O que aconteceu na venda de ingressos por parte do Cruzeiro para o clássico da próxima semana, o decisivo duelo contra o Atlético no Mineirão pelas quartas de final da Copa do Brasil, é mais uma prova de que o processo de elitização do futebol segue em curso. Além disso, compromete o crescimento natural do programa Sócio Torcedor, especialmente ao escantear a categoria "Time do Povo", que, embora pague menos, é participativa e sempre esteve presente no processo de comercialização de entradas.
Ninguém aqui está questionando que quem paga mais não mereça benefícios. Mas, para um jogo dessa magnitude, seria fundamental garantir que o maior número possível de sócios, em todas as suas categorias, tivesse a oportunidade de adquirir ingressos. Esse seria o caminho mais justo, principalmente diante da alta demanda gerada por uma partida tão esperada.
De pouco adianta o clube emitir uma nota oficial tentando lavar as mãos, alegando apenas a grande procura como justificativa para a escassez de entradas, inclusive para o público geral. Foi um erro estratégico do Cruzeiro. Se a condução das vendas seguir esse padrão, o programa de sócio precisa ser repensado. Com os olhos ávidos pelo lucro, do jeito que foi feito, quem mais se beneficiou foi o cambista.
É compreensível que muitos tenham uma visão indiferente ou até mesquinha sobre a desigualdade econômica no país. Mas é preciso lembrar que muitos torcedores aderem aos planos mais acessíveis justamente por não terem condições de arcar com valores mais altos, sob o risco de comprometer o orçamento doméstico. E isso é uma equação simples: ir ao jogo não envolve apenas o ingresso, mas também custos com transporte, alimentação e outros gastos.
O futebol já não é mais um esporte das massas. Tornou-se um entretenimento caro, e é claro que parte disso se deve aos altos investimentos exigidos para manter um time competitivo. Mas é preciso garantir um processo mais transparente e justo, para que o torcedor não se sinta lesado. No fim das contas, seja ele do plano Max ou do Time do Povo, todos querem a mesma coisa: o bem do Cruzeiro.