Em uma das primeiras cenas do anime Haikyuu, desenho japonês que tem a temática de voleibol, o pequeno Hinata assiste a um jogo de vôlei na televisão, onde vê em ação o "Pequeno Gigante", um jogador que precisa superar a falta de altura para se firmar no esporte. Do outro lado do mundo, na vida real, Vitor Yudi, ponteiro titular do Rede Cuca Vôlei tem inspiração semelhante.
Com 1,86m de altura, é considerado 'baixinho' para o vôlei. É, inclusive, mais baixo que alguns líberos em atuação, como Alê, do Vôlei Renata (1,90m), Lucas Bauer, do Sada Cruzeiro (1,92m) e Murilo, do Sesi (1,92m), que se consagrou na carreira como ponteiro antes de mudar de posição.
Ainda assim, Yudi vem fazendo temporada de destaque no time de Fortaleza, sendo um dos motores do time. Aos 23 anos, já tem alguns anos de experiência no vôlei brasileiro, incluindo nas categorias de base da seleção, pela qual foi campeão Pan-Americano Júnior, em dezembro de 2021. No ano, vem tendo atuações de gala. Em jogo contra o São José, por exemplo, terminou a partida com 17 pontos, a maior pontuação do time - entre os pontos, somou dois bloqueios, maior número do clube, mesmo sendo o mais baixo.
Carinhosamente apelidado por alguns torcedores como "Pequeno Gigante", em referência aos personagens do anime Haikyuu, Yudi falou a O Tempo Sports sobre a identificação com o atleta fictício e os obstáculos que ele enfrenta diariamente.
"É uma identificação muito bacana, porque eu sofro diariamente com o estigma. Não só eu, mas também outros jogadores do voleibol mundial sofremos o estigma da altura. Temos sempre que, temporada a temporada, jogo a jogo, provar o quanto conseguimos jogar em alto nível, superando obstáculos e fazendo de tudo. Essa comparação com o anime é porque ele é um jogador baixo e ele tem essa superação e garra de querer mostrar que ele consegue fazer. É muito gratificante para mim me compararem com ele", afirmou o atleta.
"Todos os dias eu tenho que quebrar paradigmas. Eu me identifico com o Pequeno Gigante porque eu sou pequeno também, mas ali dentro da quadra eu tenho que lutar contra os gigantes. Por isso eu aderi com todo carinho esse apelido", contou Yudi.
Depois de jogar Superliga pelo Funvic Natal - e disputar, inclusive, o Mundial de Clubes - Yudi agora é atleta do primeiro time do Ceará da história da liga brasileira. O Rede Cuca, que também tem seus próprios obstáculos a superar, pode ser, ele próprio, um Pequeno Gigante do vôlei.
Na temporada 22/23, o time, que nasceu 100% de um projeto social da periferia de Fortaleza, faz sua estreia na elite do vôlei nacional. No ano passado, o clube ficou em terceiro lugar na Superliga B, com atletas jovens e formados no projeto. Por questões administrativas, recebeu convite da CBV e ficou com vaga na Superliga A, colocando mais uma vez o nordeste no cenário do vôlei nacional.
Para Yudi, o carinho do torcedor nordestino é mais que especial. "Eu já joguei em Natal e, agora em Fortaleza, eu vejo o quanto o povo do nordeste é apaixonado pelo esporte e sempre quer ter times profissionais por lá. Não estamos tendo bons resultados, algo que não foi o que a gente imaginava, mas já sentamos e começamos a nos planejar para o segundo turno, colocando os objetivos na mesa, porque o povo do Ceará merece uma equipe de alto nível no vôlei", concluiu o ponteiro.