Dezenove trabalhadores — entre eles três crianças — foram encontradas enquanto trabalhavam de forma irregular em uma pequena fábrica clandestina de sabão em pó falso, na cidade de São Gonçalo do Pará, na região Centro-Oeste de Minas Gerais. O empreendimento flagrado durante a operação "Sabão Encardido", deflagrada nesta sexta-feira (5 de setembro) pela Receita Estadual com o apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar (PM), foi a 14ª fábrica de sabão falso fechada na região desde o segundo semestre de 2024

Durante a ação desta sexta, foram apreendidas 55 toneladas de sabão falsificado, sendo 33 bags de uma tonelada, 24 mil caixas de 800 gramas e 2.133 caixas de 1,6 kg. Todas as caixas eram réplicas "quase perfeitas" da embalagem do produto líder de mercado. 

Em entrevista a O TEMPO, o delegado fiscal da Receita Estadual em Divinópolis, Montovany Ângelo de Faria, contou que as ações contra o que ele chamou de "fabriquetas" de sabão começaram após a comercialização dos produtos falsificados ser identificada e o órgão passar a rastrear eletronicamente por meio das notas emitidas. 

"Identificamos que a fabricação acontecia no Centro-Oeste e, em menos de um ano, já fechamos 14 destas fabriquetas. Chamo assim pois são muito primárias. É um galpão com uma esteira e eles já recebem o sabão de uma indústria química ainda não identificada. Com isso, eles convidam alguém para alugar um galpão pequeno, aluga uma empilhadeira e, lá, só empacotam esse sabão", detalha. 

Segundo o delegado fiscal, as embalagens provavelmente são impressas em alguma gráfica de uma pessoa conhecida, sendo que os responsáveis pelas pequenas fábricas ganham somente para embalar o produto falsificado.

"Mas ela assume todo o risco de ser flagrada pela fiscalização. No caso de hoje (sexta), estes 19 trabalhadores estavam trabalhando em condições precárias, sem segurança nenhuma, sem refeitório. Mas não é trabalho escravo, uma vez que eles viajam diariamente de van para Nova Serrana, onde moram, e ganham de R$ 200 a R$ 300 por dia pelo serviço", completou Montovany. 

Após serem identificadas três crianças trabalhando no local, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foi acionado e tipificou o crime. A Polícia Civil ouviu todos os trabalhadores 

Produtos são vendidos em BH, Rio, São Paulo e Goiás

Ainda conforme o delegado fiscal da Receita Estadual, já foi possível rastrear os produtos falsos sendo vendidos na Região Metropolitana de Belo Horizonte e, também, em cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. O órgão também já identificou a comercialização do sabão falso no Ceasa, em Contagem. 

"Estamos diante de uma quadrilha que pega um produto de quinta qualidade e vende como de primeira. Ela (organização) coopta pessoas carentes para trabalhar. Temos uma investigação muito aprofundada e posso dizer que iremos chegar nesta indústria por trás do esquema em breve", garante Montovany. 

Questionado sobre o que diferencia o comércio do sabão falso para, por exemplo, calçados fabricados na mesma região, o delegado explica que, em ambos os casos englobam questões de direito de marca, evasão de divisas e desoneração tributária. "Mas quem compra um tênis, compra muito mais barato e sabe que ele é falso. Neste caso, a pessoa vai ao supermercado, paga o preço da marca líder de mercado e recebe um produto pior. Até mesmo os supermercadistas estão sendo enganados", pondera. 

Saiba como diferenciar o falso do original

Se você ficou em dúvida sobre como diferenciar, na hora de comprar o sabão em pó, o produto falso do original, a resposta não é tão simples. Segundo Montovany, a embalagem é "praticamente" perfeita, sendo que a única coisa que as diferencia é a forma de fechamento da caixa. 

"A líder de mercado tem um processo mecânico. Essa organização tem a caixa perfeita, mas não tem a cola. Eles usam uma espécie de cola quente, como essa que seu filho usa na escola. Essa dica inclusive está no site da fabricante", completou. Ainda segundo ele, muitas vezes os produtos falsos são vendidos aos supermercados "misturados" com caixas originais, o que dificulta ainda mais a sua identificação.

Nas 14 fábricas já fechadas durante a operação, foram apreendidas 500 toneladas de sabão falsificado. Os produtos serão destruídos nos próximos dias, uma vez que, por não ser possível garantir a segurança dos usuários, não daria, por exemplo, para fazer doações para pessoas carentes. 

Nenhum responsável pela fábrica foi localizado no momento da fiscalização. As investigações continuam.