Desde que as redes sociais se multiplicaram e a tecnologia avançou de forma exponencial, o volume de informações que chegam aos usuários das plataformas é cada vez maior. O problema é que esse “pipocar” de informações que passam em textos ou vídeos, geralmente em timelines infinitas, deixam o ser humano cada vez mais cansado, estressado e ansioso. O resultado é a síndrome da sobrecarga de informações, conhecida pela terminologia de infobesidade.

O termo não é tão recente, em meados de 2012 já se falava em infobesidade, mas o assunto voltou a ter destaque recentemente, após o boom da presença digital durante a pandemia da Covid-19. Traduzido do inglês “infobesity” ou “information overload”, infobesidade é definida pelo dicionário de Cambridge como “uma situação em que você recebe muita informação de uma só vez e não consegue pensar nela de forma clara”.

Na década de 90, o físico espanhol Alfons Cornellá já havia cunhado o termo infoxicação, resultado da soma das palavras informação e intoxicação, para se referir ao excesso de conteúdos que o ser humano recebe todos os dias sem que possa ter tempo para absorvê-los de forma clara. O resultado: estresse, ansiedade e dificuldade de se concentrar.

A infobesidade é também uma das consequências de um outro termo recente: a infodemia. De acordo com a OMS, o surto de Covid-19 foi acompanhado por uma enorme infodemia, ou seja, um excesso de informações que tornaram difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis. A infodemia pode ser definida pelo aumento no volume de informações relacionadas a um tema específico, multiplicando-se exponencialmente em pouco tempo - exatamente como aconteceu com a Covid. 

“A infobesidade é o excesso de informações que consumimos diariamente, similar à obesidade alimentar. Assim como comer demais sobrecarrega o sistema digestivo, o excesso de dados sobrecarrega nosso cérebro”, explica o médico neurologista Ricardo Dornas. “O termo descreve nossa dificuldade em processar o volume gigantesco de informações digitais - são cerca de 34 GB de dados por pessoa diariamente, segundo estudos da Universidade da Califórnia. É como tentar beber água de uma mangueira de incêndio: impossível absorver tudo adequadamente”, compara.

De acordo com o especialista, o excesso de informações afeta principalmente três áreas cerebrais: o córtex pré-frontal (responsável pela atenção), o hipocampo (memória) e o sistema límbico (emoções). Isso significa que a nossa "central de comando" fica sobrecarregada, tentando filtrar informações relevantes, nossos padrões de atenção ficam prejudicados - especialmente a capacidade de foco profundo e sustentado - e a capacidade de formar memórias duradouras é afetada - fazendo-nos lembrar apenas superficialmente de muitas coisas.

“Neurologicamente, observamos redução na substância cinzenta em áreas de controle cognitivo e aumento da atividade na amígdala, centro do medo, mantendo-nos em estado de alerta constante. É como um computador ou smartphone com muitas abas abertas e vários aplicativos rodando ao mesmo tempo. Ele fica lento, trava e a bateria acaba rapidamente, sem conseguir processar as informações de forma eficiente”, compara Ricardo Dornas.

Quais são os sintomas da infobesidade?

Quando se está imerso no excesso de informações, o corpo dá sinais claros, no entanto, é comum o ser humano ignorá-los ou acreditar que estão relacionados a outros problemas. 

“Dificuldade de concentração, sensação de ‘mente cheia’, fadiga mental mesmo sem esforço físico, irritabilidade aumentada e problemas de sono. Muitos pacientes relatam a sensação de ‘não conseguir desligar a cabeça’”, enumera Ricardo. 

A psiquiatra Cintia Braga acrescenta outros sintomas: “às vezes a pessoa não consegue iniciar o sono, às vezes não consegue manter, ou então acorda cansado, a concentração vai embora, a memória também, a pessoa às vezes abre um e-mail, aí vai ver tem três mensagens no WhatsApp, ela começa a responder uma, lembra de outra coisa e quando percebe, está pulando de galho em galho, sem terminar nada”, exemplifica. Ela cita ainda sintomas físicos, como ansiedade, dor de cabeça e tensão, principalmente no pescoço. “São sinais de que a gente pode estar tentando absorver mais do que a gente dá conta”, diz.

“Um sinal revelador é a ‘fadiga de decisão’, ou seja, ficar exausto mentalmente após escolhas simples, como o que assistir na Netflix. É o cérebro pedindo uma pausa do bombardeio constante de informações”, pontua Ricardo. 

O que fazer para evitar a infobesidade?

A psicóloga Maria Adelaide Ribeiro indica que uma das formas de escapar do volume de informações é filtrar o conteúdo que consome. “A palavra-chave seria filtrar. Considerar se aquela informação é válida, se vai trazer algum benefício, algum conhecimento, ajudar, agregar”, diz. “É importante filtrar algumas informações, até mesmo para que isso não venha desencadear uma ansiedade ou perda de tempo com alguns conteúdos que são irrelevantes”.

Já o neurologista Ricardo Dornas sugere a "dieta informacional", ou seja, escolher fontes confiáveis e limitar-se a duas ou três por tema. “Ative notificações apenas para o essencial”, orienta. Ele acrescenta ainda a criação de rituais de desconexão, como desligar dispositivos uma hora antes de dormir. “Exercício físico é fundamental, apenas 30 minutos de caminhada aumentam a neurogênese no hipocampo. Meditação mindfulness, mesmo dez minutos diários, fortalece o córtex pré-frontal. Sono de qualidade, de 7 a 9 horas, permite que o cérebro ‘limpe’ toxinas acumuladas durante o dia”, propõe.

“Fugir da informação é quase impossível hoje, né? Principalmente para quem trabalha com isso, como social media, jornalista, criador de conteúdo e tal. Mas a gente precisa criar alguns momentos de descanso, sair do digital e voltar para o analógico. Fazer pausas reais ao longo do dia, sair da tela, olhar para a janela, conversar com gente de verdade, respirar”, pontua Cintia Braga.

Mundo de informações também impacta marcas

O excesso de conteúdos disponibilizados na rede também impacta marcas que usam redes sociais como meio para divulgar seus produtos ou serviços. E justamente pela falta de absorção de conteúdos em profundidade pelos usuários muitas marcas acabam passando despercebidas. 

Para Thiago Muniz, CEO da Receita Previsível e professor da UFV, é comum que as marcas copiem as estratégias de marketing, mas isso pode não dar certo. “Uma coisa que muitas vezes as marcas negligenciam é a voz da marca. Não adianta copiar uma estratégia que não cabe no seu tom de voz”, salienta.

Além de ter autenticidade no conteúdo, a marca, segundo Thiago, precisa ter constância, ou seja, aparecer com frequência para seu público-alvo. “A gente está vivendo num cassino cognitivo. Então, cada vez que eu publicar mais anúncios em pouco espaço de tempo, mesmo que a saturação do algoritmo seja grande, a minha marca estará sempre aparecendo”, afirma. “Para uma grande marca, é muito palpável operacionalizar isso. Agora uma média e pequena empresa precisa ter uma disciplina de produzir conteúdo de forma frequente para que esse problema não aconteça”, diz.

Outra dica dada por Thiago é usar as redes com sabedoria e estar em locais estratégicos.  “A segunda grande dica é você tentar sempre apostar primeiro em dois canais prioritários. Um canal em que sua audiência já está muito bem disseminada, e um canal de vanguarda, que está em crescimento. E você ter essas duas estratégias faz com com que você não fique refém do algoritmo”, sugere.