Importância

Atletas de alto rendimento abrem debate sobre cuidados com a saúde mental

Entre os 20 clubes que disputam a Série A do Brasileiro, só dez têm psicólogos que acompanham os atletas do time profissional

Por Frederico Teixeira
Publicado em 27 de outubro de 2023 | 11:49
 
 
 
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Atletas profissionais têm evidenciado, cada vez com mais frequência, que também sofrem com angústias, fracassos e decepções, sentem medo e enfrentam quadros de depressão.

O atacante Richarlison, visto chorando no banco de reservas da seleção brasileira após ser substituído na partida contra a Bolívia, em setembro, pelas Eliminatórias para a Copa de 2026, revelou que buscaria ajuda profissional para cuidar da saúde mental.

“Foi mais um desabafo pelas coisas que vinham acontecendo fora de campo e saíram do controle. Vou buscar ajuda de um psicólogo para trabalhar a mente”, disse na ocasião. 

No futebol, porém, a saúde mental ainda não recebe a devida atenção. Entre os 20 clubes que disputam a Série A do Brasileiro, só dez têm psicólogos que acompanham os atletas do time profissional. Do trio de BH, apenas o Atlético e o Cruzeiro têm a presença constante de um especialista. A psicóloga Maíra Ruas, inclusive, começou sua trajetória na Raposa um jogo antes do clássico com o Atlético no dia 22 de outubro (1 a 0 para o Cruzeiro).

Maíra Ruas é psicóloga na CBF Academy

Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), atletas das seleções de base têm acompanhamento de uma psicóloga. Já na seleção principal, quem define os integrantes da comissão técnica são os próprios treinadores. Fernando Diniz, técnico interino, não tem psicólogo no staff. Nem Tite, seu antecessor, tinha. Mas ex-treinadores, como Vanderlei Luxemburgo e Felipão, mantinham esses profissionais. 

“Os clubes estão pouco preparados para lidar com as exigências da saúde mental, visto que não costumam estimular o trabalho psicológico em boa parte das modalidades”, afirma João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e do Exercício.

Francinéli Becker, psicóloga do Criciúma, fala da importância em buscar ajuda. “A psicologia do esporte é para o atleta que não está se sentindo bem, mas também para potencializar processos cognitivos. Quando um atleta fala sobre psicologia, ele abre a porta para que outros atletas que estão pensando ou sofrendo possam buscar ajuda. Isso é importantíssimo”, frisou.

Alarmante

O Brasil lidera o ranking de ansiedade e depressão na América Latina, com quase 19 milhões de pessoas com essas condições. Um em cada quatro brasileiros sofrerá algum transtorno mental ao longo da vida, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022.

Redes sociais: vitrine que pressiona a cobrança individual

A pressão sobre a saúde mental dos atletas tem aumentado também em função da proliferação das redes sociais. Se antes era muito difícil conversar diretamente com um esportista de alto rendimento, agora, os torcedores e fãs se sentem mais próximos dos seus ídolos – e também no direito de cobrar mais deles. 

“O ser humano, em geral, se preocupa muito com opiniões alheias de pessoas leigas que nem sabem do que estão falando. Na era da internet isso piorou dez vezes”, aponta o pivô Rafael Rodrigues, de 36 anos. Ele ainda ressalta que a questão da saúde mental quase sempre foi negligenciada pelos clubes. “Os técnicos não abriam mão de tempo de treino. Fazia (o acompanhamento psicológico) quando dava”

Benefícios extracampo

Jogadores de futebol no Brasil que fazem acompanhamento psicológico garantem: os benefícios vão além da performance em campo. 

É o caso do zagueiro Iago Maidana, do América, que tem acompanhamento psicológico desde a época em que subiu para o profissional, quando ainda atuava no Criciúma.

“É algo que eu me apego e vem me ajudando muito. Em todos os clubes por que passei, procurei pessoas especializadas nisso. Evoluí muito, procurando os profissionais de cada área. Me ajudou muito no começo da minha carreira no Criciúma, na questão da transição da base para o profissional. Não só dentro de campo, na questão familiar também foi importante, até para estabelecer algumas regras”, destaca.

Iago Maidana foi expulso

O também zagueiro Nino, hoje no Fluminense e na seleção brasileira, garante que a performance aumentou após ter acompanhamento psicológico. “Experimentei coisas, vivi momentos que só foram possíveis graças a esse acompanhamento.”

 

 

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