O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, defendeu a importação e a venda direta de arroz pelo governo, após as enchentes no Rio Grande do Sul. A medida vem sendo criticada por entidades representativas da agropecuária, que acusam o Executivo de intervir no mercado.
"Em hipótese alguma o governo quer afrontar os produtores. Agora, o que nós precisamos muito é combater a especulação", disse Fávaro, em uma entrevista à CNN Brasil divulgada na noite de hoje. "Não tem erro na medida, a medida é extremamente correta e necessária."
Ele concordou com argumentos das entidades representativas, que dizem que o Brasil é autossuficiente em arroz. Mas argumentou que 70% produção está concentrada no Rio Grande do Sul, onde a tragédia dificultou o escoamento de bens e encareceu os fretes.
Fávaro também disse que houve um forte movimento de especulação em torno dos preços do arroz, que resultou em aumentos de até 30% nos preços. Com a medida do governo, esses preços podem se normalizar até o fim de junho, segundo o ministro.
Ele também rebateu a crítica de que a medida poderia servir como propaganda para o Executivo. "O preço justo do arroz não é propaganda, é um combate à especulação", afirmou.
O governo decidiu importar até um milhão de toneladas de arroz e vendê-lo diretamente em supermercados e redes de atacado de alimentos do País. O produto será vendido diretamente em um pacote padronizado de dois quilos, com preço máximo de R$ 8 e um rótulo que diz "Arroz importado pelo governo federal" e traz o logotipo da Conab.
Agricultores do Rio Grande do Sul
Fávaro ainda defendeu que é necessário reestruturar as dívidas dos produtores agropecuários gaúchos. Segundo o ministro, antes das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul este ano, o Estado já havia passado por três secas fortes e três outras enchentes.
"Não dá para ter uma simples medida de prorrogar as dívidas deles, nós precisamos reestruturar as dívidas dos produtores gaúchos, nós precisamos criar um plano para que eles possam retomar os investimentos", disse, em uma entrevista à CNN Brasil transmitida na noite de hoje.
De acordo com Fávaro, é necessário que haja um fundo garantidor destinado ao resgate desses produtores. Ele citou como exemplo o Pronampe, um programa nacional lançado em 2020, durante a pandemia de covid-19, com o objetivo de garantir o acesso de micro e pequenas empresas ao crédito.
"Não só o agro, a indústria e o comércio também precisam desse posicionamento do governo, que já começa a acontecer", disse o ministro.
Medidas excepcionais
Fávaro disse que trabalha para que o Plano Safra fique acima de R$ 500 bilhões e defendeu que traga medidas excepcionais para o Rio Grande do Sul. Referiu-se, sobretudo a garantir uma cobertura de seguros maior para os produtores do Estado.
"Eu defendo que todos os produtores gaúchos estejam cobertos em 100%, e por isso precisam de mais recursos para subvenção ao prêmio, porque a seguradora sozinha não vai tomar o risco. Então, a presença do Estado é essencial", afirmou, em uma entrevista à CNN Brasil veiculada hoje.
Fávaro relatou que trata com a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre incrementos nos recursos. Para o seguro rural, por exemplo, ele defendeu um aumento no montante disponível, de R$ 1 bilhão ao ano para algo entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões.
"O ministro Haddad está convencido disso. Desde o ano passado ele está convencido, mas o Orçamento não é um pé de pequi", disse Fávaro. O ministro também defendeu que os recursos de apoio à comercialização atinjam de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões.
Fávaro ainda relatou ter recebido uma sugestão da Comissão de Agricultura da Câmara para que o Rio Grande do Sul seja incluído no Plano de Recuperação de Pastagens Degradadas. Segundo ele, por meio desse plano tem sido possível captar recursos com juros de 1,5% a 2% ao ano, com hedge do governo para que os produtores tenham a dívida em reais, com até cinco anos de carência. (Cícero Cotrim/Estadão)