal de fraqueza reconhecer que está depressivo. O profissional está ali para te ajudar, ele estudou para isso. Confie nele e no processo”, acrescentou.

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E o que antes era um tema pouco abordado, se tornou uma prioridade nas conversas sobre o rendimento dos jogadores, ganhando destaque no futebol brasileiro. Tanto atletas quanto clubes têm investido cada vez mais no suporte de especialistas, visando melhorar o equilíbrio emocional, potencializar o desempenho em campo e aprimorar o relacionamento com a equipe técnica. Médica do esporte com mais de 20 anos de carreira e passagens por clubes e confederações como Atlético-MG, América-MG, CBF e CONMEBOL, Flávia Magalhães explica a importância de se preservar o bem-estar psicológico dos atletas:

"A saúde mental no futebol nunca foi tão comentada como agora. É um assunto de grande magnitude, capaz de impactar a carreira dos atletas. Podemos ver as transformações da geração e a forma como  lidam com problemas. O crescente foco no suporte psicológico reflete as demandas atuais dos jogadores", evidencia.

Casos recentes em 2024 também ressaltam a importância da psicologia no esporte 

Raphinha, atacante do Barcelona, revelou essa semana que passou por alguns problemas na sua adaptação, mas que o acompanhamento psicológico foi extremamente importante para continuar sua carreira no clube catalão. O brasileiro também ressaltou que todos que aspiram a uma carreira como atleta profissional deveriam buscar apoio especializado. 

"Se você trabalha duro e quer ter uma carreira no futebol, não pode desistir. Tive muitos motivos para abandonar o futebol e seguir com minha vida", afirmou. "Se você não cuida de si mesmo, o futebol te destrói. É muito fácil cair em depressão e desistir de tudo", acrescentou o jogador.

Seguindo essa perspectiva, Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva do Comitê Olímpico do Brasil (COB), comenta sobre o impacto da saúde mental no desempenho dos atletas: “Para garantir um ambiente positivo, é essencial tanto apoiar as necessidades individuais dos atletas quanto estimular o crescimento do grupo. Além disso, esse acompanhamento ajuda a identificar mudanças comportamentais e fornece ao treinador informações valiosas para otimizar a estratégia da equipe.”

No mês passado, o goleiro Cássio foi mais um que mencionou a necessidade de atenção à saúde mental dos jogadores, além de afirmar que faz uso de medicamentos como parte de seu cuidado psicológico. O goleiro parecia estar insatisfeito não apenas com seu desempenho, mas também com a responsabilidade de ser culpado por tudo o que dava errado em campo quando ainda atuava pelo Corinthians. 

Ele chegou a perder a posição de titular e, um mês depois, decidiu seguir um novo caminho no Cruzeiro. “É um fator muito importante hoje para o jogador profissional. Eu frequento psicóloga, fui na psiquiatra também porque chegou um momento que eu necessitava ir, tomo medicação. Acho que no meio do futebol a gente é meio preconceituoso nesse sentido. Hoje é muito importante a questão do psicólogo, é importante porque a gente passa por muitas coisas, e eu acho que cada vez mais é importante ter pessoas para ajudar", chegou a dizer à ESPN o goleiro, que atualmente defende o Cruzeiro.

Cássio ainda apontou a necessidade da psicologia para os jovens jogadores, enfatizando que todos os clubes deveriam contar com psicólogos para auxiliar na adaptação emocional. Esse suporte psicológico é também valorizado em clubes. Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, explica: “Valorizamos as categorias de base e disponibilizamos psicólogos para que os nossos jovens atletas consigam se desenvolver da maneira ideal dentro e fora das quatro linhas. Sabemos a importância da saúde mental e desejamos que nossos jogadores tenham todo o suporte para que consigam apresentar seu talento com tranquilidade e segurança”.

Outro caso emblemático foi envolvendo Cristiano Ronaldo, considerado um dos maiores jogadores da história do futebol. O português, conhecido por inspirar a todos pelo seu pensamento vencedor, também viveu uma crise emocional. Nas oitavas de final da Eurocopa contra a Eslovênia, o jogo estava na prorrogação e o atacante teve a oportunidade de selar a classificação com a cobrança de um pênalti crucial, mas parou no goleiro Oblak, o que causou um episódio de descontrole que levou o atleta às lágrimas. 

"Estudos comprovam que a força mental responde por 70% do comportamento dos atletas. Para lidar com emoções positivas e negativas durante treinos e competições, é crucial que eles entendam como sua estrutura mental opera. Sem a devida preparação psicológica, cuidar apenas da técnica, condicionamento físico, sono e alimentação se tornam insuficientes para garantir o desempenho ideal de um atleta”, analisa Rosângela Vieira, psicóloga do Sport.

Alex Araújo, CEO da 4Life Prime, uma das maiores empresas de saúde ocupacional do país, complementa: “Além dos treinos físicos e de mobilidade, o cuidado com a mente é essencial para a excelência e a exclusão dos atletas. Em ambientes de alta competitividade, como as competições esportivas, o acompanhamento mental próximo traz diversos benefícios. Manter o foco saudável é fundamental para o desempenho dos atletas”, explica.