Um crime de "encomenda" envolvendo dois amigos chocou Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e ganhou repercussão pela traição e frieza envolvidas. Marcos Danilo dos Santos Rocha, de 25 anos, foi assassinado em julho de 2021 após emprestar R$ 100 mil a Alexandre Hermenegildo Mateus, empresário do ramo da construção civil. Além de não quitar a dívida, Alexandre também deixou de pagar os R$ 50 mil prometidos ao executor do crime. Os dois suspeitos - o mandante e o executor - foram presos pela Polícia Civil.

Siga o Instagram do Super Notícia

Segundo o delegado Ítalo Fernandes, da Delegacia de Homicídios de Contagem, Alexandre se aproximou da vítima como um amigo. “Ele pediu R$ 100 mil emprestados, e a vítima, que o considerava como irmão, prontamente cedeu. Chegou a dizer: ‘Eu te considero como irmão, te empresto sem problema algum’”, relatou o delegado. O empresário, que ostentava patrimônio e veículos de luxo em nome de terceiros, não devolveu o valor no prazo de 60 dias combinado.

Apesar da inadimplência, Marcos Danilo manteve uma postura pacífica, evitando confronto direto. “A vítima não queria brigar. Ele só pedia: ‘Me passa pelo menos metade, que eu tô precisando’. Havia comprado um imóvel e precisava do dinheiro para mobiliar”, afirmou o delegado.

Diante da frustração, Marcos decidiu vender a própria moto. Como teve dificuldades para anunciar o veículo, pediu ajuda a Alexandre, sem imaginar que isso seria usado contra ele. O empresário fingiu ser um comprador interessado, combinou o encontro com a vítima e contratou um executor para matá-lo.

“No dia do assassinato, após um desencontro de horários, a vítima voltou para casa. Quando entrou com a caminhonete na garagem, foi surpreendida pelo executor, que o aguardava no local e o matou com tiros de pistola calibre .380”, detalhou Ítalo Fernandes.

O executor do crime era um pedreiro de 34 anos, ex-funcionário de Alexandre. Ele confessou a autoria do homicídio e afirmou que aceitou o serviço por causa da quantia prometida. “Era um excelente trabalhador e tentava se regenerar após problemas com a Justiça. Mas foi assediado pela proposta financeira e acabou cometendo o crime”, explicou o delegado. Após a execução, ele entregou ao mandante a moto usada na fuga e a arma do crime - mas também não recebeu o valor acordado.

As investigações enfrentaram obstáculos, principalmente pelo grande volume de dados analisados - mais de 500 mil páginas - e pela ausência de qualquer relação entre executor e vítima, o que dificultou a conexão entre os envolvidos. “Um ponto crucial foi a quebra do sigilo telefônico, que nos permitiu amarrar os elementos da trama”, afirmou o delegado.

Outro fator que chamou atenção foi o comportamento do mandante após o assassinato. “Alexandre manteve contato com a família da vítima, frequentava os mesmos ambientes. Se portava como um cidadão exemplar, com vida social ativa, viagens internacionais e aparência de legalidade, embora escondesse o verdadeiro patrimônio em nomes de terceiros”, destacou Ítalo Fernandes. A Polícia Civil apura também se o empresário possui empresas fora do país.

O mandado de prisão preventiva contra Alexandre Hermenegildo Mateus foi cumprido no dia 1º de julho deste ano. O executor já havia sido identificado e preso anteriormente, em 2022. Ao todo, mais de 15 pessoas foram ouvidas formalmente durante a investigação.

Marcos Danilo deixou um filho de 4 anos. Trabalhava com marketing digital e era considerado tranquilo e generoso. “A única pessoa que podia ter alguma coisa contra ele era justamente alguém que ele considerava como irmão”, finalizou o delegado.