No nome, uma cozinheira de 60 anos tinha o símbolo da luta contra a violência contra a mulher: Maria da Penha. E assim como aquela que deu voz ao combate a este tipo de crime, a moradora de Santa Luzia, na Grande BH, acabou vítima dele. Ela foi cruelmente assassinada pelo companheiro. Segundo a Polícia Civil, Isaque Trindade, de 40 anos, procurou a delegacia da cidade na manhã desta quarta-feira (9/7) e confessou ter estrangulado a vítima até a morte.

O crime teria acontecido na noite de terça-feira (8/7) na residência onde o casal vivia. O corpo da cozinheira foi localizado debaixo de uma cama com sinais de violência. Segundo familiares, o relacionamento do casal era conturbado e marcado por episódios de violência. 

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Eles contaram ao Super Notícia que Trindade já havia tentado matar Maria Penha no passado, quando tentou enforcá-la com um fio de internet dentro de casa. Na época, ela se recusou a registrar boletim de ocorrência, mas o primo dela fez o registro. Depois do episódio, o suspeito foi para São Paulo, onde, segundo os parentes da vítima, teria se envolvido em outro assassinato - informação ainda não confirmada pela Polícia Civil.

Uma sobrinha da vítima, que pediu para não ter o nome publicado, revelou que no ano passado, Trindade retornou a Santa Luzia prometendo que mudaria de comportamento. Ele teria dito à Maria da Penha que largaria as drogas, voltaria para a igreja e retomaria o caminho “correto com Deus”.

Agressões

Apesar das promessas, o clima entre o casal continuava pesado, com discussões frequentes, conforme a testemunha. “Na sexta (4/7), eles discutiram feio por causa de um telefone. Desde então, não estavam mais se falando direito”, afirmou.

A última vez que parentes teriam visto Maria da Penha foi na tarde de segunda-feira (7/7), quando ela preparava temperos embaixo de uma árvore, como fazia de costume. No dia seguinte, contaram testemunhas, o som da casa em que ela morava foi ligado em volume alto, mas ninguém percebeu nada. Nesta quarta, ela não apareceu no trabalho, o que preocupou a todos.

“Fomos até a UPA, na fábrica de filtros, ligamos pra todo mundo e ninguém sabia dela. Encontramos com o Isaque (Trindade), que disse que estava na delegacia pra registrar o desaparecimento. Ele entrou no carro reclamando, dizendo que ela some sem avisar”, relata a mesma parente.

Desconfiados, os familiares foram até a casa do casal. Inicialmente, não perceberam nada. Foi só ao entrar no banheiro e notar um pedaço de forro branco no chão que começaram a suspeitar. “Minha mãe que encontrou ela. A farinha de trigo estava no liquidificador, como ela deixou. A gente acredita que ele matou ela ainda ontem”, diz.

Cena triste

O corpo de Maria da Penha estava com as mãos amarradas, escondido debaixo da cama. “Ela dormia em outro quarto, trancada. Minha avó sempre dizia que tinha medo de ele tentar matar ela de novo”, contou, emocionada, a familiar. “Ver ela naquela bandeja, levando o corpo dela embora… a gente não acreditava que ele chegaria a esse ponto”, lamenta.

Lembrança

Maria da Penha era muito conhecida na região por seu tempero e sorriso fácil. Tinha um trailer e trabalhava como cozinheira nas proximidades da residência. “Todo mundo conhecia o cheiro da comida dela. A última lembrança que temos é dela sorrindo.”

O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte. Trindade está preso e vai responder pelo crime de feminicídio. A Polícia Civil informou, em nota, que o suspeito terá a prisão ratificada e ficará à disposição da Justiça.