A euforia e confiança da maior parte da torcida com relação à aquisição de 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro por Ronaldo Nazário não parece ser a mesma de muitos membros do Conselho Deliberativo do clube. Em contato com a reportagem, vários deles alertaram para um sentimento de apreensão em relação a demandas exigidas pelo investidor para realizar o negócio.

O que se sabe até agora é que houve uma reunião nessa segunda-feira (14) entre o Fenômeno e integrantes da Mesa Diretora do Conselho, assim como o presidente da sociedade, Sérgio Santos Rodrigues. Nela, ele apresentou algumas demandas para fazer a aquisição, – que deve ser concluída até o dia 18 de abril – como se tornar proprietário das Tocas da Raposa I e II.

No entanto, até o momento, as exigências ainda não foram repassadas para os demais conselheiros de forma oficial, que, posteriormente, precisarão aprovar em votação as mudanças no acordo. Segundo o ex-presidente da Raposa, José Dalai Rocha, essa questão da SAF ainda está "obscura".

"Sem dúvida essas exigências vão gerar atrito. E nós ainda não temos conhecimento direito, apenas pela mídia. De qualquer forma, foi uma exigência (repasse das Tocas) que me pega de surpresa e causa uma apreensão geral. Acertos de contrato, normalmente, permitem revisões e retificações, gerando mudança de até 0,5% do valor. Mas transferir dois centros de treinamento? É muita coisa", disse o conselheiro benemérito.

Rocha teme que o clube perca patrimônio caso o negócio se concretize. "Eu lamento muito que esse assunto esteja sendo levado dessa forma, desde o início. Presidente indo pra São Paulo de madrugada? Em um dia aprova-se a SAF e no outro o Ronaldo já é anunciado? Minha maior tristeza é que um patrimônio centenário, construído por cruzeirenses de verdade, seja tratado assim", completou.

Possível reprovação

Para essas mudanças exigidas por Ronaldo serem aprovadas, a massiva maioria do Conselho precisa aprovar. São mais de 240 com direito a voto.

Paulo Henrique Pentagna, que fez parte do Conselho de Administração da SAF (ele e Alvimar de Oliveira Costa se desligaram do cargo em fevereiro), acredita que mudança no acordo entre Cruzeiro e Ronaldo não deve ser aprovada. "Acho difícil o conselho aprovar a entrega das duas Tocas depois de ter cedido até 90% da SAF, sendo que não há sequer garantias do investimentos R$ 400 milhões", relatou.

Alguns conselheiros contactados pelo Super.FC, que preferiram não se identificar, foram mais incisivos e disseram que, neste momento, não concordam de transferir mais patrimônio a Ronaldo e indicaram que, em uma possível votação, irão votar contra e emperrar o negócio.

De qualquer forma, o que mais foi falado pelos membros é que o negócio, principalmente essas demandas feitas por Nazário, ainda não se tornaram públicas e não é de conhecimento, oficialmente, deles.

Gilvan de Pinho Tavares, ex-presidente e conselheiro benemérito, e Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH, antigo parceiro do clube, disseram que não têm conhecimento sobre o tema.

Presidente

Como o Super.FC noticiou nesta terça-feira (15), Sérgio Santos Rodrigues defende os pedidos de Ronaldo, porque, segundo ele, se as Tocas ficarem com a associação, há o risco delas irem a leilão. "Hoje, as Tocas estão garantindo um pagamento tributário. Então, se eu não tenho dinheiro para pagar esses tributos, que é uma dívida imensa de R$ 400 milhões que a gente conseguiu abaixar para R$ 140 milhões, as Tocas vão pra leilão. E estamos sujeitos a um cara de outro time comprar a Toca da Raposa", disse. Saiba mais AQUI.