Depois de travarem grandes duelos em competições oficiais, brigando pelos primeiros lugares do pódio na canoagem, o brasileiro Isaquias Queiroz e o alemão Sebastian Brendel fazem uma espécie de tira-teima. Neste domingo (23), no Rio de Janeiro, na Lagoa Rodrigo de Freitas, eles se enfrentam na 6ª edição do Desafio Mano a Mano. Isaquias falou com o Super FC sobre o tricampeonato mundial, a preparação para os Jogos de Tóquio em 2020, a rivalidade com o alemão e como essa competição pode ajudá-lo a conhecer mais sobre seu grande rival.
Qual foi a importância de se conquistar o tricampeonato mundial?
A conquista do Mundial foi uma grande vitória na minha carreirapor causa da rivalidade que existe entre o Sebastian Brendel e eu. O que mais valorizou meu título foi aquela disputa emocionante, no final da prova. Foi um resultado muito importante para minha carreira, para a canoagem, levantando ainda mais o nome do esporte. Isso mostra que nosso trabalho está sendo bem feito. Ainda estamos no segundo ano do ciclo olímpico. No ano que vem, vamos acelerar um pouco mais porque o foco mesmo são os Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020.
Você tinha sido campeão em 2013 e em 2014. O que aprendeu nesse período em que ficou sem competir na modalidade C1 500 m?
Eu olhava principalmente para a modalidade C1 500 m e ficava com aquele desejo, com aquela vontade. Queria estar disputando essas provas porque eu sempre treinei bem o C1 500 m. No ano passado, eu ia remar na República Tcheca e acabei não remando. Quando cheguei lá e vi o resultado da C1 500 m, falei: ‘Nossa, dava para ter brigado pelo ouro’. Já neste ano, eu fui um pouco desacreditado por não ter treinado muito os 500 m, estava treinando mais para os 1.000 m. Porém, quando chegou na hora da prova, foi aquela coisa. Quando eu chego à competição, eu me transformo, a remada muda, meu jeito de remar muda. Eu me senti bem, e como eu tinha falado com o Jesus Morlán (meu técnico): o checo (Martin Fuksa) já tinha um bicampeonato mundial junto comigo, e eu falei que ia ser tricampeão mundial antes dele. Ele pode até ganhar depois (risos). Até porque, no ano que vem, eu não vou poder remar (no C1 500). Então, eu fui com tudo para ficar acima dele e fiquei focado no meu tricampeonato. É uma conquista para poucas pessoas.
Vai parar de competir na categoria C1 500 m?
Até onde me falam, o C1 1.000 m vai sair das Olimpíadas e talvez vai entrar o C1 500 m em 2024. Aí eu já fiquei mais animado. Se entrar para 2024, a gente está aí, mas agora meu foco é C1 1.000 m para 2020. Mesmo quando não estou competindo no C1 500 m, estou treinando porque o C1 500 m faz parte do C1 1.000 m, é a metade, e isso ajuda bastante. Quando parei de competir o C1 500 m, acho que meu ritmo de remada no C1 1.000 m caiu um pouco, tanto é que eu saía na frente dos adversários e depois o pessoal me passava.
Como está o programa olímpico para os Jogos de Tóquio?
Se a programação continuar a mesma, o Jesus Morlán disse que talvez a gente vá para Hungria, que aí vai ser a classificatória lá, focado no C1 1.000 m, mas também focado em chegar pelo menos em sexto lugar no C2 para ganhar a vaga das duas provas. Porque aí a gente pode depois decidir. Ele sempre quer me ver brigando com os caras ali, por isso que ele falou que talvez eu vá para o Mundial do ano que vem focado em remar mais no C1 1.000 e também na vaga do C2 1.000 m.
Sua rotina de treinos é a mesma ou teve alguma alteração após as Olimpíadas do Rio?
A rotina continua a mesma coisa. A única diferença é que, de 2015 para 2016, remei muito C1 e C2, Já de 2016 para cá, remei mais C1.
O Desafio Mano a Mano é mais uma oportunidade para você aprender e estudar Sebastian Brendel como competidor?
Competir no Rio é sempre bom, acho que será a terceira vez que venho ao Rio de Janeiro competir – uma foi 2008, e a outra foi 2016, e agora em 2018 voltando a competir. É bom para poder estar sempre relembrando as conquistas que tive aqui, no Rio de Janeiro, que foram marcantes na minha carreira. É bom estar sempre competindo contra o Brendel, a gente acaba tendo mais confiança, porque, querendo ou não, é um cara que rema mais do que eu. Sempre chegando mais perto dele, ou ganhando dele, você adquire mais confiança e não precisa se preocupar com os outros atletas que estão atrás, se preocupa só com quem está na frente, que é ele, e isso é muito bom. Então, meu foco é poder ir para cima dele com tudo, como fiz no Mundial no C1 500 m, e levar a medalha. Mas é sempre aquela coisa: o foco mesmo é deixá-lo sempre aflito, para começar a tirar aquela comodidade dele do C1 1.000 m, para ele começar a pensar “o Isaquias está vindo aí”.
Você acha que tem alguma coisa que ainda possa aprender com ele, se ele é seu grande adversário na luta para seu primeiro ouro olímpico?
Ele é com certeza meu grande adversário. Não tiro o mérito dos outros adversários, mas, querendo ou não, eu e o meu treinador sabemos do que o Brendel é capaz. Agora, na Copa do Mundo, ele perdeu para mim e para o tcheco. No Europeu, perdeu para o tcheco e, chegando o Mundial, ganhou da gente. Sabemos que ele é um cara imprevisível e que não podemos dar mole. Então, não adianta me preocupar com quem está atrás dele ou quem está atrás de mim. Ganhou dele, está com a medalha de ouro.
O que está esperando do Mano a Mano?
Eu vim focado, preparado, não tão preparado quanto no Mundial, é lógico, até porque eu e meu treinador resolvemos dar um tempinho para descansar o corpo, porque eu estava estressado de tanto treinar para o Mundial. Mas é esperar uma prova boa entre mim e ele, uma prova bem disputada. Com certeza, ele não vai chegar bem na frente nem eu. Vai ser uma prova muito acirrada, como foi no Mundial, e vai ser decidida só no finalzinho. Vamos ver como vai ser.