Enquanto o time masculino do Ipatinga ganha os holofotes, porque está a um jogo de conquistar o acesso à elite Mineira, o feminino é deixado de lado e impedido de participar do Estadual após sete anos de trabalho. Com a nova gestão do Tigre, após a implantação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a diretoria quadricolor se reuniu na segunda-feira (25) e comunicou que a equipe não participaria desta edição.
Pela primeira vez na história do clube, o Ipatinga feminino disputou nesta temporada uma competição nacional. O Tigre chegou à terceira fase do Brasileirão A3, quase conquistando o acesso à segunda divisão, e todos os custos foram bancados pela gestora e treinadora do time, Kethleen Azevedo, que conversou com a reportagem de O Tempo Sports.
“O Nicanor (presidente) disse que não poderíamos participar, porque coloquei para eles que eu não conseguiria mais fazer a gestão financeira do clube, como eu vinha fazendo. No Brasileiro gastei mais de R$250 mil, tinha toda a estrutura de alojamento com casas alugadas, alimentação, salário de atletas, todo esse custo eu fazia a gestão e eu queria passar a gestão definitiva do departamento de futebol feminino”, contou Keke.
O aviso aconteceu menos de uma hora antes do início do arbitral, reunião com os clubes e Federação Mineira de Futebol (FMF) para definir os participantes e os rumos do campeonato, que o Ipatinga já havia sido inscrito pelo próprio presidente Nicanor Pires. A justificativa foi de que o clube, que virou SAF e tem o empresário Marcos Ferraz como sócio, não tinha recursos para bancar a participação.
“Foi apresentado a eles uma projeção de custos para disputar o Mineiro com a possibilidade das meninas reduzirem o salário em 50%, porque eu já tinha conversado com elas e elas tinham aceitado. O custo seria mais ou menos de R$120 a R$140 mil, contando com ônibus, alimentação e hotel”, explicou Kethleen.
Em Minas Gerais, o Ipatinga é referência no futebol feminino. Já foi a única equipe do interior a disputar o Campeonato Mineiro. Campeão em 2015, o time deixa de participar da competição neste ano após sonhar com a temporada perfeita, que teria, pela primeira vez, um calendário mais cheio com os campeonatos nacional e estadual.
“O sentimento é de gratidão ao presidente Nicanor Pires, que não deixou o futebol femino morrer nesses anos, mas também tem o sentimento de frustração, porque eu sou conselheira do clube, votei a favor da SAF, que vem com projeto de investir R$80 milhões no clube. A gente fica chateada, quando a gente não consegue R$130 mil para o futebol feminino”, lamentou a treinadora, que afirmou também não guardar rancor da situação.
O time masculino do Ipatinga vai a campo neste sábado (30), às 16h, para enfrentar o Boa Esporte pela última rodada do hexagonal final do Mineiro Módulo II. Com apoio direto da SAF, a equipe ocupa a primeira posição e pode até terminar em segundo, que conquista o acesso à elite estadual.
A reportagem de O Tempo Sports tentou contato com Marcos Ferraz, dono da SAF quadricolor, mas ele não atendeu às ligações.