Por mais que possa parecer um paradoxo, uma das grandes vitórias do projeto BH Capitals, que oferece a prática de beisebol e softbol na região do Barreiro, em Belo Horizonte, vai ser uma de suas maiores referências estar bem longe da capital mineira.

Na última semana, o pitcher (arremessador) Gabriel Guimarães, de 14 anos, foi escolhido para integrar o CT Yakult, em Ibiúna (SP), considerada a maior academia de beisebol da América Latina. A nova experiência, que deve durar três anos e meio, tem tudo para colocar Gabriel em novo patamar dentro da modalidade, com o jovem representando um momento histórico do projeto.

É a primeira vez que uma cria da iniciativa tem a chance de realizar atividades, de forma permanente, no CT paulista, que costuma 'exportar' atletas para projetos de outros países, sendo considerado um trabalho de referência. A porta aberta aconteceu graças a contatos que Ângelo Iumatti, seu treinador no BH Capitals, mantém em São Paulo. 

Durante uma semana, Gabriel esteve no local com a família para um período de testes, que serviram para ele mostrar de perto todo seu talento e capacidade. Gabriel conheceu o beisebol há dois anos e meio e foi recompensado por uma procura que aconteceu por conta própria.

"Ele fazia taekwondo e estava desanimado. Meus três filhos (Gabriel é o caçula) sempre fizeram algum esporte ou exercício. Ele então buscou algo pra substituir e, aleatoriamente, encontrou o beisebol. Apesar de ser inusitado no Brasil, havia um time organizado em BH. A iniciativa de descobrir onde ficava foi dele. Ele quem gerenciou tudo", conta o pai, Rodrigo Guimarães, diretor de uma empresa de audiovisual e residente em Betim. Gabriel nasceu em Niterói e veio morar em Minas Gerais, aos quatro anos de idade, por causa da profissão do pai.

"O beisebol mudou minha forma de agir e pensar, foi ganhando mais importância com o tempo. Era algo que eu buscava melhorar sempre. Essa oportunidade vai ser importante pra mim e pra muita gente, que vai poder entender que o beisebol é forte em Minas Gerais. É gratificante participar deste projeto imenso, que desperta atenção até do exterior. Acho que isso pode ajudar a mudar a visão das pessoas sobre o beisebol", analisa o jovem, que admitiu ter ficado surpreso ao ser selecionado.

"Treinava com muitos que estão no esporte desde criança, receber a notícia foi muito bom. Quando comecei, não acreditava tanto no meu potencial. Mas o tempo foi passando e vi que uma chance como esta poderia aparecer. É um desafio que representa um novo começo, algo bem diferente, que pode mudar minha vida. Vou treinar praticamente todos os dias, viver o beisebol, sem o mesmo tempo livre de antes. Vai ser uma mudança como pessoa e como jogador", comemora Gabriel.  

A pandemia poderia ter colocado um fim nas pretensões de Gabriel, que treinou por meses em casa, sem o mesmo ânimo de estar no campo com os colegas. 

"Ele estava quase desistindo quando comprei um kit com taco, bola e luva oficiais e dei de surpresa. Em seguida, a Emi retomou os treinos de forma indoor. Essa perseverança é uma das grandes características dele, não faltava a um treino sequer. A Emi foi fundamental nessa construção, ela é uma treinadora apaixonada", detalha Rodrigo. 

 

 


Fazendo a diferença
 
O projeto mineiro completou 10 anos em 2021 e está presente na vida de muitos que chegaram ali por acaso, sem conhecer a modalidade, antes de se apaixonar e criar um envolvimento transformador. A organização fica por conta de Emi Kyouho, de 52 anos, diretora de esportes da Associação Mineira de Cultura Nipo Brasileira (AMCNB) e responsável pelo BH Capitals. 

Emi soma quatro décadas de entrega à modalidade. Nascida em Campinas, atuou por times de São Paulo e defendeu a seleção brasileira. Em BH, construiu um projeto que, com altos e baixos e enfrentando dificuldades de investimentos e verbas, tem feito a diferença na vida de muitos jovens e adultos. Para ela, foi uma grande felicidade ver um dos seus pupilos alçar voos mais altos.

"O céu é o limite, agora é com ele. Neste CT, costumam passar alguns dos melhores times do Brasil, seleção brasileira, universidades americanas e até membros de nível profissional de diversos países. Ele terá à disposição a disciplina aplicada, técnicos espetaculares que são da seleção brasileira, tudo dentro do melhor centro de beisebol da América Latina. Além da proximidade de ver outros grandes atletas e times, jogos, atletas no entorno desta academia", conta Emi.

​O Centro de Treinamento  da Yakult/Ibiúna dispõe de três campos oficiais, uma enorme estrutura para treinos especiais e, por estar em São Paulo, recebe muitos jogos de diversas categorias de times do país e jogos até internacionais.

No rumo certo

A presença de um atleta 'nascido' no seu projeto mostra que o trabalho, mesmo no meio de tantas dificuldades, está no caminho certo. "Isso me dá muita esperança. Pelo lado pessoal, é muito emocionante ver aquele menino tímido, porém destemido, seguir longe de casa o sonho de estar no beisebol de alto rendimento. Pelo lado institucional, fica o sentimento que podemos muito mais, que podemos fazer times completos com esta qualidade: precisamos de campo e apoio. A receita nós temos", garante. 

O BH Capitals ainda luta para ter um campo próprio. Entre os projetos em andamento, está a ideia de um evento fixo para fomentar a modalidade.

Em março deste ano, foi realizada a 1ª Taça de Softbol Belorizontina no gramado da Cidade Administrativa com o apoio da Secretaria de Estado de Esportes de Minas Gerais. A ideia é que o torneio se repita anualmente. "Pretendemos fazer dois eventos de beisebol. Para isso, estamos em busca de espaço (15mil m²) e patrocinadores", aponta Emi.