No último sábado (12), o Locomotiva FA voltou a levantar a taça do Campeonato Mineiro de Futebol Americano, encerrando um jejum de nove anos sem títulos. Para muitos, o título estadual pode não parecer nada de mais, porém, a conquista é um marco para o time mais tradicional da modalidade em Minas Gerais e um dos principais programas de futebol americano no país. 

Para quem não sabe, o Locomotiva completa 20 anos de fundação em 2025 e investiu no retorno de uma série de jogadores formados em suas divisões de base, mas que estavam em outras equipes. Para quem viveu essa história por dentro, como o running back Thiago Paranhos, a taça representou muito mais que um troféu: foi o símbolo de uma jornada marcada por fidelidade, superação e amor verdadeiro ao esporte.

Há 20 anos, Thiago esteve em campo na primeira partida da história do Locomotiva. De lá pra cá, viu o futebol americano crescer em Minas, times surgirem e desaparecerem, amigos irem embora, novas gerações ocuparem espaço. Mas ele permaneceu. Em tempos de carreiras instáveis e transferências por oportunidades, Paranhos é a exceção que resiste ao tempo — uma espécie de elo vivo entre o passado e o presente do Locomotiva.

“Ganhar esse título foi como lavar a alma”, resume, emocionado. “Foram anos difíceis. Derrotas dolorosas, incertezas, perdas. Teve época em que a gente nem sabia se ia ter time para competir. Mas eu continuei. E hoje ver os meninos que foram formados aqui voltando para ser campeões é gratificante demais.”

Título premia o amor à camisa, dedicação e perseverança
Em duas décadas dedicadas ao mesmo time, Thiago se tornou mais que jogador: virou símbolo. Não só pelo tempo de casa, mas pela postura diante das adversidades. Quando a pandemia da Covid-19 abalou o cenário do esporte amador no Brasil, o Locomotiva quase fechou as portas. Muitos atletas partiram, mas Thiago ficou. “Fiquei porque o time me formou. Porque o time me deu tudo. E porque eu acredito que, quando você planta algo com amor, uma hora o fruto vem.”

Passado o período de crise mundial causada pela doença que 'trancou' todos em casa, Paranhos voltou a treinar com o time e ajudou na volta as atividades, dentro e fora de campo, afinal, com tanto tempo de casa, ele também tinha uma cadeira na direção do Locomotiva. 

A dura rotina aos poucos voltou ao normal: “o sábado é do Locomotiva. Às vezes eu reclamo, claro. Mas volto pra casa com o coração cheio”. Thiago se mantém em forma com treinos diários, às vezes duas vezes por dia. Com 42 anos, bate de frente com atletas mais jovens, mantendo alto nível físico e técnico. “Eu me cuido porque sei que, para jogar nesse nível, preciso estar 100%. Mas faço isso porque amo. Porque isso aqui é parte de quem eu sou.”

Exemplo para uma nova geração

Arquivo Pessoal

 


O impacto de Thiago Paranhos vai além do campo. Dentro do vestiário, é liderança natural. Emocionado, ele relembra o discurso que fez antes da final. “Pedi para os novatos jogarem por quem ficou. Por quem sustentou esse time nos piores momentos. Por quem acreditou quando ninguém mais acreditava.”

Essa consciência do coletivo, da história e da responsabilidade que carrega inspiram não só os companheiros de time, mas também seu filho, Cadu. “Faço questão de mostrar para ele o quanto o esporte transforma. Quero que ele veja que esforço, dedicação e lealdade valem a pena. Mesmo quando ninguém está olhando.”

Ao falar da instituição, Thiago se emociona. “O Locomotiva me deu os melhores amigos da minha vida. Me deu propósito. Me deu família. Eu me sinto responsável por manter vivo o que foi construído lá atrás. Sei que muitos já se foram, mas eu carrego essa história com orgulho. Porque o que criaram é grande demais para ser esquecido.”

Na final, ao ver o apito soar e o título confirmado, Thiago não comemorou como um novato. Comemorou como quem sobreviveu à tempestade. Como quem soube esperar o tempo da colheita. Como quem, acima de tudo, é exemplo.