Depois de uma Espanha autêntica e tradicional em Sevilha, eu e o fotógrafo Edy Fernandes seguimos rumo a Granada, com pit-stop em Córdoba. Provavelmente em nenhuma outra localidade da Andaluzia a influência moura foi tão grande, deixando como herança monumentos espetaculares – Alhambra e a Grande Mesquita-Catedral.

Granada evoca também o poeta e dramaturgo Federico García Lorca: ele viveu na cidade dos 11 anos até a sua morte, aos 38. “Não tem nada em Granada que não se chame Federico García Lorca”, exalta a guia Alejandra, antes mesmo de nosso ônibus penetrar na cidade e vislumbrarmos Sierra Nevada, uma vista que o poeta descreveu como “o panorama montanhoso mais bonito da Europa”.

 

Alhambra

A maioria dos turistas que chegam a Granada está interessada não em conhecer um dos maiores poetas espanhóis, mas sim em vasculhar o monumento mais visitado da Espanha: um magnífico complexo de palácios, torres e jardins que podem ser avistados de diversos pontos da cidade – o lugar ideal para contemplá-lo é o miradouro San Nicolás.

A fortaleza circundada por muralhas avermelhadas foi a última a tombar na Europa – em 1492, os reis católicos Fernando II e Isabel conquistaram Granada, a última parte da península Ibérica que continuava sob o domínio dos árabes, que foram mandados de volta a Marrocos.

Alhambra foi erguida para os sentidos. O complexo deve sua beleza a um método usado pelos mouros nas construções. Primeiro eles combinaram as diferentes pedras de tal forma que a cor e a textura naturais delas produzissem efeitos de harmonia, proporção e simplicidade, depois decoraram a obra com desenhos nas paredes e nos tetos.

 

As paredes falam

Foi assim que eles deixaram entalhadas nas paredes suas marcas, em desenhos que são obras de arte, escritas dignas do trabalho de um artesão. “Essas paredes falam”, comenta a guia ??, apontando para um rodapé com trechos do Alcorão. Tudo em tons claros, até que surgem o vermelho, o azul, o amarelo, algo inusitado nas construções árabes.

Outro detalhe é o sistema de distribuição de água. Conduzida de nascentes por aquedutos, a água, símbolo de vida para o muçulmano, foi desviada de um rio e jorra abundante por pátios, jardins e canais no interior dos palacetes, como no fantástico Pátio dos Leões. Suas arcadas em perfeitas proporções e colunas finas circundam a fonte sustentada por 12 leões de mármore.

Para visitar Alhambra, é preciso uma tarde inteira, e à noite o efeito é outro. O complexo se divide em três áreas: a fortaleza de Alcazaba e o Palácio de Carlos V, com suas torres e jardins; os palácios Nasrida (“Nazaríes”, em espanhol) e o Generalife, casa de campo e jardim mouros. Recomenda-se comprar o ingresso com antecedência para não enfrentar as grandes filas.

Para saber mais, acesse o site oficial de Granada: en.granadatur.com.


 

García Lorca

Atrás dos passos do escritor pela cidade

O poeta e dramaturgo Federico García Lorca, autor de “Bodas de Sangue” (1933), “Yerma” (1934) e “A Casa de Bernarda Alba” (1936), gostava de proclamar que era granadino. “Eu gosto de Granada com delírio”, escreveu ao amigo Melchor Fernández Almagro em 1924. Granada está para Lorca assim como Barcelona para Gaudí, Málaga para Picasso e Sevilha para Murillo.

No livro de contos “Como Canta uma Cidade de Novembro a Novembro”, ele descreve Granada por meio das estações do ano. “Como uma criança que mostra cheia de assombro a sua mãe vestida de cor viva para uma festa, assim quero lhes mostrar a minha cidade natal, a cidade de Granada...”

Lorca pode ser encontrado em diversos pontos da cidade, como nos jardins de Carmen de los Mártires, a igreja de Santa Maria, de onde saiu um dia como penitente, o eremitério de San Miguel, um de seus lugares favoritos, e o Hotel Reina Cristina, antiga casa do poeta Luis Rosales e último refúgio antes de ser fuzilado, em 18 de agosto de 1936, pelas tropas franquistas.

Há, ainda, a Huerta de San Vicente, no Parque Lorca, a casa de verão da família, entre 1926 e 1936, onde escreveu a tragédia rural “Bodas de Sangue”, a imprensa da rua Mesones, local da editora Ventura Traveset, que publicou o primeiro livro do poeta, em 1918, e Acera del Casino, onde se situava a segunda residência da família, junto à Porta Real de Granada.

 

Museus

Em frente à catedral, onde está enterrada Maria Pineda Muñoz – a heroína liberalista que inspirou Lorca a escrever a peça homônima, em 1925 –, está o Centro Cultural Federico García Lorca, que, além de projetar a história da família, funciona como centro de estudo e divulgação da obra do escritor, que morou em Granada por 27 anos.

Mas é na casinha branca, de dois andares, da Huerta San Vicente que se pode sentir Lorca de verdade: a cama de solteiro, a escrivaninha, a máquina de escrever, os discos... Lorca amava música – em 1922, ele e o amigo e compositor Manuel de Falla organizaram a primeira competição de flamenco em Alhambra. Até hoje a fortaleza realiza o Festival Internacional de Música e Dança de Granada.

Albaicin

Juderia

De Alhambra desça para o bairro de Albaicín, que foi o coração da Granada em tons árabes, com suas ruelas estreitas, casas pintadas de branco e jardins – no passado, o bairro chegou a ter 30 mesquitas, hoje transformadas em igrejas. De lá se alcança ainda outro mirante, San Miguel. Não se deve sair de Albaicín sem fazer um ritual local de séculos: tomar um chá árabe em uma das teterías, como Abaco Té, ou almoçar no pequeno e acolhedor Papas Elvira, na Calle Elvira, a rua mais vibrante e colorida de Granada.

Catedral

Centro. No coração da cidade, o arquiteto Diego de Siloé levantou uma catedral renascentista sob um traçado gótico. Entre os destaques, a porta do Perdão, a Capela Real, com os túmulos dos reis Fernando II e Isabel, o retábulo da Virgen de la Antigua e um museu. Ao sair da igreja, passe pela Alcaicería, antigo souk árabe, para comprar o suvenir local, o fajalauza de barro

 

SERVIÇO

Quem leva

Operadora: Bauer Turismo

Inf.: (31) 3226-7874 ou bauerturismo.com

Pacote: Inclui oito dias de viagem com café da manhã, guia, traslados, transporte em ônibus turismo, visitas a Madri, Mérida, Sevilha, Córdoba e Granada, seguro, passeio noturno em Madri e entrada em Alhambra. Aéreo sob consulta.

Preço. A partir de 675 euros (em hotéis categoria 3 estrelas) e a partir de 770 euros (hotéis 4 estrelas)

Saídas. 6, 13, 20 e 27/7; 3, 10, 17, 24 e 31/08; 7, 14, 21 e 28/9; 5, 12, 19 e 26/10; 2, 9 e 23/11; 7, 21 e 28/12

 

Saiba mais

Onde se hospedar

Catalonia Gramado. Av. de Madrid, 10. Diárias a partir de 77 euros por pessoa em apartamento duplo. cataloniahotels.com/es/hotel/catalonia-granada.

 

Onde comer

Abaco Té. Calle Álamo del Marqués, 5. Chás a partir de 2,50 euros. A comida varia de tapas e crepes a fondues, saladas e sanduíches a partir de 3 euros. abacote.com/en.

Meknes Rahna. Calle Caldereria Nueva, 25. Casa de chá com decoração típica. Chás a partir de 2,50 euros e narguilé a 10 euros.

 

Papas Elvira. Calle Elvira, 9. Restaurante de estilo árabe, oferece batatas grelhadas, pita de falafel com homus, tortilla espanhola, torta de espinafre, torta de tofu e muito mais, a partir de 3 euros. facebook.com/ papaselvira.