Um guarda municipal de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está sendo investigado por aplicar golpes que ultrapassam R$ 400 mil, segundo relatos de vítimas. O caso está sendo investigado pela Corregedoria da corporação e corre em segredo de Justiça. O guarda foi afastado das funções na segunda quinzena de maio deste ano e segue fora das atividades até a conclusão das apurações.
O servidor teria usado sua posição pública e relações pessoais para atrair a confiança de conhecidos, oferecendo falsas oportunidades de investimento e solicitando empréstimos com promessas de lucro rápido, que nunca se concretizaram.
Em entrevista ao Super Notícia, uma das vítimas, o produtor de eventos Simon Matos Pio, de 36 anos, relatou ter conhecido o guarda há mais de 16 anos e que o considerava um amigo íntimo. Ele contou que emprestou mais de R$ 12 mil ao guarda municipal durante uma viagem ao Paraguai, acreditando que receberia o valor com lucro dias depois.
“Ele me pediu dois valores emprestados, um de R$ 5.000 e outro de R$ 7.200, alegando que compraria iPads e outros produtos para revenda. Disse que me pagaria em quatro dias. Já se passaram mais de três meses, e ele não me deu nenhum retorno”, contou Simon. “Ele usava a posição dele na Guarda para dar credibilidade. Eu me sinto traído. Era um amigo que frequentava minha casa”, lamentou.
Simon também afirmou que após tornar o caso público nas redes sociais, mais de 30 pessoas entraram em contato com ele relatando situações semelhantes. “Só em um grupo de WhatsApp com 16 pessoas, os prejuízos já passam de R$ 400 mil. E tem muito mais gente aparecendo”, disse o produtor de eventos.
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Outro relato é do empresário Diego de Abreu Mendonça, de 41 anos. Ele conta que, ao contrário de outras supostas vítimas, não entrou em um esquema de investimento, mas assinou um contrato formal de empréstimo de R$ 11 mil com o servidor. “Eu não faço esse tipo de transação, mas ele insistiu muito, usou o fato de a esposa estar grávida e prometeu me pagar em pouco tempo. Assinamos tudo no cartório. Depois de muita insistência, ele pagou metade. O restante virou dívida judicial”, detalhou.
Diego afirma que o guarda usava um discurso padrão: apresentava-se como servidor público, alegava ter estabilidade financeira e garantia de pagamento: “Ele é um cara preocupado com a própria imagem. Já tentou até intimidar vítimas. Em uma das tentativas de negociação, chegou a aparecer armado."
Esposa também estaria envolvida
As vítimas apontam ainda que a esposa do investigado também estaria envolvida nos golpes. Parte das transações foi realizada por meio de contas bancárias ligadas à empresa dela. “Há relatos de mercadorias não entregues e até produtos supostamente roubados sendo vendidos”, acrescentou o empresário Diego.
A Secretaria Municipal de Defesa Social de Contagem informou que tomou conhecimento das denúncias na segunda quinzena de maio, quando o guarda foi imediatamente afastado das funções. “Os fatos estão sendo apurados, e o caso é tratado como prioridade pela Corregedoria da Guarda Civil de Contagem (GCC), em razão da gravidade das denúncias. Uma audiência foi realizada no dia 8 de julho, mas os detalhes não podem ser divulgados por estarem sob segredo de justiça" informou a pasta.
Ocorrências foram registradas
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) confirmou que há registros de ocorrências de estelionato envolvendo o nome do guarda. Em nota, a corporação reforçou que o crime é de ação penal pública condicionada à representação da vítima.
“Orientamos que qualquer cidadão lesado procure a delegacia mais próxima e apresente provas que possam subsidiar o inquérito policial", reforçou a corporação.
O servidor foi procurado pela reportagem por meio de telefonemas e mensagens, mas até a publicação desta matéria não tinha dado retorno. O espaço segue aberto.
"É sobre dignidade e justiça"
As vítimas continuam se organizando por meio de redes sociais e grupos de mensagens para reunir provas, trocar informações e pressionar as autoridades por justiça. Segundo Simon, a esperança é que a exoneração do servidor ocorra em breve: “Ele já não tem nada no nome. Estamos tentando bloquear qualquer patrimônio possível. Não é só sobre dinheiro. É sobre dignidade e justiça”.