"Eu amava muito o meu irmão. Foi uma cena horrível ver o corpo dele revirado debaixo da terra", lamenta a cozinheira Alda Brandão, de 44 anos. Ela e a família buscam explicações para o cruel assassinato do pintor Anderson Alves Brandão, de 51 anos, e do amigo dele, um homem de 64 anos. Os dois foram mortos dentro de casa no bairro Jardim Colonial, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH. Os corpos foram encontrados enterrados no quintal do imóvel na última segunda-feira (23). Uma das vítimas ainda estava dentro de uma mala.

O principal suspeito do crime, um homem de 28 anos, que foi localizado pela Polícia Militar (PM) dentro da residência, está preso. O caso é investigado pela Polícia Civil. Uma fonte da instituição informou ao Super Notícia que há a suspeita de que pelo menos mais uma pessoa esteja envolvida no duplo homicídio.
 
Mas Alda Brandão afirmou não conhecer o suspeito de matar o irmão dela. A cozinheira, que mora no bairro Sevilha, também em Ribeirão das Neves, contou que de 20 em 20 dias, levava a mãe para visitar o irmão na casa no bairro Jardim Colonial. Segundo a cozinheira, na última segunda-feira, a matriarca acordou com um sentimento diferente e pediu que a filha a levasse para ver o filho.

"Minha mãe acordou angustiada nesse dia e pediu para ver meu irmão. Chegando lá, alguns vizinhos e pessoas do bar que ele costumava frequentar falaram que estava há três dias sem ir ao local, não era visto desde sexta-feira (20). Deixei minha mãe com uns amigos, subi na casa e bati no portão", conta Alda.

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Após insistir três vezes, um homem atendeu, mas não era o irmão. Ao questioná-lo, Alda recebeu a resposta que nem ele e nem o amigo moravam mais na casa e que a tinham vendido para ele. "Eu fui onde tinha deixado minha mãe e comentei com o dono do bar que não tinha achado os dois, mas que tinha um rapaz no local. Acharam muito estranho", lembra.

Alda então acionou um casal de vizinhos de uma casa ao fundo da que o irmão morava. A mulher disse que ouviu uns barulhos de ferramentas nos dias anteriores, mas que achava que era obra, já que o irmão da cozinheira costumava mexer com isso. "Nós fomos novamente na casa, e o homem resistiu, não deixava a gente entrar. Contactamos a polícia, que chegou ao local e aí conseguimos entrar", conta.

Cena de horror

O que a cozinheira e os policiais viram foi uma cena de horror, afirma. Em imagens obtidas pela reportagem (veja o vídeo), é possível notar que o local estava completamente revirado, com bastante material de obra e também manchas de sangue espalhadas pelas paredes e em um colchão.

"Tinha um monte de folhas de bananeiras espalhadas no quintal. Falei com os policiais que estava tudo muito remexido e que duas pessoas que moravam lá estavam sumidas. O homem foi se enrolando nas explicações para a polícia. Percebemos que tinha bastante sangue na casa, seguimos um rastro e encontrei o colchão cheio de sangue. Os policiais pediram para a gente deixar a casa e deram voz de prisão para o suspeito", completou.

À noite, o Corpo de Bombeiros chegou ao local e conseguiu, com a ajuda de cães farejadores, localizar os corpos enterrados próximo a uma bananeira, no quintal da casa. A última imagem que Alda teve do irmão, ela não queria guardar.

"Difícil, muito complicado. Ver meu irmão revirado debaixo da terra. Eu o amava muito. Um bom irmão, um bom filho. Um bom amigo, extremamente prestativo. Todo mundo gostava muito dele", lamenta.

Amigos

De acordo com Alda, o irmão morava na mesma casa que o amigo há cerca de seis anos. Anderson Brandão era pintor e também ajudava a outra vítima, que após sofrer um acidente de carro, precisou se aposentar por invalidez. Agora, a família quer entender a motivação do crime.

"Ninguém conhecia esse homem. Era um desconhecido. Acho que pelo meu irmão e o amigo gostarem consumir álcool e ele querer muito morar na casa dos dois, achou que eram alcoólatras e que ninguém ia dar falta", completou.

O sepultamento de Anderson Brandão está previsto para às 12h desta quinta-feira (26), no cemitério Porto Seguro, em Ribeirão das Neves. A reportagem não localizou familiares da outra vítima.

Suspeito

Para a Polícia Militar, o suspeito do crime apresentou versões contraditórias. Primeiro, disse que havia comprado a casa por R$ 20 mil; depois, afirmou ter pagado apenas R$ 18 mil; por fim, declarou que “fez uns corres para o velho, e o velho lhe deu a casa”, conforme consta no boletim de ocorrência e, por isso, acabou preso.

Além da casa revirada e marcas de sangue em paredes e no colchão, consta no boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar que foi localizado um martelo com vestígios de sangue seco, ao lado de roupas ensanguentadas. Também foram encontradas munições deflagradas de calibre 22 em meio a um monte de brita no quintal.

Revoltadas com o crime, pessoas atearam fogo à casa do pai do principal suspeito do duplo homicídio, conforme uma fonte que investiga o crime. Entre a noite de terça-feira (24) e a madrugada de quarta-feira (25), o Corpo de Bombeiros foi acionado para controlar as chamas no local. Ninguém ficou ferido. Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso pelo ataque. A Polícia Civil apura quem teria ateado fogo no imóvel.

Investigação

Por meio de nota, a Polícia Civil de Minas Gerais disse que ratificou a prisão em flagrante do suspeito pelos homicídios qualificados, devido ao meio insidioso ou cruel utilizado no crime, e a ocultação dos cadáveres. Após as atividades de polícia judiciária, ele foi encaminhado ao sistema prisional, onde se encontra à disposição da Justiça.

A perícia foi feita e colheu vestígios relacionados ao crime. O inquérito é conduzido pela Delegacia Especializada em Investigação de Homicídios no município. A motivação do crime não havia sido divulgada até a publicação desta reportagem.