Ao se tornar Patrimônio Natural Mundial da Unesco, o Cânion do Rio Peruaçu, localizado entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, do Norte de Minas, ganha visibilidade internacional, impulsiona o turismo sustentável na região, atrai novos investimentos e fortalece a necessidade de sua preservação.

“O reconhecimento pela Unesco não é apenas simbólico, mas uma ferramenta importante para proteger, valorizar e desenvolver a região de forma sustentável”, destaca o espeleólogo Leonardo Giunco, um dos responsáveis pela candidatura do sítio arqueológico na Unesco.

Para Maria Jaqueline Rodet, professora de arqueologia e antropologia da UFMG, o título vai trazer muitos turistas e mostrar para o Brasil e o mundo uma riqueza incomensurável. “Vai chegar mais turistas, mais conhecimento, mais dinheiro e mais possibilidades de conectar nossa arqueologia com a arqueologia internacional de maneira rápida e efetiva”, afirma. 

O parque

Criado em 1999, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu possui cerca de 140 cavernas e mais de 80 sítios arqueológicos em uma área de 56.448 hectares. O nome Peruaçu tem origem nos índios Xacriabás, que o chamavam de Peru (buraco, vala, fenda) e Açu (grande), uma referência explícita ao cânion e às grandes cavernas formadas na rocha calcária.

A criação do parque foi importante porque possibilitou que o atrativo fosse estruturado com trilhas, mirantes e passarelas. Administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a unidade de conservação é aberta desde 2014 à visitação pública guiada por condutores ambientais treinados e credenciados. Para a viitação, é obrigatório a presença de um guia condutor do parque.

A visitação ao parque é limitada ao cânion do rio Peruaçu, que corta o vale ao meio e forma grandes cavernas, algumas com 4 km de extensão e 170 metros de altura, chamada cientificamente de “abrigos” ou “lapas”. É possível conhecer todos os atrativos entre dois e quatro dias, dependendo do ritmo de cada pessoa. Há cavernas que compartilham a mesma trilha, possibilitando serem visitadas em conjunto.

Confira os principais atrativos:

Gruta do Janelão

Com 100 m de altura, a gruta do Janelão (foto acima, crédito: Rainer Seffrin / Parana Cavernas do Peruaçu / Divulgação) abriga salões com jardins e cinco claraboias que proporcionam iluminação natural, sob tetos desmoronados e gigantescos espeleotemas. É um grande ateliê a céu aberto que conta a história da presença humana no Vale do Peruaçu.   É lá que se localiza a maior estalactite do mundo, a Perna de Bailarina, com 28 m de comprimento, e pinturas rupestres coloridas com cerca de 12 mil. A trilha que leva até lá tem 4,8 km ida e volta (ou 5h30 de trajeto).

Trilha do Arco do André

Inaugurada em 2018, a trilha do Arco do André (foto acima, crédito: Manoel Freitas / Parana Cavernas do Peruaçu / Divulgação) conta com mirantes naturais únicos, como das Cinco Torres e do Mundo Inteiro, e cavernas monumentais, como do Arco do André e Troncos e Cascudos. São aproximadamente 8 km de extensão e cerca de 7h de duração: o Arco do André é uma trilha com propósito mais aventureiro, onde os visitantes precisam ter condicionamento físico. O roteiro começa na parte alta e depois pelo fundo do cânion, com passagem por dentro de três cavernas atravessadas pelo rio Peruaçu, com o carste e as matas primárias. 

Lapa Bonita

A Lapa Bonita (foto acima, crédito: Acervo ICMBio / Parana Cavernas do Peruaçu / Divulgação) é a caverna mais bela e ornamentada do parque e também a mais escura. O percurso é leve, com 1,5 km ida e volta ou duas horas e 20 minutos. Os salões e galerias estão repletos de espeleotemas, como estalactites e estalagmites, travertinos, ninhos de pérolas, helictites, couve-flor, escorrimentos e colunas. Um dos destaques é o Salão Vermelho, coberto por sedimentos avermelhados, chamado de Salão Vermelho.

Lapa do Índio

O percurso até a Lapa do Índio (foto acima, crédito: Latel-UFMG / Divulgação) também é considerada leve (1,5 km ou 2h20 de caminhada). Pode-se observar painéis de arte rupestre pré-histórica intacta que vão até o teto. Do mirante do Índio se avista a abertura da gruta do Janelão e a área do Centro de Visitantes Janelão. Como fica em uma parte alta, o local oferece um mirante com vista da abertura do Janelão.

Lapa do Boquête

A Lapa do Boquête (foto acima, crédito: Latel-UFMG / Divulgação) é pequena e o sítio arqueológico mais estudado do parque. Pode ser alcançada a partir do Centro de Visitantes do Janelão em uma caminhada de 1,2 km ida e volta. Escavações arqueológicas revelaram sepultamentos e um silo pré-histórico, estrutura de armazenamento de alimentos.

Lapa dos Desenhos

Os recursos naturais do Vale do Peruaçu possibilitaram a produção de diferentes pigmentos e a realização de pinturas em alturas consideráveis. A Lapa dos Desenhos (foto acima, crédito: Rainer Seffrin / Parana Cavernas do Peruaçu / Divulgação) não é uma caverna, mas um grande paredão onde se concentra o maior número de pinturas rupestres do Peruaçu, com mais de 3.000 pinturas rupestres com diferentes estilos, cores e técnicas.A trilha de 2,6 km (ida e volta)m que vai até lá, margeia o rio Peruaçu ao longo de uma exuberante mata de galeria, que vai dando espaço à mata seca.

Lapa do Rezar

A Lapa do Rezar (foto acima, crédito: A. Isnardis / UFMG / Divulgação) ganhou esse nome porque as pessoas faziam romaria até o local para rezar. Na entrada está a majestosa claraboia. A gruta reúne desde a grandiosidade do cânion do rio Peruaçu à riqueza da arte rupestre. Destacam-se as dimensões do seu espaço de entrada, o Salão dos Gigantes, que alcança 90 metros de largura e 40 metros de altura, além da variedade de espeleotemas. É o atrativo que mais exige esforço físico: todo o percurso é pela sombra da mata, mas há uma escadaria de 500 degraus na parte final.

Lapa do Caboclo

Curta e fácil, a trilha para a Lapa do Caboclo (foto acima, crédito: Acervo ICMBio / Parana Cavernas do Peruaçu / Divulgação) tem apenas 450 metros (ida e volta ou 1h20). De passarelas se observa um paredão de pinturas rupestres do Estilo Caboclo com pinturas de formas geométricas. Esse tipo de pintura é exclusiva do Vale do Peruaçu. 

Lapa do Carlúcio

A trilha de 2,2 km (ida e volta ou 2h30) para a Lapa do Carlúcio (foto acima, crédito: Acervo ICMBio / Parana Cavernas do Peruaçu / Divulgação) é pontilhada de mirantes, como os da Mata Seca e dos Cactos, revelando variações da mata seca, cactos e matas de galeria. A caverna oferece uma enorme boca de caverna com formações de estalactites, estalagmites e coluna, em uma área iluminada. Ela circunda rochas provenientes do desabamento do teto da caverna.

Serviço:

O quê: Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
Onde: A  40 km de Januária pela MG-135
Funcionamento: De terça a domingo, das 8h às 18h. A entrada nos atrativos é permitida somente até as 14h, exceto no Arco do André, que tem entrada permitida até as 12h.
Entrada: Gratuita.
Importante: Para acessar os atrativos do parque é necessária a contratação de condutor.
Mais informações: Acesse Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
Agendamento prévio da visita: pelo e-mail cavernas.peruacu@icmbio.gov.br
Guia e condutores: Acesse o Álbum de Condutores.
Preços dos passeios (média de preços): Gruta do Janelão (R$ 250); Lapas do Índio, Bonita, do Boquête e dos Desenhos (R$ 250); Lapas do Carlúcio, do Caboclo e do Rezar (R$ 250); Trilha do Arco do André (R$ 400); R$ 1.000 (para fazer todos os roteiros).

Como chegar: A Azul tem voos regulares de BH para Montes Claros, que fica a 200 km da entrada do parque. De BH, pode-se pegar um ônibus da empresa Gontijo para Januária ou Itacarambi.