O Fortaleza Basquete Cearense anunciou nesta semana um nome que já entra para a história do basquete nacional. Aos 31 anos, a sérvia-australiana Jelena Todorovic será a primeira mulher a assumir o comando técnico de uma equipe masculina no NBB CAIXA, a Liga Nacional de Basquete, principal competição da modalidade no Brasil.

O feito é inédito no país e coloca o clube cearense na linha de frente de uma mudança ainda rara no esporte masculino. “Quando comecei, não existiam exemplos que se parecessem comigo. Hoje, penso que minha história pode mostrar a outras meninas que o sonho delas é possível. Se eu conseguir inspirar alguém a acreditar nisso, já terá valido a pena”, disse Jelena, em sua apresentação oficial.

O convite para trabalhar no Brasil nasceu nos bastidores do basquete europeu, mais precisamente, em Belgrado, na Sérvia, enquanto acompanhava os treinos do Estrela Vermelha ao lado do técnico Ioannis Sfairopoulos. Foi ali que conheceu Thális Braga, presidente do Fortaleza, e Felipe Ribeiro, diretor da equipe. “Nos conectamos instantaneamente. Nossa energia, nossos valores e nossa mentalidade estavam alinhados. Depois disso, fui convidada para clínicas no Ceará e tudo aconteceu de forma muito natural”, contou.

Quem é Jelena Todorovic primeira técnica do NBB?

Jelena Todorovic | LBB/Divulgação

Filha de uma geração que respira basquete, Jelena Todorovic carrega uma herança pesada no sobrenome: ela é neta de Borislav Stankovic, ex-secretário-geral da FIBA e um dos responsáveis por globalizar o esporte no mundo. A convivência com o avô e o ambiente das quadras a levaram cedo para o jogo, primeiro como jogadora do Estrela Vermelha e, depois, como técnica.

Sua formação vai além da experiência prática. Tem certificações da FIBA, da Euroliga, especializações em psicologia esportiva, nutrição e prevenção de lesões. Trabalhou em clubes da Austrália, em seleções como Sérvia, Grécia e Espanha e acompanhou de perto potências do basquete europeu, como Real Madrid, Bayern de Munique e Zalgiris Kaunas. Também participou de projetos de desenvolvimento com nomes como Giannis Antetokounmpo, Patty Mills e Josh Giddey.

O presidente do Fortaleza destaca que a contratação vai ao encontro da filosofia do clube para a próxima temporada: desenvolver atletas, buscar uma metodologia mais moderna e formar jogadores dentro e fora da quadra. “Ela tem qualificação, experiência e uma visão muito clara do que pode entregar. Esse projeto vai muito além de resultado imediato”, afirmou Thális Braga.

Brasil como novo desafio


Mesmo habituada a trabalhar em diferentes países e culturas, Jelena Todorovic admite que chegar ao Brasil será um recomeço no basquete. “Esse é o quarto continente onde trabalho. Cada lugar tem seus desafios. Aqui, quero ver a arena cheia, com torcedores apaixonados. O Brasil tem talento, tem paixão e tem potencial. É o tipo de desafio que me faz crescer”, contou.

Além do trabalho técnico, Jelena reforça o quanto vê valor na construção de identidade dentro da comunidade. “Eu quero mais do que vitórias. Quero criar conexões, ajudar esse time a se aproximar do torcedor. O esporte tem esse poder”, afirma.

Início dos trabalho

No Fortaleza, Jelena terá ao seu lado o também sérvio Vladimir Dosenović, assistente técnico com quem já trabalhou em projetos na Europa. Segundo ela, desde os bastidores o clube cearense tem a ajudado a moldar sua visão sobre o novo desafio no NBB. “Quando estive aqui nas clínicas, me surpreendi com o quanto os brasileiros e os sérvios têm em comum. A energia, a paixão, o calor humano. Isso me deu ainda mais vontade de aceitar esse desafio. Quero mergulhar na cultura, aprender a língua, viver o Brasil de verdade.”

Ciente do tamanho do passo que dá no esporte masculino, Jelena Todorovicfaz questão de deixar claro: não busca espaço por ser mulher, mas por estar pronta para o trabalho. “Treinar não é sobre ser homem ou mulher. É sobre competência, dedicação, visão. Eu me preparei muito para estar aqui. Tenho orgulho de carregar o legado do meu país e da minha família, mas agora quero construir minha história no Brasil”, finaliza.