Nove membros do Comando Vermelho (CV) foram presos durante a operação Cerberus da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) no Conjunto Taquaril, região Leste de Belo Horizonte, na manhã desta quinta-feira (29 de maio). O delegado Matheus Marques, um dos responsáveis pelas investigações, admitiu, em entrevista coletiva, que existe uma guerra entre facções na comunidade — a apuração em relação ao nome da outra facção ainda não foi finalizada. Pelo menos oito homicídios relacionados ao conflito estão sendo investigados pela PCMG — os assassinatos ocorreram entre outubro de 2024 e abril de 2025.

De acordo com Marques, dos nove suspeitos detidos na ação, três são considerados líderes dentro do CV, dois são gerentes do tráfico e os outros quatro são vendedores de drogas. Outros três alvos da operação não foram localizados e são considerados foragidos. Além das prisões, a Polícia Civil apreendeu documentos, celulares, dinheiro, drogas e outros objetos considerados essenciais para as investigações.

Assassinato de jovem deu início às investigações

O delegado afirmou que as investigações que resultaram na ação desta quinta-feira (29) se iniciaram logo após a morte de um rapaz de 22 anos, que foi executado a tiros por dois homens na frente da namorada, no Taquaril, no dia 30 de outubro de 2024. Na ocasião, um dos suspeitos foi preso e disse que cometeu o crime porque o rival "merecia".

"A partir deste homicídio, nós obtivemos elementos de informação e chegamos à conclusão da existência da facção na comunidade. Percebemos que os membros dessa organização estavam ceifando (tirando) a vida de outros justamente para tentar aumentar o domínio territorial e, consequentemente, expandir a venda de drogas no Taquaril, visando ao aumento do lucro", explicou.

+ Homem é preso suspeito de matar rival e atirar na namorada dele em BH: 'Ele mereceu'

"Tem gente morrendo", diz delegado sobre guerra no Taquaril

Questionado sobre a existência de uma guerra de facções criminosas no Taquaril, o delegado admitiu que sim, "pois tem pessoas morrendo". "Uma guerra, a gente pode afirmar que existe, pois tem gente morrendo. Agora, se é ou não ligada ao Comando Vermelho e ao Primeiro Comando da Capital (PCC), só com a conclusão do inquérito a gente vai poder afirmar", ressaltou. No entanto, o delegado afirmou que a guerra ocorreu entre o CV e outra facção.

Marques reforçou que a PCMG está empenhada em reprimir a entrada de organizações criminosas nas comunidades do Estado e afirmou que, apesar da guerra no Taquaril, a "instituição quer mostrar que não haverá domínio de território por organização criminosa nenhuma, tanto que a polícia pode entrar em qualquer lugar".

"A gente levou a nossa chefe de polícia e a superintendente para o meio do aglomerado. Não houve um disparo de arma de fogo, nenhuma situação fugiu do nosso controle. Isso ajuda a reforçar a sensação de segurança e também demonstra que, aqui em Minas Gerais, a Polícia Civil entra em qualquer lugar", enfatizou.

+ Grupo do Comando Vermelho finge ser polícia e mata jovem com 14 tiros de fuzil em BH

Moradores ajudaram anonimamente

Matheus Marques apontou que, em razão da escalada de homicídios que ocorreram em um curto período na região, moradores e até familiares dos criminosos procuraram os investigadores da PCMG e "forneceram elementos que subsidiaram as investigações, que foram corroboradas com dados telefônicos, quebra de sigilos e depoimentos sigilosos".

"As investigações relacionadas à organização criminosa acabam esbarrando na lavagem de dinheiro. Nós já temos materiais contendo troca de mensagens, envios de Pix, CPFs. Os dispositivos eletrônicos apreendidos na data de hoje só robustecem a investigação, que, provavelmente, vai caminhar nesse sentido após a identificação de todos os integrantes da organização", pontuou o delegado.

PH x Gordo: entenda guerra do CV com o PCC que aterroriza população no Taquaril

O que quer dizer Cerberus?

O nome da operação faz alusão a uma palavra da mitologia grega que representa um cão de três cabeças que impede que a alma dos mortos volte para o mundo dos vivos. No âmbito da operação, a ideia é impedir que facções de outros estados se instalem em Minas Gerais.