Dois anos desempregada cuidando dos filhos e do marido foram o suficiente para que Silvana Beatriz voltasse a considerar retornar ao trabalho. “Sempre gostei da minha independência, de ser ativa, ter meu dinheiro. Então, assim que pude voltar ao mercado, não desperdicei a chance”, conta ela, que hoje tem 63 anos e aos 56 foi contratada como orientadora social na Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais. De acordo com Silvana, a experiência de mais de 13 anos no mercado da orientação social foi algo definitivo na contratação.
“Consigo manter boa interação com os grupos de apoio que oriento. Uso minha experiência para entender melhor crianças, adolescentes e idosos”, afirma a moradora de Belo Horizonte. Além disso, a orientadora reforça os benefícios: “Eu me sinto como uma referência por ser mais madura. Para mim, é maravilhoso ter uma rotina, um salário e a chance constante de aprender e ensinar”.
O retorno de Silvana ao mercado reflete um movimento crescente verificado no país. De janeiro a outubro de 2024, as contratações de pessoas entre 50 e 59 anos cresceram 133% frente ao mesmo período de 2023 – de 23.889 para 55.836 admissões, conforme o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
O cenário pode ser ainda mais promissor, pois tem muita gente nessa faixa etária querendo trabalhar, segundo o Banco Nacional de Empregos. Minas Gerais foi o quarto Estado com o maior número de pesquisas por oportunidades para quem tem 50 anos ou mais – foram 48.975 em 2024.
A valorização da experiência é um dos motivos para esse crescimento, segundo a pesquisadora Janaína Feijó, da área de economia aplicada da FGV Ibre: “Passamos por aquecimento no mercado de trabalho, com alta demanda por mão de obra qualificada. Profissionais com mais de 50 anos, que têm formação e vivência, acabam ocupando esses espaços com mais facilidade”.
Foi o que ocorreu com Arnaldo Floriano da Silva, que se aposentou aos 62 anos e resolveu voltar ao trabalho aos 64, como vendedor na Loja Elétrica, em BH. “Manifestei interesse de trabalhar, mostrei tudo que sabia, e eles enxergaram meu valor”, lembra ele, que passou a ocupar a vaga há cinco meses.
Fred Magno /O Tempo
Floriano destaca que, além de a idade ter se tornado aliada na busca pelo trabalho, outro diferencial foi a preferência de alguns consumidores por vendedores mais experientes: “Tem cliente que até prefere um cara mais velho, por questão de experiência, né? Já rola aquela confiança”.
Serviços é o setor que mais admite
No setor de serviços, o que mais contratou pessoas de 50 a 64 anos em 2024 em BH no ano passado, houve 33.076 admissões, 8% a mais que as 30.623 de 2023, de acordo com o Caged, feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Os outros setores de BH com mais admissões em 2024 foram comércio, com 4.689, 84,15% mais que as 2.546 de 2023; e construção, com 2.549, 74,93% a mais que os 1.457 do ano anterior
Janaína Feijó, pesquisadora da área de economia aplicada do FGV Ibre, explica que o setor de serviços é o alicerce da economia nacional: “A nossa economia é majoritariamente de serviços. Mais de 70% do nosso PIB vem deste setor. Quando a economia vai bem, o setor de serviços acaba absorvendo mais mão de obra”.
Em Minas, nos últimos 12 anos, a taxa de participação de pessoas entre 50 e 59 anos na força de trabalho só cresceu, passando de 65%, em 2012, para 70%, em 2024.
Mais jovens se demitem mais
No grupo etário de 18 a 24 anos, 1.905.103 pediram demissão de janeiro a setembro de 2024, enquanto no grupo de 40+ a decisão foi tomada por apenas 1.513.058 – 25,91% menos. “Como eles (os jovens) procuram mais flexibilidade, acabam abrindo espaço para as pessoas mais capacitadas, que arcam com jornadas menos flexíveis”, explica Janaína Feijó, pesquisadora da FGV.