O Sebrae Minas lançou na semana passada a rota de cicloturismo Bahia-Minas. Um grupo de dez ciclistas “pilotaram” suas bikes durante cinco dias de Araçuaí a Carlos Chagas, no Vale do Mucuri, num percurso de aproximadamente 340 km seguindo os antigos trilhos da antiga linha férrea que transportava as madeiras do Vale do Jequitinhonha ao Sul da Bahia.
A linha, à qual os moradores referem-se carinhosamente como “Baiminas”, foi inaugurada em 1881 e desativada em 1966 e conectava a cidade mineira a Ponta de Areia, o porto baiano do distrito de Caravelas. Em seu auge, entre 1935 e 1944, os vagões chegaram a transportar em torno de 174.161 toneladas de carga e cerca de 370 mil passageiros. O abandono da estação inspirou os parceiros Fernando Brant e Milton Nascimento a compor a música que leva o nome do porto.
A estrada de Ferro Bahia-Minas deixou de ser verso para ser agora cenário de uma nova rota turística. Os novos viajantes vão resgatar as memórias da antiga estrada de ferro através das pedaladas. O percurso, autoguiado, que pode ser feito também a pé ou de carro, passa por seis cidades – Araçuaí, Novo Cruzeiro, Ladainha, Poté, Teófilo Otoni e Carlos Chagas –, todas parceiras, ao lado do Sebrae Minas e de outras instituições, na rota.
Projeto
O projeto começou há cerca de dois anos, explica Jeferson Batalha, analista do Sebrae, com o diagnóstico e o mapeamento dos atrativos, a capacitação da comunidade e dos receptivos locais e a testagem do percurso. Também foi realizado um trabalho de governança para tornar a rota autossustentável. “Hoje, empreendedores, como locadoras de bikes, bares, restaurantes e fazendas, podem, eles próprios, fazer a gestão da rota”, salienta Batalha.
Para a inauguração da rota, o Sebrae abriu vagas na plataforma Sympla para o 1º Pedal da Rota Bahia-Minas, com número limitado a dez participantes. É o caso de Sebastião Soares, Rocha, 53, eletricitário, que se inscreveu para integrar a equipe que percorrerá a rota até Carlos Chagas. Segundo ele, que é de Araçuaí e pedala há 15 anos, a nova rota vai trazer desenvolvimento para a região. "Quero fazer parte dessa história", frisou.
Experiências
No percurso, os ciclistas encontram pontos de apoio e atrativos ou experiências. “Esse é o primeiro produto da região totalmente estabelecido. Pela primeira vez, vamos fazer um pedal inteiro para conhecer toda a infraestrutura e pontos de apoio. O ciclista vai conhecer a história da ferrovia, degustar a gastronomia local, se hospedar em fazendas ou pousadas, visitar as cachoeiras e se deslumbrar com as paisagens”, descreve Batalha.
A vegetação também muda durante o percurso: da floresta de araucária, numa região seca e quente, ao município de Novo Cruzeiro, com temperaturas amenas, e Ladainha, com Mata Atlântica, experimentam-se novas paisagens. “Estamos numa região de cultura rica. Dos repentistas da Ciranda de Queixada às rodas de viola até um grupo de teatro musical”, conta. Há, ainda, visita a alambiques, à cachaçaria Boralina, a museus e a fazendas seculares.
Autoguiada
Pelo caminho, a cada 30 km, além de túneis e pontilhões, depara-se com os prédios das antigas estações bem-conservados. “Muitos municípios decidiram restaurar as estações por conta da rota”, conta Batalha. “Queremos mostrar todo esse potencial e também dar um novo propósito para as pessoas que ali vivem”, acrescenta. É o caso de dona Neia, que antes saía da região em busca de trabalho e agora recebe os turistas em sua casa, em Ladainha.
A nova rota pode ser percorrida por qualquer pessoa, porque não possui aclives ou declives acentuados. Não exige, portanto, esforço físico. Percorre-se, em média, 50 km a 60 km por dia durante quatro ou cinco dias. O final do trajeto é no município de Carlos Chagas, porque o percurso restante, até Ponta de Areia, em torno de 200 km, é todo asfaltado e não indicado para ciclistas por causa do movimento de carros da rodovia e da falta de segurança.
Para se guiar na Rota Bahia-Minas, o ciclista tem o auxílio do site Rota Bahia-Minas, com informações sobre o trajeto e a possibilidade de agendamento das visitas aos pontos de apoio, entre eles moradores que recebem e hospedam os visitantes. “Tem gente que nunca tinha recebido em sua propriedade e criou um novo negócio, uma renda”, pontua Batalha. Há, ainda, a opção de contratar um pacote com o receptivo Trilhas (@trilhasevento), ao custo de R$ 1.800 por pessoa.
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