Adolescentes fazem sexo, e isso é um fato. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que quase um terço dos escolares de 13 a 15 anos dizem ter iniciado a vida sexual. Mais um fato é que adolescentes são suscetíveis a ter infecções sexualmente transmissíveis. A mesma pesquisa destaca que o uso de preservativo caiu cerca de 22% entre eles na década acompanhada pelo estudo. Em cinco anos, de 2018 a 2022, segundo o Ministério da Saúde, foram 11,1 mil diagnósticos de HIV entre brasileiros de 15 a 19 anos e 3.709 de Aids, forma mais avançada da infecção.

Há como aliar uma vida sexual ativa à saúde, mas é necessário ter informação para isso. Além do preservativo, há mais uma forma de proteção segura e gratuita para esses adolescentes em Belo Horizonte: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Com apenas um comprimido por dia ou uma injeção a cada dois meses, diminui-se a chance de infecção pelo HIV a quase zero. Qualquer pessoa sexualmente ativa que tenha exposição ao risco de se infectar é elegível ao tratamento, que só é disponibilizado com indicação médica.

Ele foca especialmente em alguns grupos: homens que fazem sexo com homens, meninas trans, adolescentes não binários designados homens ao nascer e trabalhadores do sexo, desde que tenham mais de 35 kg e a partir de 15 anos. “O mais importante é que, nas diretrizes nacionais, essa pessoa pode procurar a clínica de PrEP sem a presença do pai e da mãe. Isso é muito importante, porque não se fala se PrEP e nem de educação sexual [nas escolas]”, sublinha o infectologista Unaí Tupinambás.

E como funciona a PrEP? Na forma de comprimido, a pessoa ingere dois no primeiro dia de tratamento e, em todos os seguintes, um só. Com recomendação médica, eles também podem ser usados sob demanda, isto é, apenas quando a pessoa for transar. Nesse caso, são dois comprimidos de 24 a duas horas antes da relação sexual e um por dia nos dois dias seguintes a ela.

Hoje, por meio de um estudo que está sendo conduzido em BH (leia mais abaixo), os adolescentes também têm acesso à PrEP injetável. Composta pelo medicamento Cabotegravir de ação prolongada (CAB-LA), a injeção é aplicada uma vez a cada dois meses e protege da mesma forma contra o HIV.

Há três caminhos para o adolescente obter a PrEP gratuitamente na capital:

  • na consulta pelo SUS. O adolescente pode procurar um dos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs) da cidade, onde fará testes rápidos para ISTs e entrará em uma fila de atendimento com um médico para indicação da PrEP. Após a autorização médica, ele passa a retirar os remédios nas Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDMs), sempre mediante apresentação de novos testes rápidos;
  • na consulta particular. Médicos particulares ou de plano de saúde, geralmente infectologistas, podem fornecer o pedido da PrEP ao adolescente, que então retira o medicamento na UDM;
  • no projeto PrEP1519. O adolescente pode se inscrever em um estudo, apoiado pelo Ministério da Saúde, que avalia a efetividade do tratamento nessa faixa etária. É a única forma, por ora, de receber a versão injetável.

PrEP 1519 em BH: saiba como participar

O PrEP 1519 é um estudo promovido pelo Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e por universidades públicas brasileiras, inclusive a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele avalia a eficácia do tratamento entre adolescentes e está com vagas abertas para voluntários.

O participante tem consultas gratuitas e faz testes de IST periodicamente, além de receber os comprimidos da PrEP ou a injeção com o medicamento. Não há critérios socioeconômicos para a inclusão na pesquisa, e pessoas de qualquer classe social podem participar.

“O adolescente é uma diversidade de possibilidades. Há adolescentes com muita experiência sexual, outros sem... Tenho muitos pacientes que não sabem o que é PrEP até hoje. Temos que difundir essa cultura da prevenção”, diz o infectologista Guilherme Varino, um dos profissionais que conduzem o projeto em BH.

Ele lembra que a PrEP não exclui a necessidade do uso de preservativo. Afinal, o medicamento protege somente contra o HIV, e não contra todas as outras ISTs que podem ser contraídas no sexo sem camisinha, como sífilis e gonorreia. “Estimulamos o uso de preservativo e lubrificante e fazemos testes de hepatites B e C, clamídia, gonorreia... Tentamos fazer uma política integral”, detalha o médico.

Para se voluntariar ao projeto, os adolescentes podem procurar o Centro de Referência da Juventude (rua Guaicurus, 50, centro, ao lado da praça da Estação), de segunda a sexta-feira, das 13h30 às 18h. Para conferir se o atendimento está disponível no horário desejado, é possível entrar em contato com o projeto pelo telefone (31) 98114-6025.