A Stock Car BH 2025 foi cancelada. A informação foi divulgada pela Vicar, organizadora da Stock Car Brasil, por meio de comunicado oficial. Prevista originalmente para os dias 15, 16 e 17 de agosto, no estádio Mineirão, a 5ª etapa da BRB Stock Car Pro Series será transferida para o Autódromo Zilmar Beux, em Cascavel (PR), na mesma data.
Segundo a entidade, o cancelamento da etapa de Belo Horizonte ocorreu devido à falta de possibilidade de aumentar o prazo para a montagem do circuito de forma segura. Segundo a Vicar, a falta de tempo hábil impede a montagem da maneira correta. Já o BH Stock Festival diz que a não realização da corrida se deve a uma ação do MPF, pedindo a suspensão do evento.
"Os estudos demonstraram que, para garantir os padrões de segurança e qualidade que a Stock Car Pro Series exige, seria necessário um prazo adicional que não se adequa ao cronograma estabelecido", escreveu, em nota.
Ainda conforme a empresa, foram discutidas outras datas para a Stock Car BH, porém não houve consenso para escolher um novo fim de semana para a etapa no circuito Toninho da Mata.
"Foram analisadas diversas alternativas para reagendamento da etapa em Belo Horizonte ainda em 2025. No entanto, a complexidade dos calendários tanto da BRB Stock Car Pro Series quanto do estádio Mineirão, que possui uma agenda diversificada de eventos esportivos e culturais, impossibilitou encontrar uma data adequada que atendesse às necessidades técnicas e logísticas de ambas as partes", pontuou a Vicar.
Procurado, o Mineirão negou que haja qualquer evento ou fator na data prevista para a Stock Car BH que impeça a montagem da infraestutura. O TEMPO Sports também solicitou posicionamento da Speed Seven, promotora do BH Stock Festival, e aguarda retorno. Esta reportagem será atualizada em caso de resposta.
O TEMPO também solicitou um posicionamrnto à prefeitura de Belo Horizonte. Em caso de retorno, esta reportagem será atualizada.
BH Stock Festival alega ação do MPF
Já segundo o BH Stock Festival, organizador da Stock Car em BH, a não realização da Stock Car BH 2025 nos dias 15, 16 e 17 de agosto na capital mineira se deve a uma ação do Ministério Público Federal (MPF). O órgão entrou com um processo pedindo a suspensão da corrida no entorno do Mineirão.
Segundo o BH Stock Festival, o MPF solicitou a paralisação das vendas de ingressos. "Apesar de não haver evidências de impactos ambientais relacionados à realização do BH Stock Festival 2024, o Ministério Público Federal permanece pedindo a suspensão das vendas de ingressos no processo judicial movido", afirmaram os organizadores do evento, em nota.
Também segundo o BH Stock Festival, está em estudo a possibilidade de agendar uma nova data para a Stock Car BH. Porém a empresa ainda não confirma se será possível conseguir um reagendamento. A instituição encerra o posicionamento defendendo que a Stock Car BH é benéfica para a cidade.
"Além de sua importância cultural, o BH Stock Festival traz benefícios significativos para Belo Horizonte: impacto socioeconômico; geração de empregos, renda e novos investimentos; estímulo à economia local; atração de turistas e fortalecimento de negócios regionais; Belo Horizonte como destino turístico; consolidação da cidade como referência nacional e internacional; projeção global; visibilidade internacional de Belo Horizonte, com transmissão ao vivo para 157 países, destacando o Mineirão e a Pampulha – patrimônio da UNESCO", argumentou.
Também segundo o BH Stock Festival, "os ingressos adquiridos serão válidos para a nova data que será anunciada. O reembolso será assegurado aos que não puderem participar do evento e a política de devolução do valor pago será publicada nas redes sociais do BH Stock Festival em breve".
MPF moveu ação dias antes de cancelamento
Dias antes de ser anunciado o cancelamento da etapa da Stock Car em Belo Horizonte, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma ação civil pública contra o evento. A reclamação era o barulho da corrida, que, na visão do órgão, ultrapassaria os limites de 70 decibéis para áreas comuns e de 55 decibéis para a região do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A ação, com data de autuação de 4 de julho, foi movida contra as empresas organizadoras da etapa mineira da Stock Car Pro Series. O MPF pediu à Justiça que obrigue os responsáveis a comprovar, com estudos técnicos, que os ruídos se mantêm dentro dos limites legais. Também solicitou a apresentação de medidas eficazes de mitigação sonora. Caso contrário, o órgão requer que sejam suspensas tanto a venda de ingressos quanto a montagem da estrutura do circuito.
Segundo o contrato firmado com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a Stock Car seria realizada anualmente na capital por cinco anos. A etapa estreou no ano passado, com a segunda edição prevista para agosto deste ano, com traçado de rua no entorno do Mineirão, vizinho ao campus da UFMG.
“Risco de morte de animais”
Na ação, o procurador da República Carlos Bruno Ferreira da Silva afirma que a realização da corrida ao lado de áreas sensíveis da universidade, como o Hospital Veterinário, o Biotério Central e a Estação Ecológica, representa grave ameaça à fauna local e às pesquisas científicas desenvolvidas na instituição. “Estudos apontam níveis de ruído suficientes para causar estresse severo e até a morte de animais em tratamento ou usados em pesquisas”, disse.
Um levantamento encomendado pelo MPF à empresa Aecom do Brasil concluiu que, para respeitar o limite de 55 dB exigido em áreas hospitalares, as barreiras acústicas previstas pelos organizadores — de até 5 metros — seriam insuficientes. A contenção ideal, segundo a nota técnica, teria que alcançar 25 metros de altura, além de incluir medidas dentro da própria universidade.
Proximidade crítica
O traçado da pista passaria em frente ao Hospital Veterinário da UFMG, na avenida Presidente Carlos Luz, trecho apontado por pareceres técnicos da própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente como “o ponto mais crítico”. Segundo o MPF, animais em tratamento têm sensibilidade auditiva maior que a dos humanos e sofrem ainda mais com o barulho.
A ação civil pública também argumenta que a universidade não foi consultada na escolha do local e já se manifestou publicamente contra a realização da prova. O MPF também destaca que a legislação municipal impede a instalação de estruturas em passeios públicos, como as barreiras acústicas que vinham sendo projetadas.
Prejuízo ambiental e urbano, dizem deputada e biólogo
Para a deputada estadual Duda Salabert (PDT) e o biólogo Marcelo Dias, estudante de doutorado em Ecologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Stock Car BH fez com que a capital mineira acumulasse uma série de “prejuízos”.
“Cortaram dezenas de árvores, causaram impacto negativo no Hospital Veterinário da UFMG, atrapalharam o trânsito da cidade e o lucro que deveria ficar para Belo Horizonte não veio. Pelo contrário, a cidade sai no prejuízo: ambiental, na mobilidade — já que as muretas seguem atrapalhando pedestres — e econômico, pois o lucro esperado era calculado para cinco anos, e isso não foi cumprido. Resumindo: o início, o durante e o fim foram um total desrespeito com BH, como já havíamos anunciado”, afirmou Duda Salabert ao repercutir o cancelamento.
Para Marcelo Dias, o cancelamento da Stock Car em Belo Horizonte confirma as alegações feitas em 2024, quando a cidade sediou o evento. "O entorno do Mineirão não é local adequado para esse tipo de corrida. Hoje temos um instituto de pesquisa e a Escola de Veterinária naquele espaço. Disseram que colocariam uma barreira acústica, mas nenhuma das barreiras instaladas foi capaz de conter o som. O necessário seria uma barreira de 23 metros, mas instalaram uma de apenas dois metros. Sou pesquisador da UFMG e afirmo: era inviável realizar a corrida ali, do ponto de vista ético, esportivo e ambiental", declarou.
Com o cancelamento da etapa, a deputada Duda Salabert afirmou que vai fiscalizar o contrato assinado com a organização da corrida para verificar se as compensações socioambientais previstas foram efetivamente cumpridas.
"Sempre fui favorável a Belo Horizonte sediar grandes eventos, inclusive a própria Stock Car. A crítica sempre foi ao local escolhido, em frente ao Hospital Veterinário da UFMG, e ao corte de dezenas de árvores. Temos diversos espaços na cidade que poderiam receber a corrida. A não realização do evento mostra que os gestores que trouxeram a corrida para cá não estavam preocupados em deixar um legado positivo para a cidade", disse a parlamentar.