Um dos locais mais tradicionais para a cena esportiva e cultural de Belo Horizonte vive sua maior crise financeira com a pandemia impondo uma situação inédita.
A quadra da Avenida Vilarinho, em Venda Nova, na região da Pampulha, inaugurada em 1979, não conseguiu evitar todas as mazelas impostas pela pandemia do coronavírus, que fez com que as festas, principal fonte de renda, fossem proibidas de serem realizadas. Apesar da placa de aluga-se e vende-se na porta, o local segue aberto, resistindo como pode e contando com as 'peladas' de futsal para a única renda que ainda é possível para seguir 'respirando'.
Os custos de manutenção impuseram uma grande dificuldade para Francisco Filizzola, responsável pelo local desde sua criação, que não teve alternativa a não ser suspender as atividades festivas após redução gradativa do número de funcionários.
"Ficamos fechados por um ano e meio, quase, agora que o futsal foi liberado com restrições. Os eventos-chefe, que eram os bailes, não estão permitidos. Pelo meu entendimento, isso vai acontecer no final do ano que vem e, ainda, com restrições. A placa lá fora foi uma decisão que posterguei por algum tempo, mas que já deveria ter sido tomada antes. Se alguém aparecer para comprar por um preço justo, eu vendo", comenta Chico, como também é conhecido, não querendo revelar o valor que gostaria de receber.
O local segue disponibilizando o espaço de forma gratuita para a comunidade entre 14h e 17h, de segunda a sexta, para a prática do futsal. "Ali, eles que organizam e resolvem qualquer desavença", conta.
Chico lamenta pela situação do local, que já recebeu, também, aulas de dança para idosos e escolinhas de futsal. O custo de um professor para estas atividades é um dos impedimentos que não permitem a sequência de tais projetos.
"Sou uma pessoa otimista e acredito que se tiver união de atitudes entre população, Estado e empresariado, podemos voltar a ter a quadra ativa. Mas se seguirmos nesta 'torre de babel' atual, vai ficar complicado", projeta.
Lenda
Além dos jogos e festas, o local ficou muito conhecido por uma história enigmática do 'Capeta do Vilarinho'. Durante um concurso de dança, na década de 1980, um rapaz desconhecido da região, loiro e de olhos azuis, apareceu para participar do evento, levando o prêmio de campeão. Quando foi tirar seu chapéu em determinado momento, foram vistos dois chifres que assustaram a todos.
O tal dançarino, assustado, teria pulado o muro e deixado forte cheiro de enxofre no ar. Ao passar pelo funcionário da porta, teria esbarrado com um rabo pontiagudo. Dizem que a ferida do tal porteiro nunca mais se fechou e também cheirava muito mal.
Francisco Filizzola admite que tudo não passou de uma estratégia de marketing, realizada em 1989, durante período de dificuldades financeiras. O local precisava de uma história que daria mídia espontânea e assim foi criada a lenda, que fez o local ser conhecido para além de eventos esportivos e culturais, entrando no imaginário da região e da capital mineira.
"Foi uma jogada que deu certo, o movimento aumentou muito após isso. A gente começou a ter visibilidade e hoje também temos credibilidade. Ganhamos, com essa lenda, espaço na mídia, quando saiu em um veículo, virou pólvora, saiu em vários outros", relata.