O contexto político e econômico nos Estados Unidos é alarmante. O coronavírus já atingiu quase 2 milhões de pessoas naquele país, ultrapassando a marca de 100 mil mortes. O recuo da atividade econômica baseia as projeções de uma queda histórica do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano neste segundo trimestre. A morte de George Floyd reacende a questão racial na população e desenha um clima de tensão urbana em diversas localidades do país, incluindo a capital federal.
A série de fatores críticos que permeiam a vida dos norte-americanos afeta também a popularidade do presidente Donald Trump. O agregador de dados produzido pela plataforma RealClear indica uma sobreposição de até 10 pontos entre os cidadãos que desaprovam a condução do país pelo atual incumbente frente aos que a aprovam. Importante salientar que esses dados são contextuais e apresentam um retrato do momento, sendo, portanto, reversíveis.
A aposta nessa reversão de popularidade, decisiva no momento pré-eleitoral, tem levado o presidente a adotar estratégias diversas. A primeira delas refere-se à centralidade na condução do combate ao vírus. Embora o gerenciamento do comitê especial da Covid-19 tenha sido atribuído ao vice-presidente, Mike Pence, o chefe do Executivo retomou, nas últimas semanas, a liderança do grupo, contando com o assessoramento direto do médico sanitarista Anthony Fauci.
De volta ao centro das ações de saúde pública no país, Trump adota um discurso cada vez mais forte, ácido e provocativo relativamente à China. Ao acusar as autoridades sanitárias chinesas de negligência, o mandatário norte-americano fala em solicitar compensações financeiras de seu congênere asiático.
A posição externa dos Estados Unidos se torna ainda mais aguda com a declaração do rompimento das relações institucionais com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que, de acordo com Trump, compartilha com os chineses as principais responsabilidades pela pandemia.
Nikki Haley
Ademais, o pré-candidato à reeleição tem buscado estratégias que sejam eficientes no sentido de suprir as lacunas eleitorais do Partido Republicano: há indícios de uma possível troca na chapa presidencial. A potencial formação de uma parceria eleitoral com Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, poderia ser importante para a atração de eleitores tradicionalmente mais ligados aos Democratas, como jovens, mulheres e norte-americanos de origem estrangeira.
Para além do apoio na governabilidade – sobretudo nas relações Executivo-Legislativo –, a figura do vice-presidente apresenta, também, a sua relevância no período pré-eleitoral. Em 2016 a formação da chapa Trump-Pence consolidou a plataforma conservadora que levou o Partido Republicano de volta à Casa Branca. A partir de um perfil moderado e de baixo protagonismo, o atual vice-presidente dos Estados Unidos mantém o seu grande prestígio entre os seus correligionários, sobretudo entre as lideranças do Meio-Oeste e também entre parlamentares republicanos.
Dilema
Diferentemente da decisão de adotar uma postura mais rígida em relação ao contexto da pandemia, o caminho a se seguir na composição da chapa presidencial requer maior melindre. De um lado, uma configuração variada – com Nikki Haley – demonstraria a abertura do presidente ao diálogo com grupos não convencionais. Todavia, manter o atual formato traria uma mensagem de unidade partidária e de confiança nos rumos adotados pela atual gestão presidencial.
O esforço é, sem dúvida, mostrar um presidente que consiga equilibrar força e habilidade política para uma boa condução do país.
Christopher Mendonça é doutor em ciência política e professor de relações internacionais do IBMEC BH