“O suor transborda por todo o corpo. A visão é turva. O grito fica entalado na garganta muda. O sentimento é de desespero. Você está grogue. Atordoado. Sem forças. A vontade é de fugir. Correr para longe. Mas suas pernas estão presas. Você nada pode fazer a não ser acordar. Pesadelos são amargos. Aterrorizam. Traumatizam. Chegam a causar dor física. Mas há um lado bom também nos pesadelos. Acredite, eles têm fim. 

O Cruzeiro vive agora o pior pesadelo dos seus quase 99 anos de história: o inimaginável rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro. Merecido. Incontestável. Justíssimo. Não há do que reclamar. A não ser do próprio Cruzeiro. O clube seguiu à risca um roteiro que, paradoxalmente, ninguém escreveu, mas que todos conhecem. As crises política, institucional, moral e financeira não demoraram a se traduzir em atraso de salários, troca de treinadores, brigas no elenco, resultados horrorosos e na terrível e inédita queda.

Nenhum cruzeirense, por mais que neste momento tenha sobre o corpo o sangue que escorre de sua alma, pode dizer que está surpreso com o desfecho desse pesadelo de terror. Lamentar, porém, nunca foi típico desse clube, forjado no suor dos seus fundadores italianos, na diversidade étnica, social e cultural do seu apaixonado torcedor e nos vários períodos difíceis escritos em suas páginas heroicas e imortais. 

Que o Cruzeiro tenha sabedoria e dignidade para curar suas feridas. E para se livrar de todos os males que o machucaram tanto. Que as cicatrizes sejam a inspiração e o aviso exposto na pele para que as noites mal dormidas nunca mais se repitam. Porque quem é acostumado a repetidos sonhos doces de jogadas geniais, golaços inesquecíveis, vitórias épicas e títulos incontáveis não vai se deixar abater com um simples pesadelo.