O Peru tem Machu Picchu, o México tem Chichén Itzá. E o Brasil? Engana-se – e muito – quem pensa que os povos que habitaram o nosso país antes da chegada dos conquistadores não deixaram marcas por aí. Podemos até não ter pirâmides antigas ou cidades perdidas de pedra, mas temos o maior conjunto de pinturas rupestres das Américas e um Patrimônio da Humanidade segundo a Unesco.
Estou falando, é claro, da serra da Capivara, no interior do Piauí. Estudada por arqueólogos desde a década de 70, essa área foi transformada em Parque Nacional alguns anos mais tarde. A organização do Parque Serra da Capivara impressiona: são mais de 200 sítios arqueológicos abertos ao público, alguns deles com acesso para cadeirantes.
As teorias levantadas por alguns dos arqueólogos que realizaram pesquisas na Serra da Capivara oferecem uma nova resposta para a ocupação humana das Américas, empurrando muito para trás a data em que nossos ancestrais teriam chegado a essa parte do globo. Mas nada disso fez com que a serra da Capivara caísse no gosto do turista – apenas 25 mil visitantes passam por ali a cada ano.
Culpa da distância (300 km) até o aeroporto mais próximo com voos comerciais, que fica em Petrolina. Mas também um reflexo do pouco valor que damos para o passado pré-colonial e pré-histórico do Brasil.
Estive na serra da Capivara no primeiro semestre. Após uma semana na região, garanto: a logística da viagem não é das mais complicadas, e a estrutura turística pode não ser perfeita, é verdade, mas passa longe de ser um problema. Por outro lado, as belezas e o valor histórico e cultural da área fazem dessa uma viagem bem diferente e inesquecível pelo Nordeste. Quer ver?
1- Museu do Homem Americano
Primeiro museu da serra da Capivara, ali estão guardados os fósseis humanos encontrados na região. Destaque para o crânio de Zuzu, um dos mais antigos escavados no Brasil, com 10 mil anos, além de múmias e ossadas de diferentes períodos.
2- Museu da Natureza
Um museu de primeira grandeza, novinho e com acervo impressionante – e no meio da Caatinga. Inaugurado em 2018, o Museu da Natureza guarda todos os achados paleontológicos da serra da Capivara. Isso inclui seres da megafauna, como os fósseis de tatus e preguiças-gigantes, do tamanho de carros populares.
3- Boqueirão da Pedra Furada
O ponto alto, o cartão-postal, o tesouro da serra da Capivara. Pense num paredão com mais de mil pinturas rupestres, desenhos que mostram desde cenas de dia a dia, como um beijo, até animais e rituais religiosos. O Boqueirão da Pedra Furada pode ser visitado de dia e à noite, quando uma iluminação especial deixa tudo diferente.
4- Serra Branca dos Maniçobeiros
Todo bom estudante se lembra do Ciclo da Borracha e sabe o impacto que ele teve na Amazônia, onde o látex era retirado das seringueiras. No sertão do Piauí, a busca pela borracha também trouxe sustento para muitas famílias, mas ali o látex era retirado da maniçoba, árvore típica da região. Para extrair o produto, os maniçobeiros passavam meses vivendo em tocas, que eram proteções naturais, tipo grutas, no meio da mata. E muitas dessas tocas já tinham sido habitadas antes, por milhares de anos – e estão até hoje repletas de pinturas rupestres.
5- Toca do Paraguaio
Um sítio arqueológico que chama atenção pela beleza – essa área do sertão um dia foi água, e a correnteza que passava forte por ali deixou suas marcas na rocha. Nessa área, a arqueóloga Niède Guidón encontrou dois sepultamentos humanos que foram datados em 7.000 e 8.500 anos. Pinturas rupestres nos paredões mostram como era o cotidiano do grupo que viveu ali há milhares de anos.
O jornalista Rafael Sette Câmara já esteve em 30 países, mas neste ano está focado em conhecer mais o Brasil. Acompanhe as viagens dele no Instagram @360meridianos.
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