Administração

'Essa bola de neve de gestão emperrou o Cruzeiro', avalia Amir Somoggi

Especialista em finanças esportivas afirma que aumento de dívidas para conquistar títulos foi preço alto a se pagar

Por Fábio Corrêa e Jessica Almeida
Publicado em 07 de dezembro de 2019 | 11:40
 
 
 
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Às vésperas do jogo decisivo contra o Palmeiras, que pode salvar o Cruzeiro do rebaixamento, o podcast Tempo Hábil discute o ano da Raposa.

Confira abaixo parte da entrevista com o especialista em finanças esportivas Amir Somoggi e, se preferir, ouça o podcast completo com um raio X do presente e do futuro do Cruzeiro sob a ótica da administração e os erros cometidos de gestão pela diretoria.

Tempo Hábil:

Do ponto de vista da gestão financeira, o que aconteceu com o Cruzeiro em 2019?

Amir Somoggi:

"Na prática, o Cruzeiro, simbolicamente, ele é o que está acontecendo com boa parte dos clubes brasileiros. Que é o que? A gestão do futebol alavancada, quer dizer, gastando mais do que pode arrecadar, não pagando os impostos em dia, não pagando os salários atrasados, não pagando dívidas trabalhistas passadas... tantos problemas que acabam se avolumando num nível... Essa bola de neve de gestão acaba alimentando tantas coisas negativas que o clube acaba emperrando, como aconteceu com o Cruzeiro.

O Cruzeiro foi um dos clubes mais campeões das últimas décadas. Ele vem aumentando de forma substancial suas dívidas. Eu fiz uma conta aqui, porque, eternamente, o Atlético sempre foi o clube junto com Vasco, Fluminense, Vasco, Flamengo e Botafogo os grandes devedores, e hoje o Cruzeiro tem uma dívida que é 1,3 vez a do Atlético. 

O que temos que ter em conta? O Cruzeiro até vem sendo campeão, mas numa má administração. Isso não é mérito. Ah, o Cruzeiro é o problema! Não, o futebol brasileiro vive esse problema. Por quê? Porque se gasta muito mais do que se pode, visando um futuro que pode ser incerto. Não se sabe se vai vender jogador, não se sabe se vai lotar estádio, não se tem previsibilidade de nada, mas se gasta cada vez mais.

Então, o Cruzeiro, por exemplo, em 2018, que é o último dado disponível, gastou R$ 324 milhões com seu departamento de futebol, ficando atrás apenas de Flamengo, Corinthians e Palmeiras. Ele gastou mais que São Paulo, Grêmio, Inter, Atlético, Santos, Fluminense, Athletico-PR, Vasco da Gama. Então, o que prova que o Cruzeiro vem trabalhando de forma alavanca, porque ele não tem receitas para tanto gasto.

Quando você olha o faturamento do Cruzeiro, tirando a televisão e venda de jogador, que é onde ele se mantém, o patrocínio está em R$ 33 milhões anuais; a bilheteira R$ 24 milhões; o sócio-torcedor R$ 23 milhões anuais. Essas receitas que vem diretamente do torcedor não chegam a R$ 80 milhões de um clube que gasta R$ 320 milhões. Mas, como ele faz quase R$ 280 milhões com a TV e jogador, ele se mantém ainda com um mínimo de equilíbrio. Ele tem dinheiro. O problema é que ele gasta muito mais do que poderia. 

Então, o que aconteceu em 2019, com todas as denúncias, com todos os problemas extracampo que o Cruzeiro viveu, ele acabou vivendo uma atualização de dívida porque números que não estavam no balanço hoje falam de uma dívida perto do meio bilhão de reais, o que inviabiliza o clube. Por isso ele está nessa situação. Ele não está conseguindo arcar com os salários, o time está indo para a segunda divisão, tem um risco grande das perdas financeiras decorrentes desse [possível] rebaixamento. Porque o mercado brasileiro em alguns momentos, e até o Atlético viveu isso lá atrás, o Corinthians..., mas outros exemplos de clubes que foram rebaixados mais recentemente não estão conseguindo se fortalecer, muito pelo contrário. 

O que os clubes brasileiros estão vendo é que com a Série B as coisas ficam ainda piores. A perspectiva do Cruzeiro não é boa. É o preço que se paga por fechar no vermelho por tantos anos, vem acumulando perdas, vem faltando dinheiro. O Cruzeiro nos últimos anos só foi campeão porque gastou muito mais do que arrecada. (...) E agora a bomba explodiu no colo do presidente do Cruzeiro. Por que a administração atual está arcando com todo esse investimento que foi feito, com todos esses gastos fora da realidade, e agora com todas as denúncias que acabaram acarretando com aumento bastante elevado da sua dívida."

A entrevista completa você ouve abaixo!

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