A segunda matéria falando sobre vôlei, da série 'Superconquistas', traz a presença de um jogador que acabou se destacando em meio às três conquistas do Fiat Minas na década de 1980. A seção do Super.FC traz histórias, lembranças, entrevistas, casos, dados e números de importantes conquistas do esporte mineiro.
O primeiro título da série do tricampeonato do Brasileiro de vôlei masculino em 1984, 1985 e 1986, teve a força do grupo como um dos diferenciais. O time titular, comandado pelo técnico sul-coreano Young Sohn, tinha Hélder como levantador, Pelé como oposto, Elberto e Zé Eduardo de centrais, além de Henrique Bassi e Cacau como ponteiros.
Era uma época diferente da atual, com os centrais também tendo a função de recepcionar o saque adversário, exigindo que os jogadores desta posição fossem completos. Apesar da unidade ser enaltecida por todos os integrantes daquele time que conversaram com a reportagem, um jogador em especial ganhou elogios de destaque por parte do ex-central Elberto.
Além dele, o oposto Pelé integrou os convocados da seleção brasileira após a primeira conquista de 1984, com a dupla sendo recompensada pelo bom desempenho que fez o clube da Rua da Bahia retomar o posto de melhor time do Brasil depois de 20 anos. Os dois grandes adversários do Minas naquele campeonato, Pirelli (SP) e Atlântica Boavista (RJ), contavam com todos os 12 atletas da seleção nacional.
Pelé e Elberto, que fizeram parte do elenco três vezes campeão nacional, foram chamados dois dias após o título de 1984 para um amistoso contra os Estados Unidos, repetindo a final dos Jogos Olímpicos daquele ano, que seria realizado no estádio Rei Pelé, em Maceió (AL). "A disputa por posição no Minas era sadia, o grupo foi o grande responsável por tudo que conquistamos. Mas o Pelé se destacou, fez uma grande diferença com saques e ataques potentes. Ele era um grande líder e puxava o time. O Shon o chamava de 'Star Play' por ser tão decisivo", elogia Elberto. "Ele falava que eu era o mais famoso do grupo e que se eu jogasse bem, a equipe também iria desempenhar um bom papel. Aquilo me dava mais responsabilidade e aumentava meu nível de concentração", lembra Pelé, que fez as categorias de base no Guaíra e também no Olympico e sofreu com preconceitos por causa da sua cor.
No vídeo ao final desta matéria, é possível perceber a força ofensiva de Pelé, que mostrava facilidade para colocar bolas no chão e explorar o bloqueio adversário, sempre mostrando muito vigor físico.
Braço 'quente' e 'pilha' nos treinos
O central Zé Eduardo Bara, um dos centrais do times, se lembra muito bem de como Pelé tinha um papel de motivador do grupo. "Ele era muito carismático, muito brincalhão e sempre vinha com ideias de apostas antes dos treinos, como quem acertava, de toque, a bola na cesta de basquete. Tudo pra ele valia uma Coca-Cola de litro, já que ele não bebia. Ele era muito divertido, a gente ria muito com ele e sempre levantava o astral do grupo mesmo com treinos tão cansativos ", diverte-se Zé Eduardo.
A presença do treinador coreano fez o Minas jogar com muita velocidade, dificultando a marcação do adversário para as várias bolas que Pelé batia.
"Ele era um gigante, um líder natural, chamava a responsabilidade do time nos momentos decisivos. Também era um jogador muito versátil, batia bola rápida no meio, do fundo, tinha a pipe também, muito parecida com a que temos hoje. Era como um chute na veia, o braço dele era 'quente' demais. A gente brincava que a bola dele era perdigueira, porque saía caçando os outros do outro lado da quadra. Já vi muito craque virar as costas com medo dos ataques dele. Foi um prazer ter jogado ao lado dele no Minas, Atlético e Sadia", descontrai.
Pelé teve influência direta para formação do elenco campeão
A formação do time do Fiat Minas se deu com o fim da equipe do Atlético, que contava com alguns dos grandes nomes do cenário do vôlei mineiro na época, muitos deles atuando anos antes no próprio Minas. O Galo foi até a Rua da Bahia para tirar do clube de Lourdes nomes como do técnico Décio Viotti, além de Pelé, Cacau, Elói, Zé Eduardo, Luiz Eymard, Mário Vilas Boas, Carlos Rogério e Hélder.
A saída de Pelé, que havia recebido proposta do Minas, foi a deixa para o então presidente Elias Kalil desfazer a equipe, com o oposto sendo seguido por quase todos os companheiros, que retornaram para o bairro de Lourdes que, até então, se virava com muitos juvenis.