Um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) desembarcou no Aeroporto Internacional de Confins na noite desta sexta-feira (7 de janeiro), trazendo 85 brasileiros deportados dos Estados Unidos. A sensação de alívio por estar em solo brasileiro, no entanto, não amenizava o sofrimento vivido em centros de detenção para imigrantes ilegais, nem no voo de volta, em condições definidas como subumanas, principalmente desde a posse de Donald Trump, em janeiro.

“No dia 21, quando Trump assumiu, já mudou tudo. Já não ficávamos dois dias no mesmo lugar. Já não tínhamos mais direitos básicos de, por exemplo, conseguir solicitar a ajuda de agentes em casos de problemas. A gente era mais acolhido no governo anterior, porque a partir do dia 21 a gente já não tinha mais direito nenhum de fala”, relatou João Vitor Batista, de 26 anos. Mineiro de Governador Valadares que passou mais de um mês detido após tentar entrar nos Estados Unidos.

Veja também: Deportados terão hospedagem e cursos gratuitos

Desabafo

Também do Leste mineiro, o empresário Gilmar Mesquita afirmou que imigrantes tem sofrido mais desde que Trump chegou ao poder. “Trump é horrível, está massacrando os imigrantes mesmo. Em uma ala de detenção que cabia 24 pessoas, tinham 60. Nós dormimos por dias no chão. Depois do Trump, o imigrante está sofrendo nos Estados Unidos, quase não dão comida para os imigrantes”, relatou o mineiro que passou quatro meses preso em centros de detenção. 

Repetindo relatos que ouviu de outros imigrantes detidos, Gilmar definiu os policiais da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) como “covardes e mentirosos” pelas técnicas utilizadas para prender pessoas que entraram no país de forma ilegal. “Crianças, idosos… estão pegando todo mundo. Estão entrando em escolas. Algumas pessoas que estavam comigo foram presas em igrejas. É muita covardia”, disse o repatriado.

Voo de volta 

Mesmo com os esforços do governo federal para acolher o grupo de repatriados, o retorno ao Brasil foi marcado pelos maus-tratos sofridos no avião estadunidense. Conforme relatado por membros do grupo que desembarcou em Confins, um brasileiro passou mal durante o voo por não receber uma medicação controlada. Mesmo após desmaiar e bater a cabeça no chão, o homem teria sido mantido algemado.

“Ele caiu de rosto e continuou algemado, a gente precisou causar tumulto para que atendessem eles. Demoraram de 5 a 10 minutos para reanimar ele e uma médica americana que estava no voo demorou muito. Ela só fez esse atendimento e depois sumiu”, disse Gilmar. “Ele estava acorrentado, ficou no chão por pelo menos 20 minutos e depois colocaram ele em uma cadeira e ficaram dando tapa até reanimar”, contou outro repatriado, que preferiu não se identificar. 

Outro ponto destacado pelos brasileiros foi as condições de alimentação no voo de volta ao Brasil, que desembarcou em Fortaleza, no Ceará, antes de chegar a BH. “Passamos fome e além de toda a humilhação, a comida que tinha era toda esculachada. Tinha pão vencido, era desumano”, relatou Maicon Moura, natural de Rondônia, que tentou entrar nos Estados Unidos há três meses. “A comida era horrível. Salame podre, pão velho, chips com malcheirosos que pareciam estragados e a água estava quente”, relembrou Gilmar sobre o retorno.

De volta ao país de origem, apesar do sofrimento, o grupo é unânime na vontade de recomeçar. “O Brasil é bom. O Brasil ama todos os imigrantes. Todo mundo que vem para cá é brasileiro. A gente acolhe, cuida, o que não é a realidade de outros países”, destacou Maicon. “O calor humano é só no Brasil mesmo. Só no nosso país que temos uma recepção calorosa como essa”, completou João, que ao ser questionado sobre a possibilidade de ser feliz no Brasil, abriu um sorriso ao dizer: “dá, com certeza, dá”.