Uma atleta de 18 anos pode ser a primeira a representar Minas Gerais no alto rendimento do pentatlo moderno. Alice Peroni, recém-formada no colégio, é uma das maiores promessas da modalidade olímpica e ainda passou em primeiro lugar para o curso de Educação Física da UFMG.
Natural de Belo Horizonte, a pentatleta iniciou no esporte há três e já mostrou bastante potencial. Em 2024, foi campeã pan-americana por equipes, bronze no Campeonato Brasileiro e disputou o Mundial sub-19 na Lituânia, além de ter feito o índice para disputar o Mundial sub-22 na atual temporada.
Para ela, um dos seus maiores sonhos é carimbar uma vaga para os Jogos Olímpicos.
“Ingressei no pentatlo bem tarde, aos 15 anos. Naturalmente, era difícil imaginar que a carreira profissional fosse uma opção, mas com muita aprendizagem e fé na minha capacidade, hoje não me vejo seguindo outro caminho. Os Jogos Olímpicos são um sonho real, vou fazer de tudo para conseguir uma vaga e, por mais que não seja uma ambição humilde para alguém que sequer treinava até pouco tempo atrás, é preciso acreditar naquilo que você deseja conquistar”, afirma Alice.
O pentatlo moderno reúne esgrima, natação, prova de obstáculos (anteriormente hipismo), tiro e corrida.
Início da trajetória esportiva
A caminhada esportiva de Alice começou como a da maioria das crianças: praticando diversas atividades. Chegou a fazer ginástica artística, natação e dança. Em 2019, ingressou no Colégio Militar de Belo Horizonte (CMBH), onde o irmão já treinava pentatlo moderno em uma estrutura ainda incipiente. Sem equipamentos de tiro e professor de esgrima, Alice começou fazendo “biatlo” (natação e corrida).
Em 2020, a pandemia forçou a suspensão dos treinos por dois anos, dificultando ainda mais a prática esportiva. O momento de virada ocorreu somente em março de 2022, quando as atividades no colégio foram retomadas, e, a partir dali, Alice passou a se dedicar às cinco modalidades e a ser orientada pela treinadora Paula Debien, professora do Colégio Militar e árbitra internacional de ginástica (FIG).
A preparação com a nova treinadora foi a entrada oficial de Minas Gerais no cenário do pentatlo moderno, com Alice Peroni liderando a equipe.
“A Alice fez o concurso do Ensino Fundamental (para ingressar no Colégio Militar) e seguiu carreira de estudante normalmente, já compondo equipes de natação, handebol e vôlei do colégio. Só depois fez a iniciação no pentatlo. Ela poderia ser a melhor atleta em qualquer modalidade que fizesse”, elogia a treinadora, que trabalha com aproximadamente dez atletas competitivos.
1º Lugar em Ed. Física na UFMG
Após se formar no Colégio Militar, Alice vai fazer uma mudança grande de vida, mas a poucos metros de onde passou os últimos anos: a Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG (EEFFTO). Ela foi aprovada em primeiro lugar no processo seletivo da Federal.
“A competitividade e a vontade de ser bom naquilo que faz são muito utilizadas no esporte, mas podem ir além dessa esfera. Sempre fui muito exigente comigo mesma, e esse aspecto da minha personalidade me leva a dar o máximo em tudo o que faço. Ter sido aprovada em 1º lugar no vestibular talvez seja reflexo desse desejo de me desafiar”, diz a atleta, que viu sua rotina mudar em 2025.
As aulas na faculdade tiveram início neste mês de março, e o desafio a partir de agora é se adaptar à nova rotina. Para seguir se preparando, o Colégio Militar autorizou Alice a continuar treinando no local, mesmo não sendo mais aluna. Os horários das atividades, antes concentrados no período da tarde, agora são melhor distribuídos ao longo do dia, intercalados com os estudos.
“Acredito que a nova rotina vá me beneficiar consideravelmente em termos de desempenho, permitindo que eu me recupere melhor entre as sessões e evitando períodos de muito calor, que prejudicam principalmente a corrida. Já em relação aos estudos, é claro que a faculdade exige maior dedicação, mas também possui uma carga horária menor, e vou poder me organizar de uma maneira mais confortável”, explica Alice.
De olho no futuro
Além de disputar uma Olimpíada, a jovem atleta quer colocar Minas Gerais oficialmente no mapa do pentatlo moderno, apesar do longo caminho a ser percorrido: o Governo de MG ainda não contempla os pentatletas no programa Bolsa Atleta, e a modalidade sequer possui uma federação estadual.
“Penso no crescimento de toda a equipe. Sendo um esporte pouco difundido no país, é essencial que estruturas como a do CMBH sejam aproveitadas da melhor maneira possível, de modo que mais jovens se interessem pela modalidade. Acredito que uma forma de estabelecermos um centro de treinamento sólido em Belo Horizonte é por meio da prova de obstáculos, que substituiu o hipismo, tornando o pentatlo moderno mais acessível. Já há um projeto de construção de uma pista de obstáculos, o que possibilitaria que competições fossem realizadas no Colégio Militar, garantindo maior investimento e visibilidade para o esporte,” finaliza.