Nesta quinta-feira (26) é comemorado o Dia Nacional do Diabetes. A data, instituída pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é marcada pela conscientização e prevenção contra a doença que atinge cerca de 830 milhões de pessoas no mundo todo. De acordo com a OMS, a maioria dos pacientes vive em países de baixa e média renda.
Segundo a médica endocrinologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes em Minas Gerais (SBE-MG), Silvana Pinheiro Neiva, acredita-se que uma parte da população que vive com a doença desconhece o diagnóstico. “Existem relatos de que até 40% dessas pessoas não sabem do seu diagnóstico, mas a prevalência exata e correta desses pacientes no Brasil não é algo concreto”, conta.
O que é diabetes
O diabetes mellitus é uma doença metabólica crônica causada por problemas na produção e/ou na ação da insulina, hormônio responsável por controlar o açúcar no sangue. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, cerca de 20 milhões de brasileiros vivem com a doença. Tendo isso em vista, é importante ficar atento aos sinais do diabetes, para que complicações futuras sejam evitadas.
Sintomas e tratamento do diabetes
De acordo com Bruna Galvão, médica endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional Minas Gerais (SBEM-MG), os sintomas mais comuns em todos os tipos da doença são conhecidos como os 4 Ps: polidipsia (sede), poliúria (vontade frequente de urinar), polifagia (fome) e perda de peso sem explicação.
No entanto, é importante ressaltar que uma grande parte dos pacientes não apresentam sintomas no início da doença.
A médica, que também atua como coordenadora da endocrinologia do Hospital Felício Rocho, ressalta que cada tipo de diabetes possui uma forma de tratamento. O tipo 2, por exemplo, necessita de uma mudança no estilo de vida, uso medicamentos orais e/ou injetáveis. No diabetes gestacional é necessário ter uma alimentação controlada, adotar exercícios leves e, em alguns casos, usar insulina. Já no tipo 1 é necessário o uso de insulina, monitoramento constante da glicemia, dieta adequada e exercício físico. Em alguns casos, é indicado também o uso de bombas de insulina.
Veja as diferenças entre os tipos de diabetes
Diabetes tipo 1
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que destrói as células pancreáticas produtoras de insulina, sendo mais comum na infância ou adolescência. O tratamento necessariamente é feito com insulina, e a pessoa depende do medicamento durante toda a vida. Esse tipo de diabetes não tem relação com estilo de vida.
Diabetes tipo 2
O diabetes tipo 2 tem causa multifatorial e relaciona-se com resistência à insulina, além de produção insuficiente da insulina. O tratamento baseia-se em alimentação saudável, com controle da ingestão de carboidratos, além de prática de exercícios físicos e medicamentos orais e, às vezes, injetáveis.
A obesidade, o sedentarismo e o histórico familiar são fatores de risco para desenvolver o tipo 2. Em alguns casos, a doença pode ser revertida, mas não é considerada uma cura definitiva, pois o diabetes pode voltar, por exemplo, com o ganho de peso.
Diabetes gestacional
O diabetes gestacional é causado por alterações hormonais durante a gravidez e aumenta o risco de se desenvolver diabetes tipo 2 no futuro. Pode desaparecer após o parto, mas exige acompanhamento.
Exames necessários
Silvana Neiva, que também é delegada da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso-MG) e professora da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, conta que, com o aumento de pessoas com obesidade, há uma tendência de alta do diabetes tipo 2. Por isso, orienta ela, é importante realizar exames para rastrear a doença. “A gente faz a glicemia de jejum, a hemoglobina glicada e o teste de tolerância oral à glicose, que pode ser feito com uma ou duas horas. Não há necessidade de fazer nenhum exame além desses para o rastreamento e diagnóstico de diabetes”, relata.
A médica alerta que os exames para detectar o diabetes tipo 2 devem ser feitos em adultos assintomáticos acima de 35 anos ou, abaixo desta idade, em quem possua mais de um fator de risco para a doença, por exemplo, histórico familiar da doença, síndrome do ovário policístico e exame HDL abaixo de 35. Além, também, de pessoas que tiveram diabetes gestacional.
Periodicidade de exames no pré-diabetes
Para uma pessoa que possui pré-diabetes já estabelecido, é recomendado que os exames sejam repetidos a cada 6 ou 12 meses. Caso haja fatores de risco, Silvana Neiva ressalta que é recomendado realizar o exame a cada 6 meses.
Periodicidade de exames quando há predisposição genética
Para pessoas com predisposição genética, como filhos ou netos de pessoas que vivem com o diabetes, é importante iniciar o rastreamento a partir dos 35 anos de idade. Essa recomendação vale também para aqueles que são assintomáticos e não possuem alteração em nenhum exame.
A indicação é repetir a cada 3 anos caso não haja alteração no resultado. Silvana Neiva explica ainda que, se a pessoa vive com obesidade, sobrepeso ou outras doenças cardiovasculares, esse rastreamento deve ser feito anualmente.
Periodicidade de exames quando não há predisposição genética nem fator de risco
A recomendação para pessoas que não possuem predisposição ou fator de risco é que a partir dos 35 anos os exames sejam realizados a cada 3 anos. Caso surjam fatores de risco, essa recomendação pode mudar.
Complicações do diabetes
- Caso não haja um tratamento adequado, a doença pode ter complicações graves. Entre elas estão:
- Retinopatia diabética: problemas na retina, podendo causar cegueira;
- Nefropatia diabética: comprometimento dos rins, podendo causar insuficiência renal com necessidade de diálise;
- Neuropatia diabética: danos nos nervos, causando dor, formigamento e perda de sensibilidade;
- Pé diabético: feridas e infecções que podem levar à amputação do membro.
Diabetes no Brasil e no mundo
Segundo o DataSUS, entre 2012 e 2022, cerca de 719 mil mortes por complicações agudas do diabetes ocorreram no Brasil. As principais causas de mortalidade entre pacientes que vivem com diabetes são as doenças cardiovasculares, normalmente acompanhadas de hipertensão arterial sistêmica e também de doença renal crônica. Então, segundo Silvana Pinheiro Neiva, analisando tanto as complicações diretas do diabetes como as doenças associadas, ela está entre as cinco principais causas de mortalidade no mundo.
Ozempic
O Ozempic (semaglutida), também conhecido como “caneta emagrecedora”, é um dos remédios que podem ser utilizados para o tratamento do diabetes tipo 2. Em abril deste ano, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um controle mais rigoroso na prescrição e na dispensação do medicamento. A medida começou a valer na última segunda-feira (23).
De acordo com o Ministério da Saúde, essa medida teve como objetivo proteger a saúde da população brasileira, especialmente pelo elevado número de eventos adversos relacionados ao uso desses medicamentos fora das indicações aprovadas pela Anvisa.
Com a decisão, a prescrição médica deve ter duas cópias idênticas e a venda só poderá ocorrer com a retenção da receita na farmácia ou drogaria, assim como acontece com os antibióticos. Além disso, a validade das receitas é de até 90 dias a partir da data de emissão.
O produto inicialmente foi aprovado para ser usado como auxiliar à dieta e exercícios, em monoterapias, quando o antidiabético metformina for considerado inapropriado para o paciente, devido à intolerância ou contraindicações. Além de ser usado somado a outros medicamentos para o tratamento do diabetes.
* Estagiária sob supervisão de Atualidades