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Justiça suíça anula condenação de Cuca em caso de estupro de 1987

Julgamento à revelia levou à extinção do caso, porém Cuca não foi inocentado no mérito

Por O Tempo Sports
Publicado em 03 de janeiro de 2024 | 15:25
 
 
 
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O Tribunal Regional do distrito administrativo de Berna-Mittelland, na Suíça, anulou a sentença que havia condenado Alexi Stival, o Cuca, então jogador e hoje técnico de futebol, por ter mantido relações sexuais com uma menor de idade sob coerção durante uma excursão do Grêmio ao país europeu em 1987.

Em novembro do ano passado, a juíza Bettina Bochsler acatou a argumentação da defesa de Cuca de que ele foi condenado à revelia, sem representação legal, e que poderia ter um novo julgamento. Só que o Ministério Público suíço alegou que isso não seria possível dado que o crime estava prescrito, então sugeriu a anulação da pena e a extinção do processo.

A defesa de Cuca afirma ter reunido provas suficientes para provar que ele não estuprou Sandra Pfäffli, 13, na noite do dia 30 de julho de 1987, quando a jovem foi ao quarto onde ele e três colegas de time estavam no Hotel Metropole de Berna.

No dia 28 de dezembro, a juíza deu o caso por concluído e ainda determinou o pagamento de 13 mil francos suíços (R$ 75 mil) em indenização a Cuca pelo caso, valor que caiu para 9.500 francos (R$ 55,2 mil) após desconto de custos processuais do caso julgado em 15 de agosto de 1989. A decisão foi divulgada nesta quarta-feira (3). 

Relembre o caso

O Grêmio foi jogar um torneio chamado Copa Phillips em Berna (Suíça) no fim de julho de 1987. Treinado por Luiz Felipe Scolari, o time venceu o Benfica por 2 a 1 no dia 29. No dia seguinte, à noite, a polícia foi ao Hotel Metropole de Berna, onde o time estava, e leva presos os jogadores Alex Stival (Cuca), Henrique Etges, Fernando Castoldi e Eduardo Hamester.

Acusação 

Segundo o juiz Jürg Blaser, eles teriam cometido ato sexual sob coerção com Sandra Pfäffli, de 13 anos, filha de um funcionário do hotel. A garota disse à polícia que foi ao quarto dos jogadores com dois amigos para pedir autógrafos, camisas e flâmulas, mas acabou abusada quando eles deixaram o local.

O Grêmio afirmou inicialmente que ela apenas esteve lá para pedir os brindes, mas Henrique e Eduardo confessaram ter feito sexo com Sandra de forma consensual. Fernando e Cuca negaram participação desde o começo.

Ao jornal suíço Blick, Sandra disse que três jogadores a imobilizaram e um a estuprou, que segundo ela poderia ser Cuca. Nos depoimentos, ela não o identificou ao ver fotos. Ao "Jornal dos Sports", Cuca disse que ela não aparentava a idade e que subira para fazer sexo com um de seus colegas, que não nomeou.

A prisão dos jogadores

Os jogadores foram levados para prisões separadas e acabaram soltos após um mês, passada a instrução inicial do processo, e levados para o Brasil pelo advogado Luiz Carlos Pereira Silveira Martins, o Cacalo, vice jurídico do Grêmio à época. Eles pagaram fiança de US$ 1.500 cada (R$ 20 mil hoje, em valores corrigidos pela inflação americana).

Condenação

O processo seguiu seu curso e, em 1989, Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão e uma multa de US$ 8.000 (R$ 106 mil hoje). Eles foram enquadrados por "fornicação com crianças" e "coerção", mas isentados de acusação de violência, pelo que a promotoria queria uma pena de 10 anos. Já Fernando pegou 3 meses e multa de US$ 4.000 (R$ 53 mil hoje) como cúmplice, por ter ficado segundo o juiz monitorando a porta do quarto.

O que aconteceu com a vítima?

O advogado de Sandra no caso, Willi Egloff, afirmou ao UOL que a garota chegou a tentar se matar posteriormente e teve depressão. Na época do incidente, policiais disseram que ela não parecia abalada nos depoimentos, e que pediu autorização para ir à final da Copa Phillips entre o Grêmio e o Neuchatel Xamax, vencida pelos gaúchos no dia seguinte à prisão. Quando o processo foi reaberto, a Justiça descobriu que Sandra já havia morrido anos antes, localizou um herdeiro, mas ele não quis se envolver no caso.

O que aconteceu com os jogadores?

Os jogadores não voltaram à Suíça para se defender e nunca cumpriram as penas, que prescreveram —em 1997 ou 2004, a depender da interpretação legal. No dia do julgamento, 15 de agosto de 1989, apenas Fernando tinha um advogado presente — Cacalo disse estar presente, mas isso não consta dos autos.

Repercussão do caso

A acusação de estupro acompanha a carreira de Cuca, mas foi apenas em 2023 que o tema ganhou dimensão maior, após o treinador ter assumido o comando técnico do Corinthians. Com protestos intensos de redes sociais e do time feminino do clube, ele deixou o cargo após dois jogos, em 26 de abril.

Cuca sempre disse ser inocente. Uma versão inicial era de que ele tinha uma "vaga lembrança" do ocorrido e de que havia sido julgado à revelia. Na versão do técnico, o quarto era duplo e em forma de L, e ele não viu o que os colegas fizeram com Sandra Pfäffli. À época, contudo, ele disse ao jornal Zero Hora que todos "deviam pagar", independentemente do que tivessem feito. 

Cuca foi inocentado?

Não. Sua defesa, contudo, reuniu elementos novos para sustentar que ele não estuprou Sandra, mas o Tribunal de Berna fixou-se apenas na irregularidade do julgamento. (Com FOLHAPRESS) 

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