Existem derrotas e derrotas. No início do mês passado, por exemplo, sofremos um sonoro 3 a 0 do Botafogo, no Rio, mas o revés não derrubou tanto nosso time, comissão e torcida quanto agora. Tínhamos dois dígitos de desfalques, tivemos jogador expulso no primeiro tempo, o adversário era superior, jogava em casa, etc etc. Agora é diferente.

A derrota pro Fluminense doeu demais. Ser amplamente dominado pelo nosso próximo adversário na Libertadores, em casa, sem chutar uma bola no gol durante 90 minutos, foi um balde de água fria. É o tipo de jogo que faz a ficha cair. “Vivemos uma crise técnica”, foi a conclusão óbvia do treinador e dos jogadores. E vivemos mesmo. Das brabas.

O problema é que, com a crise técnica, vem a crise de autoestima, de confiança. Esse time já jogou muita bola. Com esse esquema, com esses jogadores, com essas “improvisações” - algumas nem são improvisações, mas não é hora dessa conversa. Eu discordo da lógica de que “é só fazer o simples” que resolve. Jogar no 4-4-2 não vai fazer a gente parar de tomar gol, nem devolver a criatividade ofensiva do time. O buraco é mais embaixo.

Paulinho falou em “time burocrático”, Otávio diagnosticou um “jogo horrível”, Bernard admitiu que pode entregar muito mais. Milito, com semblante de velório, disse que esperava que as classificações nas copas reacendessem o brilho do grupo, mas que não aconteceu. Estamos nas cordas. Não basta mais o Everson fazer milagres. A missão agora é também de Patricio Morales e Michelle Rios - os psicólogos do clube.

Mais do que ajustar a saída de bola, Milito precisa convencer os jogadores de que o modelo de jogo dele é, sim, bem-sucedido. Tá na cara que ele acredita 100% nas suas convicções, mas ele não joga mais. Só ele acreditar não adianta. E convencer nas vitórias é mole, difícil é convencer no auge da crise, como agora. O bom treinador não é aquele que tem boas ideias, e sim aquele que consegue fazer suas peças colocarem as boas ideias em prática.

Mais do que como craque, Hulk tem que voltar como líder, mexendo com esse vestiário. O mesmo vale pro Alonso. Mais do que tocar o dia a dia na Cidade do Galo, Victor tem que saber “mexer o doce” - até porque, acima dele, não existe nenhuma figura capaz de fazer isso, como eu acho que deveria existir.

Sou um otimista por natureza, mas, sinceramente, tá difícil manter o otimismo agora. A boa notícia é que, quando você espera pouco, qualquer coisinha é lucro. Um empate em São Paulo, por exemplo, é goleada. Na última coletiva, Milito disse que é hora de “começar de novo”. Eu, Guilherme Frossard, nesta segunda, dia 26 de agosto de 2024, não consigo identificar onde está esse botão de reset. Boa sorte ao argentino. Tomara que ele encontre.