Charuto, colete, terno, óculos escuros chamativos. O visual de Turco Mohamed, novo comandante do Atlético, é um capítulo à parte na trajetória do treinador argentino de 51 anos, que coleciona títulos, histórias e uma perda trágica que o fez encarar a carreira de técnico com outro propósito e destino.

Ex-atacante do Huracán, da Argentina, seu clube do coração, do Boca Juniors, da Fiorentina, do Monterrey e da Seleção Argentina, Turco se destacou em campo pela qualidade e pela excentricidade. Foi um dos pioneiros do estilo de cabelos longos na década de 90. Lançou o coque samurai, a tiara e pinturas no cabelo. Usou bermudas coloridas por baixo do calção.

De bom papo, carismático e agregador, Mohamed coleciona boas relações no futebol e é querido por onde passa. Menos no Boca Juniors Mohamed é odiado até hoje pela torcida xeneize, que não o perdoa por ter perdido um gol cara a cara com o goleiro do Huracán.

Na visão dos torcedores, o erro foi proposital, já que Turco nunca escondeu seu amor incondicional pelo Huracán desde a infância. O Huracán disputava a permanência na elite do futebol argentino e uma derrota sacramentaria o descenso. O jogo terminou 0 a 0. Turco nunca reconheceu que o erro foi proposital.

Fatalidade

Mohamed sofreu o golpe mais duro da vida em 2006, quando tinha apenas dois anos que havia se tornado treinador. Em uma viagem com o filho Farid, de nove anos, para a Alemanha, onde realizaria o sonho do herdeiro de ver a seleção argentina numa Copa do Mundo, teve um acidente gravíssimo que quase o fez perder uma das pernas. O pequeno Farid não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital.

Farid era o segundo filho de Mohamed, que também tinha a primogênita Mayra. Os dois acompanharam o final da carreira de Turco como jogador no Monterrey. Daí a paixão de Farid pelo clube mexicano. Uma promessa feita ao filho, ainda no funeral do garoto, de que venceria um título pelo clube do coração de Farid, o Monterrey, norteou o trabalho de Mohamed.

Mohamed conquistou títulos importantes e fez trabalhos interessantes a partir dali. Levou o Independiente, da Argentina, ao título da Sul-Americana. Ganhou o Apertura mexicano com o Tijuana e com o América, além de copas mexicanas.

Glória

E a promessa feita a Farid foi cumprida 13 anos depois. Em 2019, no comando do Monterrey, conquistou o Apertura, nos pênaltis, diante do América. A imagem de Mohamed, no banco de reservas, chorando copiosamente, com o terço que leva o nome de Farid nas mãos, rodou o mundo e emociona qualquer um que a assista.

Na entrevista coletiva após a partida, Mohamed prestou sua homenagem:

"Dedico esse título a Farid e aos meus pais. Eles devem estar fazendo uma grande festa no céu".

Como um último grande ato no Monterrey, Mohamed encarou de igual para igual o Liverpool, de Klopp, na semifinal do Mundial de Clubes da Fifa em 2019. Empatava o jogo até os 45 do segundo tempo, mas foi castigado com o gol de Firmino.

Sem clube desde 2020, quando deu uma pausa na carreira por conta própria, Mohamed chega ao Galo para dar sequência à coleção de histórias e estilos e com o desejo de se tornar único no Brasil assim como é no México e na Argentina.